duo.

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Eu encarei os hematomas no meu braço e comecei a rir. Toda a vez que eu os observava, imaginava uma espécie de campo minado, onde caso eu encostasse nos buracos mais escuros, a dor era certa. Não tão certa com a de uma bomba explodindo, mas isso não tornava a analogia menos válida e ao menos as pessoas concordavam quando eu resolvia poetizar os meus machucados.

Eu já os considerava uma parte de mim. A fisioterapeuta fazia alguns cremes caseiros e me dizia que as manchas iriam embora com o tempo, mas já haviam se passado quase dois meses desde a saída do hospital, e elas continuavam lá e eu não queria mais que elas fossem embora. Ver eles começarem a ficar pálidos como a minha pele me davam um sentimento de vazio, como se algo em toda aquela palidez estivesse errado.

"Annabella?", senti uma mão fria envolver meu braço e um calafrio percorreu meu corpo. A voz calma e baixa já me permitiram saber quem era e eu agradeci por estar naquele bar, exatamente naquele momento para poder me encontrar com ele.

Desde que me deram alta no hospital, eu nunca mais havia o visto pelo campus da universidade, e todos os seus amigos me contaram que ele havia saído temporariamente do curso. Primeiramente eu imaginei que era apenas um tentativa dele de me evitar o máximo possível, mas após conversar alguns minutos com uma professora de música, tive a certeza de que ninguém havia mentido para mim.

Alguns chamariam a minha procura por ele, de desespero, mas era apenas uma tentativa de correr atrás do sofrimento. E lá estava ele na linha de chegada, tocando nas minhas feridas, que ele próprio havia causado.

"Gostou da sua obra de arte?", eu levantei a manga da blusa e mostrei os hematomas para ele. A minha intenção não era fazê-lo se sentir culpado e sim, mostrar que eu não me importava. A minha ingenuidade me fez pensar que chamando os machucados de obra de arte, seria um elogio, mas o incomodo explícito de Harry me mostraram que teve um efeito totalmente contrário.

"Sobre isso... Eu gostaria que você não contasse sobre aquilo para ninguém. Quer dizer, sobre o acidente.", ele enfiou as mãos no bolso. Impressionantemente, por mais constrangido que ele parecesse, Harry continuava olhando diretamente nos meus olhos. "Parece que minha família tem uma reputação a zelar e eu estou colocando-a constantemente em risco.".

"Todos sabem que eu fui atropelada, eu apenas omiti que foi responsável por isso. Além do mais, todos já esqueceram disso, você está dois meses atrasado.", eu dei uma pausa e o encarei por alguns segundos, tentando avaliar os pensamentos dele, "Seus olhos verdes realmente fazem falta. Depois do seu sumiço ninguém mais veio ao hospital me olhar por horas a fio.".

Antes do acidente, eu já havia escutado muito sobre Harry. Eu sabia que ele era extremamente confiante, frio e calculista. Ele era o típico garoto que preenchia um vazio psicológico ficando com diversas garotas até conseguir dormir com elas. A confiança abundante dele garantia que isso se tornasse um objetivo alcançável todas as vezes.

Eu queria que ele fosse daquela maneira comigo, que ele me cantasse e tentasse de tudo para me conquistar, mas a minha personalidade simplesmente não combinava com a dele e o máximo que ele conseguia fazer ao meu redor era ficar sem graça e desejar sair de perto o mais rápido possível. Todos os gestos dele indicavam isso.

No início eu imaginei que esse desconforto dele era algo negativo, mas após avaliar a situação, percebi que era extremamente vantajoso. Se deparar com uma garota supostamente intrigante, faria com que ele despertasse uma curiosidade por mim e talvez se dedicasse mais para permanecer ao meu lado. Na prática, eu não sabia se essa ideia era tão perfeita quanto os livros de psicologia me diziam que era, mas eu nunca saberia se não tentasse.

"Obrigada? Eu não sei se fico lisonjeado ou ofendido com o que você me fala. Isso é esperado ou eu sou algum tipo de exceção?". Ele se sentou ao meu lado e pediu um whiskey para o barman, que nos olhava com curiosidade.

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