A floresta era escura, com árvores estendendo seus galhos retorcidos para a noite.
Uma neblina densa e branca enchia o ambiente, pairando sobre o solo coberto de mato.
Numa clareira extensa, a figura humana caminhava, murmurando baixinho, o rosto encoberto por um capuz negro.
Os arbustos se mexiam ao redor daquele estranho homem corcunda. A bruxa escondida atrás de dois carvalhos apertou bem os olhos para enxergar melhor o que se passava, por pura curiosidade.
Os lobisomens pararam de uivar, correndo de volta para suas tocas úmidas.
Mas o homem continuou caminhando e sussurrando, agitando os dedos brancos e gélidos no ar.
À frente dele, subitamente, algo aconteceu; o barro debaixo do matagal começou a se ajuntar, como se mãos invisíveis o moldassem.
O material foi tomando forma, se arredondando, até que virou um caldeirão perfeito de argila.
Sorrindo de satisfação, o homem de capuz continuou murmurando seus encantamentos...
À medida em que falava, o caldeirão se enchia de um líquido escuro e espesso, que borbulhava, fazendo um cheiro de cadáver poluir a atmosfera.
Assim que o recipiente ficou todo cheio, o homem tirou algo dos bolsos. Era uma garrafa com um líquido vermelho parecido com sangue.
A figura corcunda removeu a rolha do frasco e se aproximou mais do caldeirão, entornando o conteúdo rubro dentro dele.
A solução caiu aos poucos, até que a garrafa se esvaziasse. O homem guardou-a novamente no bolso da capa, falando baixinho:
— Volte para mim, mestre. — Ele encarou o caldeirão, observando que borbulhava em abundância, e que uma fumaça espessa e roxa se misturava com a neblina da floresta.
As bolhas começaram a sair para fora da boca do reservatório, transbordando; então se juntaram, o que deixou o corcunda ainda mais excitado. Elas foram desenhando uma silhueta humanoide, com dois braços e duas pernas. Somente a cabeça era estranha, pois continha chifres longos e grossos.
Quando os olhos ficaram visíveis naquele ser, eles brilharam numa luminosidade amarelada.
O corpo da criatura parou de borbulhar. Agora, havia no lugar do líquido do caldeirão um sujeito medonho e feioso.
Sua pele era escamosa e cinzenta; os chifres saíam das laterais da testa, bem acima de orelhas pontudas e largas.
— Alfredo — disse o monstro, saindo lentamente da vasilha.
O homem corcunda fez uma grande reverência, quase tocando o chão com as pontas dos dedos.
— Meu senhor e rei Kristanus — disse Alfredo, com um tom claro de submissão na voz. — Finalmente consegui trazê-lo de volta.
— Sim, mas demorou três séculos para isso... faça melhor da próxima vez.
— Perdoe-me, mestre! É que os ingredientes para a poção são muito... bem, difíceis de se conseguir.
— Não quero ouvir desculpas esfarrapadas! — falou Kristanus, ríspido. — Vamos tratar do que verdadeiramente importa.
Alfredo assentiu com a cabeça, levemente trêmulo.
— Vou precisar de seus poderes — continuou Kristanus. — Pelo menos, até que eu possa recuperar os meus... Nós iremos atrás do Cristal Vital mais próximo, para que eu possa absorvê-lo e recuperar parte de minhas forças. Está prestando atenção?
— S-Sim, mestre.
Kristanus ficou calado por um tempo, refletindo, os dedos dracônicos apoiados no queixo. Então prosseguiu:
— Creio que haverá resistência; os defensores vão tentar proteger o Cristal a todo custo. Por isso, precisaremos de reforços. Acho que você sabe do que estou falando. — Ele sorriu, os dentes pontiagudos aparecendo.
— Mas é claro, senhor. — Alfredo fez mais uma reverência. Em seguida, virou-se de costas e levantou os braços.
Começou a murmurar no mesmo tom de voz que usara para invocar seu mestre, enquanto Kristanus apenas observava o lacaio com apreensão.
De repente, as mãos de Alfredo brilharam numa luz branca e fantasmagórica, e ele exclamou:
— Sirvam-me, criaturas das trevas!
Mal acabara de falar, e subitamente, círculos negros apareceram nos troncos das árvores da clareira. Deles brotaram — vários ao mesmo tempo — seres das sombras, que atravessaram os círculos e caíram no matagal.
Os bichos eram feitos de piche, totalmente escuros, assim como uma noite sem lua ou estrelas. Tinham braços longos, maiores que suas pernas curtas de pés sem dedos.
Muitos deles saíram dos portais abertos por Alfredo, e agora povoavam a clareira, deixando escapar das gargantas grunhidos bestiais.
Kristanus sentiu o corpo queimar de empolgação, e enchendo o peito, gritou:
— Bem-vindos de volta, meus bebês!
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OS DEFENSORES DA FLORESTA MÁGICA
FantasíaPara proteger o Cristal Vital, Tiffo, Matilde e Leon têm que dar o seu melhor!