𝚘𝚗𝚎 𝚠𝚛𝚘𝚗𝚐 𝚌𝚕𝚒𝚌𝚔

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Eu observava o movimento no café, meus olhos vagando pelo salão, deslizando entre as mesas ocupadas e as que aguardavam novos clientes

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Eu observava o movimento no café, meus olhos vagando pelo salão, deslizando entre as mesas ocupadas e as que aguardavam novos clientes. Era uma tarde tranquila, a luz do sol entrava suavemente pelas janelas, criando um ambiente quase aconchegante, se não fosse pela monotonia que vinha com a rotina. O cheiro de grãos de café recém-torrados pairava no ar, misturado ao aroma leve de croissants e doces, uma constante que eu já quase não notava. O tilintar das xícaras e os murmúrios dispersos dos poucos clientes presentes se tornavam uma trilha sonora suave, mas monótona. Era o típico som de uma tarde qualquer naquele café.

Servi mais um pedido para um cliente habitual, um senhor que vinha todos os dias, sempre pedindo o mesmo café expresso e uma fatia de bolo de cenoura. Ele nunca trocava o pedido, nunca mudava o comportamento. Cumprimentava com um breve aceno, pegava o que havia pedido e passava o tempo lendo o jornal ou simplesmente olhando pela janela. Uma figura tão parte da rotina quanto o som das xícaras ou o cheiro dos grãos moídos.

Enquanto limpava a bancada, minha mente vagava, perdida nas divagações do cotidiano. Foi então que a vi. A detetive estava lá, como sempre, no mesmo horário, na mesma mesa perto da janela, imersa em sua própria realidade. Seus cabelos castanhos, presos em um coque bagunçado, revelavam a pressa com que provavelmente se arrumava para começar o dia. Seus olhos, focados nas anotações no pequeno caderno que sempre carregava, eram como janelas para uma mente que nunca parava de trabalhar, nem mesmo durante o almoço.

Havia algo nela que sempre prendia minha atenção. Talvez fosse o contraste entre sua aparência desleixada e sua aura de autoridade. Mesmo com o cabelo fora do lugar e uma expressão cansada, ela exalava uma confiança inabalável que atraía olhares. Eu me pegava, frequentemente, imaginando como seria a vida dela. Quais casos estaria resolvendo? Que segredos e mistérios ocupavam sua mente enquanto rabiscava no caderno, alheia ao movimento ao seu redor? A curiosidade se tornava um convite à especulação, uma viagem imaginária que me distanciava da realidade.

Minha curiosidade a respeito da detetive era quase instintiva, um impulso que não conseguia ignorar. Eu gostava de observá-la, como se estivesse em uma exposição, imaginando sua vida, seus problemas, o que a fazia sorrir ou a deixava frustrada. Sempre que meus olhos recaíam sobre ela, uma série de perguntas surgia em minha mente. Será que ela tinha amigos? Família? Ela parecia tão solitária quanto eu, ainda que sua expressão não deixasse transparecer isso de forma tão clara. "Quem sou eu pra julgar?", pensei, uma leve sombra de ironia atravessando meus pensamentos. Eu, que não tinha amigos, não tinha família, passava minhas noites invadindo os sistemas de segurança e expondo os segredos alheios, buscando uma satisfação que nunca parecia durar.

Voltei para trás do balcão, passando o pano na superfície de mármore. Meus olhos se moviam discretamente na direção da detetive novamente, que agora escrevia algo no caderninho. Era difícil não admirar sua postura tranquila, sua beleza despreocupada. Mesmo com o cabelo desgrenhado, ela era bonita, de uma forma que poucas pessoas poderiam perceber. Uma notificação no meu celular chamou minha atenção, fazendo-me desviar os olhos dela.

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