Capítulo 6 - O Estranho

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Ao sair da casa dos Roger's, Mia havia chorado mais um pouco enquanto encarava o ferro velho. O aperto em seu peito se intensificou mais ainda, olhava para a grande garagem com saudades daquilo nunca mais iria voltar.

Em algum momento sentíamos saudades dos momentos que nunca mudam, mesmo que a nossa realidade mude, mesmo que as pessoas mudem, os momentos não. Por isso que somos tão agarrados às memórias, não era diferente para Mia, isso era o que se passava em seu interior.

Mia juntou forças limpando as lágrimas com o dorso da mão, ela se encaminhou com as coordenadas dada por Paul para a casa da Hawkins, confiante de que a amiga estaria lá para recebê-la. Ela sabia que Jessy estaria quebrada, tanto quanto ela, ainda mais por saber que a amiga era tão sensível.

O semblante de decepção, Mia jamais iria esquecer, a dor e o sofrimento da melhor amiga era mais do que palpável, ela desejou estar perto ao mesmo tempo que recebeu a notícia, mas ela nunca quebrava promessas.

Assim que dobrou a esquina uma ventania forte cruzou com a jovem, ela apertou o sobretudo em seu corpo abraçando a si mesma enquanto se esforçava para enxergar a rua arborizada por árvores que formavam um arco por cima, dando a visão de uma passarela. Era bonito de se ver, quando o vento acalmou, no fim da rua enxergou a casa cinza medieval com branco.

Engoliu em seco por um momento encarando a bela casa, imaginando o que poderia se passar lá dentro, ainda estava um pouco longe, e apesar dos passos largos e decisivos Mia sentia medo do que estava por vir, sabia que precisava ajudar seus amigos agora mais do que nunca.

Assim que chegou diante da varanda na entrada, sentiu um fio de medo percorrer por seu corpo, ignorando ela tocou a campainha e deu um passo para trás ansiosa enquanto aguardava ser atendida. Respirou fundo e esperou mais alguns minutos, novamente tocou a campainha e tentou olhar pela janela mas estavam todas fechadas e cobertas pela cortina cor creme, não dava pra ver absolutamente nada, seguida mais uma vez com a insistência, Mia soltou uma respiração pesada, seus ombros murcharam e a tristeza a invadiu mais ainda.

Mia se virou olhando para os lados em busca de alguma pessoa que pudesse dar notícias sobre Jessy, mas não havia ninguém, parecia uma cidade fantasma, um seriado de filme de terror, embora ela não iria achar ruim, sempre gostou dessas coisas, mas não era momento para aquilo.

Desceu os degraus da entrada, olhando para trás mais uma vez, um fio de esperança ainda pulsando em seu coração. O eco dos seus passos parecia um lembrete do que estava prestes a deixar para trás. Apertou os lábios, segurando a respiração enquanto sentia a necessidade de fazer algo mais. Não podia simplesmente ir embora sem tentar se conectar com Jessy.

Retirou da bolsa o pequeno bloco de notas, aquele que sempre carregava para anotar pensamentos e sentimentos quando não tivesse com seu diário. Com o lápis de olho, começou a escrever com cuidado, cada letra se formando como um sussurro de esperança.

"Eu estou aqui, Jessy. Me ligue.
Mia. 5847".

Com um leve tremor nas mãos, ela enfiou o bilhete por baixo da porta, como se estivesse deixando uma parte dela ali. Após fazer isso, guardou seus utensílios de volta na bolsa, um gesto automático que contrastava com a tempestade de emoções dentro dela.

Sabia que deveria partir para o segundo item da sua lista inútil - parecia um tanto contraditório tentar encontrar o Aurora Bar, afinal não encontrou a irmã do dono, e mal sabe se ele está preso ou não. O dia estava ótimo, e não havia nada mais a se fazer do que seguir com seus objetivos, abriu novamente o GPS e se localizou decisiva.

•••

Parada diante do Aurora bar, em tons pretos e madeira escura, Mia admirava pelo lado de fora a maneira como Phil conseguiu modernizar o espaço sem perder os traços rústicos que lhe davam charme. A fachada, com suas linhas elegantes e discretas, era um convite sutil para entrar. As grandes janelas de vidro refletiam a luz suave da manhã embora estivesse nublado, criando um jogo de sombras que realçava a beleza do design, além das luminárias antigas pelo lado de fora que deixava tudo com um toque único.

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