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Helena

── Que foi que "tu" tá com um beiço de três metro faz uma meia hora? — Gabriel perguntou assim que entramos na sua casa. Suspirei, sentindo o calor no rosto, mas me controlei. Não deixaria ele ver que isso me abalava tanto. ── Helena, não tem mulher nenhuma no meu pé, eu sei que não fiz nada, mas tô preocupado com você. Você tá estranha!

── É que... Eu recebi uma proposta de emprego! — Contei, vendo suas sobrancelhas arquearem, animado, mas eu sabia que seu sorriso iria se desfazer em instantes. ── É um trabalho fixo, numa área que eu gosto.

── Que ótimo, amor, por que você não parece feliz com isso? Onde é?

── Eu tô feliz, Gabriel, só tô preocupada. — Falei, me jogando no sofá e mantendo o tom controlado. ── É na Apple.

Ele me encarou surpreso e, depois de alguns segundos, abriu um sorriso de canto e se sentou ao meu lado.

── Helena, Apple? Apple é uma das maiores empresas do mundo. Isso é incrível!

── É, mas eu teria que me mudar para a Califórnia. — Soltei a bomba e mantive a expressão firme, sem desviar o olhar. ── Vou receber em dólar para fotografar as campanhas deles, ao ar livre, especificamente.

Silêncio. Meu coração batia mais forte, mas me obriguei a manter a pose de quem não está afetada.

── Tá. — Ele disse, com o olhar pensativo. ── Quando você vai?

── Que?

── Perguntei quando você vai. — Repetiu, me encarando.

── Você não tá bravo?

── Por que eu ficaria? É seu futuro, Helena. Jamais vou tentar te prender a nada, principalmente a uma situação que vai ser benéfica pra você. Você vai, né?

── Eu quero muito ir, mas se eu for... Vamos ter que terminar! — Falei com firmeza, mantendo a expressão serena.

Ele então fez uma feição de confusão, um misto de confusão com tristeza.

── Tá terminando comigo?

── Não tô.

── Por que teríamos que terminar? Poderíamos nos ver em férias e feriados, eu poderia ir te ver e você poderia vir me ver. — Ele parecia achar tudo isso simples, mas para mim, não era.

Suspirei, sentindo uma pontada no peito, mas mantive meu olhar firme nele.

── Gabriel, não sei se eu aguento uma relação à distância. Já vi muita gente se perder no caminho, sabe? Eu sou insegura demais pra lidar com tudo isso. E você é uma figura pública, tem o peso das fofocas, das especulações... e eu não quero viver com essa paranoia. Não de novo!

Ele franziu o cenho, claramente magoado, passou às mãos pelo rosto e respirou fundo.

── Então você não confia em mim? Depois de todo esse tempo, você ainda não confia em mim?

Segurei a postura, mesmo quando ele deixou transparecer a decepção.

── Não é sobre você, Gabriel. É sobre mim e o que eu sei que sou capaz de suportar.

── Você não é capaz de suportar uma distância, que, por mais chata que seja, reforçaria nosso amor? — Arqueou as sobrancelhas.

── Eu não sou capaz de suportar fofoca. — Pontuei. ── Você ficou um fim de semana no Rio de Janeiro e saiu todo aquele boato lá com aquela mulher, eu quase fiquei louca, eu surtei, eu quis terminar e se não tivesse sido comprovado que era mentira, teríamos terminado. E se acontece de novo? E se não tiver como comprovar que é mentira uma fofoca?

── Ai que entra a parte que você deveria confiar em mim, você só tá reforçando que não confia. — Falou com serenidade e uma leve tristeza no olhar.

── Gabriel, não é isso...

── É sim! Se fosse o contrário, eu iria conversar com você é preferir ouvir você do que um bando de gente que não nos conhece, e até que fosse provado o contrário eu ficaria do seu lado e te defenderia, até porque quem sairia perdendo é quem teria traído ou feito qualquer coisa errada. Você sabe muito bem como eu enxergo relacionamento!

── Na teoria é lindo, é fácil. — Rebati. ── Até eu estar em casa, sair uma fofoca que você me traiu, eu ser taxada de corna na internet e ter que lidar com um monte de situação estressante.

── Você se importa mais com o que o pessoal fala do que com a verdadeira situação? Helena... — Ele parecia incrédulo. ── Meu Deus, você precisa ter um pouco mais de maturidade. Ser figura pública é isso, sempre vão te envolver em uma fofoca diferente porque isso rende dinheiro para eles, cara.

── Tá bom mas a figura pública é você. — Rebati rápido e com amargura, sem perceber, notei seu breve sorriso se desmanchar. ── Eu nunca quis exposição, Gabriel, eu não sei lidar com esse mundo de mídia, de fofoca, de fama. Você tá nesse ramo há muito mais tempo do que eu e sabe, eu não!

── Amor, desculpa mas você vai ter que aprender a lidar. Eu não posso fazer nada em relação a isso! Eu não controlo o que falam ou deixam de falar sobre nós.

── Se eu realmente for, eu me mudo no final do próximo mês, vamos ter tempo até lá e eu ainda tenho duas semanas para decidir se vou ou não. — Falei trocando de assunto e levantando, sabia que iríamos discutir e eu quando surto de raiva falo demais, não queria magoar ele.

── Onde você vai?

── Decidi que vou dormir em casa, só preciso pensar sobre isso sozinha, não leva para o pessoal. — Beijei a bochecha dele e ele suspirou.

── Eu te levo.

── Não precisa.

── Helena. — Ele falou, preocupado e eu dei um tchauzinho, saindo.

Ao sair, a chuva me atingiu como um choque, mas continuei andando. Só quando me distanciei o suficiente, longe dos olhos de Gabriel, a máscara de durona caiu, e as lágrimas se misturaram com a chuva, aliviando a tensão e o medo que guardei o tempo todo. Eu odeio ser insegura, eu odeio namorar uma pessoa exposta na mídia mas eu amo namorar e amar ele, é uma loucura, temos nem um ano de namoro ainda mas já passamos por tanta coisa por causa dessa exposição.

Eu sei exatamente de quem eu preciso agora.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora