Verdades à Parte

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A noite havia sido um caos. Yoko mal conseguira dormir, o desconforto em seu corpo estava se tornando insuportável, e as tonturas agora vinham com mais frequência. Ela não podia mais adiar. Finalmente, com a pressão crescente de Faye e a própria preocupação, Yoko decidiu que era hora de ir ao médico.

Naquela manhã, ao entrar no ateliê, Yoko segurava o papel com a confirmação da consulta. Seus passos eram lentos, e a insegurança pairava sobre ela como uma nuvem densa. Ela sabia que teria que contar para Faye sobre a consulta, mas, mais que isso, estava apavorada com o que descobriria.

Faye estava trabalhando em uma nova tela, um amontoado de cores intensas e formas distorcidas. Parecia mais caótica que o habitual, refletindo o turbilhão de sentimentos que Faye não admitia. Quando ouviu Yoko entrar, Faye mal olhou para trás, mas sua voz soou sem paciência.

— Vai ser outro daqueles dias em que você quase desmaia na minha frente? — Faye murmurou, o pincel percorrendo a tela com movimentos rápidos e irritados.

Yoko respirou fundo, tentando reunir coragem.

— Eu... marquei a consulta. Hoje à tarde — ela disse, sua voz trêmula, mas firme o suficiente para que Faye ouvisse.

Faye parou. Por um momento, o ateliê ficou em silêncio. Ela virou-se lentamente, seus olhos fixos em Yoko, avaliando a garota com um olhar inquisitivo.

— Finalmente. — Faye disse, sua voz cortante como sempre, mas com uma pontada de alívio. — Já estava na hora.

Yoko assentiu, sem saber o que mais dizer. Ela se sentia em um turbilhão de emoções, e a indiferença aparente de Faye não ajudava a acalmar seu nervosismo.

— Eu vou sair mais cedo para a consulta. — Yoko acrescentou, baixando o olhar, como se estivesse pedindo desculpas por isso.

— Vá. E dessa vez, resolva o que quer que esteja te incomodando — Faye respondeu, voltando-se para sua tela, embora seu tom tenha suavizado um pouco.

Aquela era a maneira de Faye mostrar que se importava, Yoko sabia disso. Mesmo que as palavras fossem duras, havia uma preocupação ali, escondida nas entrelinhas. Era o mais próximo de um "boa sorte" que Yoko poderia esperar de Faye.

Quando Yoko chegou à clínica, o ambiente branco e estéril a fez sentir-se ainda mais tensa. Ela se sentou na sala de espera, olhando para as paredes, as mãos suadas segurando a bolsa no colo. Seus pensamentos estavam um caos.

E se fosse algo grave? Ela sentia que havia algo errado com seu corpo há semanas, talvez meses, mas tinha evitado encarar a verdade. Agora, ali, esperando pela chamada, o medo a dominava.

Finalmente, a recepcionista chamou seu nome, e Yoko entrou no consultório. O médico, um homem de meia-idade com um semblante calmo, fez as perguntas de rotina, anotando cada resposta. Yoko falou sobre os enjoos, a tontura, a fadiga. O médico ouviu atentamente e, após alguns exames rápidos, pediu que ela fizesse um teste de sangue.

A espera pelo resultado foi insuportável. Yoko sentia como se o tempo tivesse parado, cada segundo parecendo uma eternidade. Quando o médico voltou, segurando os papéis com o resultado, seu olhar era sério, mas tranquilo.

— Srta. Yoko, os resultados dos seus exames mostraram algo que talvez você não esperasse — ele começou, pausando por um momento para medir as palavras. — Você está grávida.

Aquelas palavras caíram sobre Yoko como uma avalanche. Por um momento, ela não conseguiu processar. Grávida? Aquilo parecia surreal, impossível até. Ela estava completamente perdida.

— Isso... não pode estar certo — Yoko balbuciou, sua voz quase inaudível.

O médico assentiu compreensivamente, acostumado com esse tipo de reação.

— Eu entendo que seja um choque, mas os resultados são claros. Você está no começo da gravidez, mas é importante começar o pré-natal o quanto antes — ele disse, mantendo o tom profissional.

Yoko saiu do consultório em um estado de torpor. Cada passo parecia flutuar sobre o chão, sua mente girando com a informação. Grávida. Como isso aconteceu? Ela sabia, claro, mas a realidade da situação a atingia com força. Não estava preparada. Isso não fazia parte de seus planos, nem dos sonhos que tinha. Sua vida era um caos por si só, e agora havia outra vida em jogo.

Entre Cores e SilênciosOnde histórias criam vida. Descubra agora