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Crescer ouvindo os sermões do seu pai aos domingos era tudo o que você conhecia

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Crescer ouvindo os sermões do seu pai aos domingos era tudo o que você conhecia. A casa era regida. Por anos, você acreditou que ele estava certo — que o mundo lá fora era uma ameaça espiritual e que aqueles que cedessem ao pecado estariam condenados ao fogo eterno. Essa crença era um pilar sólido na sua vida... até o dia em que a mão dele ergueu-se contra você pela primeira vez. Foi naquele instante que algo estalou. O pastor perfeito, o homem de fé inabalável, revelava uma hipocrisia escondida sob o manto da piedade: ele não era capaz de controlar nem o próprio ímpeto, quanto mais conduzir o seu rebanho aos céus.

O domingo em que uma nova família veio até a congregação pareceu tão monótono. Os olhos da multidão estavam baixos, concentrados no sermão longo e entediante do seu pai.

Você soltou um suspiro cansado, desviando o olhar pelo salão em busca de algo que prendesse sua atenção. Foi então que o viu. Um rosto novo. Ele estava sentado ao lado dos pais, postura ereta e semblante contido, parecendo deslocado, mas disciplinado o suficiente para não demonstrar isso.

Nas semanas que se seguiram, a família do garoto foi acolhida de braços abertos pela igreja. Mais um rebanho convertido, mais almas para inflar o orgulho do seu pai. Mas essa nova adição à comunidade trouxe mais do que uma família silenciosa; trouxe também uma nova pessoa na sua vida. Por obra do destino — ou talvez uma ironia divina — você e ele começaram a se cruzar com frequência.

De início, você achou que seria fácil ignorá-lo. Ele era quieto demais, discreto demais. Sem nada que chamasse sua atenção. Teria sido tão fácil se ele simplesmente não tivesse gaguejado um pedido de desculpas quando você acidentalmente esbarrou nele.

O pedido de desculpas saiu baixo, quase abafado, e você mal conseguiu entender de primeira. Foi aquela gagueira tímida, que fez você parar por um instante. Ele não tentou disfarçar o constrangimento — os olhos abaixados, a mão esfregando nervosamente a nuca, como se estivesse desesperado para sumir dali. Um garoto desses, tão certinho e cheio de modos, era o tipo de pessoa que você geralmente ignorava. E, de fato, deveria ter seguido em frente.

Mas algo nele fez você querer apertar um pouco mais aquelas rachaduras.

— Relaxa — você murmurou, com um sorriso que ele não soube decifrar. — Nem te vi aí. Por acaso, você pede desculpa até pelo vento?

Ele piscou, confuso e levemente embaraçado, tentando processar se havia algo de errado com a pergunta. O silêncio desconfortável que se seguiu apenas confirmou o que você já suspeitava: ele não sabia lidar com provocações. E, para seu azar — ou dele —, isso só tornou tudo mais interessante.

Os encontros se multiplicaram. Toda vez que você esbarrava com ele pelos corredores da igreja, no pátio ou durante tarefas comunitárias, você aproveitava a oportunidade. Às vezes, era uma piada inocente, um comentário sobre o jeito certinho dele, como:

— Não precisa levantar a mão para falar comigo, sabia?

Outras vezes, era mais sutil. Toques rápidos e calculados — uma mão ligeira no braço ao entregar um folheto, uma aproximação desnecessária enquanto vocês reorganizavam os bancos da igreja.

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