capitulo dois.

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Passando por um o viaduto, bem onde Chanyeol costumava chamar de "a quase periferia de Incheon", havia uma ex, ou melhor, uma quase construção histórica com todos os pré-requisitos necessários para se enquadrar como segunda definição possível da palavra abandono.

Ela foi alguma coisa relacionada à arte no passado, mas que agora ninguém lembrava direito e nem dava muita importância.

O prédio inteiro era azul turquesa, ou pelo menos essa tinha sido a intenção quando ele foi pintado em mil novecentos e lá vai caceta. Não tinha letreiro, mas todo mundo que aparecia ali chamava aquilo de Coliseu.

E ninguém inteligente aparecia no Coliseu sem necessidade.

No exterior a tinta havia descascado até o reboco; deixando vários pedaços da parede de tijolos à mostra para anos de relento que só pioraram o serviço.

Cada centímetro quadrado daquela estrutura era coberto por garranchos de pichações vermelho sangue e preto escuro, com todo o tipo de mensagem diferente. O "A" do Anarquismo "Viva ao comunismo" "Salve Che Guevara" Ou "Tirem as mãos da Venezuela". E até "Eu odeio chocolate amargo" Essa era a que Chanyeol mais gostava.

Sim, o lado de fora era péssimo. Mas o interior era pior ainda. O maldito do Coliseu era enorme, e tinha janelas pequenas, tão pequenas que alguém decidiu que seria muito mais útil cobrir o vidro com papelão e madeira do que custear a existência delas.

O lado de dentro era escuro e a pouca luz que tinha era indomável e amarela, pareciam chamas. E piscavam o tempo inteiro.

Kim Minseok era o dono, ou melhor o "chefão" dali. E o cara que transformou o Lugar no que ele era agora: O Bar mais classe baixa da cidade.

Chanyeol não evitou torcer a cara em desgosto. Não, não, aquilo era muito pior que classe baixa. Aquilo era o recanto mais imundo possível pra bebida, pôquer e luta de boxe clandestina.

Porque se você acha que o escuro não tem cheiro, lá dentro com certeza ele tinha. O Coliseu era uma mistura de muitos odores e nenhum deles era bom. Álcool, suor e ferrugem.

E adivinhem só... Tabaco, com verniz. Era sujo, nojento, daquele tipo de sujeira que está grudada fundo demais no chão e nas paredes para ser limpa. Uma sujeira que já faz parte da estrutura, então os integrantes só fazem vista grossa e limpam por cima.

No centro, montado para lembrar um palco, havia um ringue amplo ladeado por cerca de aço, e rangendo bem acima dele, o holofote.

Que não era nada mais do que uma lanterna de luz branca pendurada no teto mas mesmo assim ela era tão forte que causava pontos pretos na vista de quem cometesse o erro de olhar diretamente pra ela.

Pelo ângulo do holofote, a claridade impede que os lutadores vejam muito além da cerca. Tudo fora do palco vira breu, um breu que tem voz e grita na maior parte do tempo.

Isso porque ao redor do ringue, ficavam as arquibancadas. Lotadas ou não, a falação era alta. E sempre a mesma. Ocupando os cantos escuros, quase disfarçadas do resto, estavam as mesas.

Era onde vez ou outra, garotas e garotos de programa apareciam para vender serviço, também eram onde ficavam os jogadores de pôquer e é claro, os trapaceiros. Chanyeol nunca chegava a cinco metros daquilo.

À direita da entrada, ocupando quase uma parede inteira, ficava o bar. Ele tinha um balcão largo de madeira escura que era uma bagunça de garrafas, copos e cinzeiros. O bordô do papel de parede parecia ter levado uma surra, já os bancos eram de veludo falso tingido de verde.

Só um bartender trabalhava ali, se o estoque tivesse sido trocado duas vezes naquele ano, seria muito.

E também haviam as sacadas. O único espaço de relativo silêncio do Coliseu, vinha das sacadas.

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