Nunca consegui me decidir, por toda minha vida acadêmica, qual o pior grupo de alunos: as crianças — enérgicas, teimosas e inquietas — ou os adolescentes — rebeldes, desinteressados e irresponsáveis. Sei que isto é uma coisa horrível de se pensar; mas quando se passa oito horas por dia, cinco dias da semana, trinta semanas por ano, lutando para manter a sanidade, o lado bom de lecionar acaba ficando um pouquinho em segundo plano.
Tenho alunos bons, sim, é claro. Nem tudo são espinhos. Mas uma coisa que aprendi nestes anos em sala de aula é que os alunos são feito frutas: basta apenas uma podre para que o resto se contamine.
E o final do ano letivo nada mais é que uma colheita de frutas podres. Os alunos mais dedicados — ou mais inteligentes, se posso assim dizer — são liberados logo na segunda semana de dezembro, e os que restam (os famosos "alunos-problema") permanecem por mais uns dias para correr atrás do tempo — e das notas — perdidos.
O que vou contar aqui é um segredo dos professores, talvez o mais obscuro e escondido. Então, perdoe-me, colegas de profissão, mas tenho de confessar. A verdade, senhoras e senhores, é que, por mais que pareça, não há prazer algum em reprovar os alunos. Aquele papo de "Se você não se esforçar, sou obrigado a te deixar de recuperação", ou a famosa frase dos próprios reprovados "Ele fez isso só pra me castigar!"... uma grande besteira, tudo isso!
Ninguém, e que fique bem claro, ninguém quer ter de passar a noite acordado preparando material para quinze por cento da turma que não fez o mínimo de esforço para conseguir a aprovação. Seria masoquismo da minha parte ter algum tipo de animação por deixar o tempo que poderia usar para malhar, ou encontrar um outro hobby, para formular provas e mais provas.
E para que o pesadelo da recuperação seja menos desagradável, todos nós damos um jeitinho de aprovar, com uma pequena ajuda, até aqueles que não merecem. Pontos de participação; pontos pela organização; pontos extras; cumpriu alguma tarefa difícil? Tome mais alguns pontos. E com isso, diminuímos o grupo de reprovados em uma média de setenta por cento. Ainda assim, sobram três, dois ou um aluno por turma. É que não dá pra fazer aparecer uns doze pontos em um boletim, feito mágica, infelizmente.
Naquele ano, no entanto, a rotina estava me sendo uma distração muito bem vinda. Tinha acabado de me divorciar, e não fossem as folhas se equilibrando sobre a mesinha do quarto, com certeza viraria as noites revivendo as mensagens da minha esposa... Mas, confirmando o discurso dela — de que eu só tinha tempo para o trabalho — lá estava eu, noite após noite, corrigindo ou produzindo, com meio palmo de olheiras e a xícara de café sempre cheia. Odeio admitir que ela estava certa.
Na quarta-feira, na parte da manhã, tive de aplicar exames para três alunos, e imagine você a minha boa vontade em ter que acertar a barba, vestir a roupa social e dirigir até a escola para ver a cara de — só — três delinquentes.
Saí depois de quatro horas mal dormidas, empunhando minha garrafinha de café e a bolsa a tiracolo. Só me lembrei dos óculos no meio do caminho e tive de fazer a volta, muito contrariado e xingando os carros rua afora, como se fossem os culpados do meu atraso.
A cabeça já não estava tão boa — como se algum dia tivesse estado — então foi uma surpresa agradável quando, ao chegar na escola, me dei conta de que os azarentos da vez eram de turmas diferentes; o que quer dizer que eu poderia juntá-los todos na mesma sala, aplicar a prova, e matar três coelhos com uma cajadada só, sem perigo de que colassem as respostas um do outro.
Quase sorri, imaginando que, em mais ou menos uma hora, já estaria pelado na cama, pronto para um dia inteiro de sono, ou vendo um filme qualquer, ou me masturbando — dependeria do humor.
Só não contava com o atraso do Diego. Aliás, nunca pude contar com qualquer boa vontade daquele ali. Ninguém pode. Não fazia silêncio durante as aulas, os trabalhos eram todos copiados de algum outro aluno, faltava mais do que aparecia, e quando o fazia, dava um jeito de ir embora mais cedo. Era, com certeza, o meu aluno mais problema dos "alunos-problema"; sentava sempre no fundo, e eu já nem me importava se estivesse dormindo ou não, desde quando entrou no Ensino Médio. Por conta disso, Diego já tinha repetido o segundo ano uma vez, e o terceiro, duas. Mas quem se importava? Não eu, muito menos o Diego.

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Qual a Nota, Professor? | +18
Romance🔞O fim do ano para um professor é, no mínimo, a época mais cansativa. Imagine para mim, recém divorciado e cheio de alunos-problema. Diego era um deles. O moleque mais rebelde e insolente que já tive em sala de aula. Eu só não esperava que os infe...