Tenho chorado lágrimas frias novamente.
Meu queixo treme.
Minhas mãos hesitam.
Mal posso falar.
Não consigo respirar.
Só me resta o desamparo.
Seu frio desprezar que me adoece.
Não me restou nada de você.
Nada além de um travesseiro molhado outra vez.
Eu pensei que seria mais fácil, mas eu acho que esqueci da magnitude deste amor.
Do tamanho deste amor que agora está me arruinando.
Me ferindo...
Me consumindo.
Como se houvessem estalactites de gelo cravadas por todo meu peito.
Firme e afiado, que me rasga ao meio e tira-me a paz, consumindo-me com a dor.
Você me enterrou num monte de neve sólida, onde quanto mais eu cavo, mais eu afundo.
Mais eu caio.
Mais eu sofro.
E me sufoco no meu próprio amor.
No mesmo amor que um dia me aquecia, e agora me congela a alma e a quebra em pedaços.
Eu me acostumei com seu calor ao meu redor, quando eu me banhava nas águas calmas do seu amor...
Mas você se foi.
Me deixou afogar num lago congelado do qual não consigo sair.
E quanto mais eu tento quebrar a camada de gelo que recobre a superfície do lago, mais densa ela se torna.
Até a luz sumir com o dia e me deixar a mercê da escuridão profunda do meu pesadelo.
O oxigênio sumindo dos meus pulmões enquanto eu agonizo sofrendo a sua ausência.
Meu corpo envolto pelo frio.
Meu sangue lentamente congelando em minhas veias.
Meus dedos dormentes.
Meus lábios azulados.
Por que você fez isso?
Como pôde me abandonar assim?
Por que você me deixou aqui para morrer depois de me jurar que estaria ao meu lado para sempre?
Eu não entendo...
Eu fui a pessoa largada sozinha na neve enquanto você se aquece a lareira distante de mim.
O meu calor já não te bastava, então você escolheu me reduzir ao pavio queimado de uma vela que já derreteu.
Eu sou como a cera derretida esquecida sobre a mesa.
Você me queimou como sua chama, e se foi, me deixando esfriar e enrijecer.
Me deixou.
Por já não me amar.
Me deixou com essa estaca de gelo cravada em meu coração.
As juras de amor evaporaram como água fervendo numa chaleira. E nossos sonhos... Não; meus sonhos, viraram fumaça.
Não posso acreditar que tudo se tornou tão áspero...
Não posso acreditar que você me deu as costas e me pintou como um alguém que eu jamais fui.
Pensei que pudesse pelo menos te levar no coração como uma boa memória, mas sempre quando fecho os olhos é alguém desconhecido a quem vejo.
Você já não é a mesma.
Não é a mesma pessoa por quem eu me apaixonei.
Eu gostaria de voltar ao passado.
Voltar para o dia que eu errei com você e não percebi.
Eu queria saber o que fiz para você ter me tratado assim.
Ter me desprezado como se tudo o que tivemos fosse reduzido a nada.
Ao pó das cinzas de uma fogueira abandonada depois de uma longa noite fornecendo seu calor aos que a rodeava.
Ter desistido de nós como se nossa história não tivesse significado algum.
Eu sempre... Sempre acreditei que você me amasse muito mais do que eu te amava.
E eu muitas vezes pensava: não mereço tanto desse amor.
Mas na verdade... Era eu quem estava recebendo de menos.
Eu tentei me enganar, tentei cobrir meus olhos para não ver o escancarado.
Eu não queria acreditar que você estava me deixando.
Que já não gostava de mim.
Que já não me amava...
Eu sei, você me amou primeiro, me amou antes que eu tivesse notado você ali.
Mas eu... Eu te amei mais.
Eu te amei muito mais.
Você foi por tanto tempo a estrela que iluminou o meu céu.
Foi como o sol da manhã.
Foi como o florescer das laranjeiras na primeira.
Você.
Você foi meu tudo por tanto tempo... Que sem você aqui agora sinto que já não tenho nada.
Nada além de um grande vazio inóspito dentro do meu ser.
Eu agora sou como o nada.
Apenas uma pessoa deixada para morrer no fundo de um lago congelado.
Com minha alma partida e meu coração petrificado, eu desfaço este laço.
Sem nada de você para me acalentar.
Somente o seu frio desprezar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Frio Desprezar
Non-FictionSem palavras para resumir a dor de cada palavra componente a este texto. A indignação me toma, e a frustração do amor perdido ainda me consome. Vou me permitir desaparecer, vou me entregar ao lago frio do esquecimento enquanto carrego a moeda do des...