Capítulo 05

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Chego em casa o mais rápido que minhas pernas permitem, o coração acelerado, e abro a porta com um leve empurrão. A casa parece estranhamente silenciosa, exceto por um som que começa a se formar conforme subo as escadas. Gritos. Paro por um segundo e os reconheço: vêm do segundo andar, do quarto dos meus pais. Eles estão brigando. De novo. Sinto uma onda de exaustão me atingir — já perdi a conta de quantas vezes isso aconteceu. A cada briga, a casa parece um campo de batalha silencioso, onde palavras cortam mais fundo que qualquer arma.

Enquanto me aproximo da porta, mil pensamentos inundam minha mente, cada um mais inquietante que o outro. E se eles descobriram? E se finalmente me desmascararam? E se tudo estiver prestes a desmoronar? O pânico tenta se infiltrar, mas balanço a cabeça, afastando esses pensamentos. Não, claro que não é isso. Sou cuidadosa, tão cuidadosa ao ponto da paranoia. Não importa o quão complexa seja a situação, eu sempre cubro meus rastros. Ninguém nunca descobriria — meus segredos estão bem guardados. Respiro fundo e tento ignorar o aperto no peito enquanto me preparo para o que está por vir.

— pai, mãe, cheguei! — falo enquanto abro a porta do quarto.

Eles param de gritar e tudo fica em silêncio. Está tudo um caos. Há documentos rasgados espalhados por todo o chão, como se tivessem sido jogados com raiva. Alguns vasos estão quebrados, deixando cacos por toda parte, e um deles ainda pinga água, formando uma pequena poça perto da janela, e a cama que antes estava arrumada, agora tem lençóis amontoados como se alguém tivesse puxado tudo em um impulso de fúria.

— o que está acontecendo aqui? — digo com firmeza, o calor subindo pelo meu corpo.

Minha mãe da um suspiro profundo e sai do quarto, me chamando logo em seguida. Vamos até a sala e nos sentamos no sofá.

— vamos nos mudar.

— O QUÊ?? Isso não pode estar acontecendo— Meu coração dispara.

Se nos mudarmos, tudo pode acabar indo por água abaixo. Nas caixas de mudança, há o risco de alguém encontrar algo suspeito entre as minhas coisas, como talvez as armas que uso. Ou pior, podem acabar descobrindo algo que eu escondi no próprio lote da casa. E se acharem o corpo de Josh Watson? Minha primeira vítima... meu "melhor amigo" de infância. O pensamento me deixa paralisada por um instante. Tudo foi tão bem planejado, mas essa mudança pode acabar revelando o que nunca deveria vir à tona.

— eu sei filha que pode parecer difícil, mas não temos outra opção, a nova casa será bem maior que essa — ela diz com a voz calma, como se quisesse me tranquilizar.

— tudo bem mãe, quando iremos mudar? — não deixo transparecer meus pensamentos.

— amanhã.

Ela se levanta e me deixa aqui, sentada no sofá. Sozinha. Mas antes que possa sair da sala, pergunto o motivo da briga, mas continuo sem respostas. Ela sobe para o quarto de novo, acho que vai organizar a bagunça que fizeram. Me levanto e caminho até meu quarto lá em cima, preciso organizar minhas coisas.

Passo pelo escritório dos meus pais, e a porta está destrancada, algo raro. Eles sempre foram extremamente cuidadosos com aquele cômodo, principalmente meu pai, que guarda ali seus documentos confidenciais. O fato de estar aberta me acende um alerta, uma oportunidade que não posso ignorar. Lanço um olhar rápido em direção à escada para me certificar de que ninguém está por perto. Não posso ser pega agora, ainda não.

Respiro fundo e continuo andando, mesmo que tudo dentro de mim grite para eu entrar e começar a vasculhar. Sei que seria um erro. Se meus pais me encontrarem ali, tudo pode acabar num piscar de olhos. Então, faço a escolha sensata: sigo em frente, mas não consigo deixar de sentir a adrenalina começar a subir. Vou voltar aqui mais tarde, quando todos estiverem dormindo. Nessa casa, a única regra é nunca deixar ninguém saber o que você realmente está pensando ou fazendo.

Entre Lâminas e BeijosOnde histórias criam vida. Descubra agora