O Silêncio dos Corações | DEGUSTAÇÃO

Capítulo 01

O sol da tarde filtrava-se através das árvores frondosas do jardim da mansão Drummond, lançando manchas douradas sobre a grama verde e bem cuidada.

Ariella e Melissa, com suas risadas alegres, corriam de um lado para o outro, as roupas leves balançando enquanto se divertiam em meio a flores coloridas e arbustos recortados.

— Olha, Mel! O que é aquilo? — Ariella exclamou, apontando para um pequeno objeto se movendo entre as folhas.

As duas se aproximaram devagar, e logo descobriram que era um filhote de gato, com pelagem cinza e olhos grandes, que olhava para elas com curiosidade e um toque de medo.

— Oh, ele é tão fofo! — Melissa sussurrou, agachando-se e estendendo a mão com cuidado. O gatinho hesitou, mas logo se aproximou, esfregando-se na palma da prima. — Devemos levar ele para casa, Ari!

— Sim! Vamos pedir para a Janaina deixar a gente ficar com ele! — Ariella disse, seus olhos brilhando de entusiasmo. Juntas, elas correram em direção à porta da mansão, suas vozes alegres ecoando pelos corredores.

— Janaina! — chamaram em uníssono assim que avistaram a babá na cozinha, preparando o lanche da tarde. A mulher, de cabelos grisalhos e uma expressão sempre gentil, virou-se para elas, sorrindo.

— O que vocês querem, minhas meninas? — perguntou, limpando as mãos na toalha de pano.

— Encontramos um gatinho no jardim! Podemos ficar com ele? Por favor! — Ariella implorou, as bochechas ainda coradas de emoção.

Janaina hesitou, seus olhos refletindo preocupação. — Ah, meninas, eu adoraria, mas...

— Por favor! Ele precisa de um lar! — Melissa intercedeu, juntando as mãos em um gesto de súplica.

— Eu sei, minhas queridas, mas o Senhor Humberto não permite animais dentro da casa. Ele diz que eles podem sujar e causar problemas. — Janaina explicou, sentindo-se triste ao negar o pedido.

As duas primas murcharam, a animação rapidamente se transformando em desilusão.

— Mas por que não podemos ficar com ele só por um tempo? — Ariella perguntou, a voz embargada.

— Porque é uma regra, e eu preciso seguir as instruções do seu avô. Sinto muito. — Janaina respondeu suavemente, acariciando o cabelo de Ariella enquanto as lágrimas começavam a se formar em seus olhos.

Antes que o clima de tristeza pudesse se instalar, uma voz suave ecoou da escada. Era a avó Amélia, com um olhar gentil e acolhedor.

— O que está acontecendo aqui, minhas pequenas?

— A gente encontrou um gato, vovó! Mas Janaina disse que não podemos ficar com ele — Melissa respondeu, com a voz tremida.

Amélia aproximou-se, os olhos brilhando com compreensão. — Venham, venham comigo. — disse, levando-as para uma pequena sala cheia de antiguidades e fotografias. Ela se sentou em uma poltrona e fez sinal para que as netas se juntassem a ela. — Vamos olhar algumas fotos. — Amélia sugeriu, pegando um álbum empoeirado de uma estante. As meninas se acomodaram ao seu lado, curiosas.

Com delicadeza, ela folheou as páginas até chegar a uma fotografia em particular, onde ela e Humberto estavam radiantes no dia do casamento. — Este aqui é o dia do meu casamento com seu avô. — disse Amélia, um sorriso nostálgico no rosto. — Era uma época diferente. Meu pai decidiu quem eu deveria casar, assim como o seu avô faz com vocês.

Ariella e Melissa se entreolharam, intrigadas.

— Mas você amou o vovô, não amou? — perguntou Melissa, sem entender completamente.

— Sim, com o tempo, aprendi a amá-lo profundamente. Nós construímos um amor duradouro, baseado no respeito e na compreensão. — Amélia respondeu, olhando para as netas com ternura. — Às vezes, as coisas não acontecem como queremos, mas isso não significa que não podemos ser felizes.

As palavras da avó tocaram o coração de Ariella e Melissa. Mesmo tristes por não poderem ficar com o gatinho, elas sentiram uma nova esperança.

— Quem sabe um dia, vocês possam ter um gato. Quando forem mais velhas, e se a vida permitir. — Amélia finalizou, piscando um olho. — Agora, que tal um lanche antes de voltar para o jardim?

As meninas sorriram, suas tristezas momentaneamente esquecidas, enquanto seguiam a avó em direção à cozinha. A mansão Drummond, com sua aura de tradições e memórias, ainda guardava muitos segredos a serem descobertos.