Motel Afrodite

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Era tarde, e o céu escuro parecia refletir o turbilhão de emoções que sentíamos. Eu e Marília estávamos no carro, seguindo por uma estrada deserta, até que o letreiro do Motel Afrodite apareceu à frente. O silêncio entre nós era cheio de tensão.

- Você acha que é certo a gente estar aqui? - perguntei, sem desviar os olhos da estrada.

Marília respirou fundo, seus dedos tamborilando nervosamente no volante.

- Certo ou errado... já faz tempo que a gente passou desse ponto, não acha?

Olhei para Marília, meus olhos brilhando de dúvida e desejo.

- Tá doendo de saudade, eu já não aguento mais.

- Eu também, Mai... - Marília murmurou, sua voz mais suave.

O carro parou em frente ao motel, e Marília olhou diretamente nos meus olhos.

- Você acha que a gente pode fugir disso pra sempre?

Marília sorriu de canto, aquele sorriso que sempre me desarmava.

- Suíte 22, né? Se não me engano 23? - Marília perguntou, revirando as lembranças.

Eu ri, balançando a cabeça.

- Pernoite depois do café, amor mais uma vez. Lembra?

Marília suspirou, o sorriso em seus lábios se tornando mais suave.

- Como esquecer? - Ela desligou o carro e virou-se para mim, seus olhos cheios de nostalgia. - E aquela hidro? A gente passava horas ali... Dá saudade daquela hidro borbulhando, e você me chamando pra gente se amar.

Sorri, me inclinando um pouco mais para perto.

- Eu te chamava... e você vinha. - Minha voz ficou mais baixa, carregada de carinho.

Descemos do carro e caminhamos em direção à entrada, como se estivéssemos voltando no tempo. Ao entrar na suíte, as lembranças se intensificaram. A luz suave, o cheiro familiar... era como se nada tivesse mudado.

Marília sentou na beira da cama e olhou ao redor, deixando os detalhes invadirem sua mente.

- Aqui, a gente sempre voltava, né? Depois do café, amor mais uma vez...

- Sempre - confirmei, me aproximando e sentando ao lado dela. - E essa saudade? Como a gente sobreviveu sem isso?

Marília me olhou, os olhos brilhando com emoção.

- A gente não sobreviveu... só aprendeu a viver com ela.

- Vamos recomeçar, aqui, onde tudo fazia sentido - sussurrei.

Marília não respondeu com palavras, mas seu olhar e o calor de sua mão segurando a minha diziam tudo.

O quarto estava banhado por uma luz suave, mal iluminando as paredes do Motel Afrodite. A hidro borbulhava no canto, preenchendo o ar com um som que misturava tranquilidade e tesão. Era como se o ambiente nos envolvesse, trazendo à tona tudo o que havíamos deixado não dito.

Me aproximei da cama, meus dedos correndo levemente pela colcha macia. Olhei para Marília, que me observava de perto, e sorri de leve, uma saudade tímida em meus olhos.

- Aqui, sempre foi o nosso lugar, não foi? - disse, minha voz saindo como um sussurro, quase um segredo compartilhado.

Não resisti mais. Puxei Marília suavemente pela cintura, trazendo-a para mais perto. O calor entre nós cresceu, e a distância que o tempo havia criado desapareceu. Nossos lábios se encontraram, no início num beijo lento, como se estivéssemos redescobrindo cada detalhe uma da outra. Mas logo o beijo se intensificou, carregado de desejo reprimido.

One Shot |MAILILAOnde histórias criam vida. Descubra agora