Por baixo do capacete

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Era como se uma parte de mim tivesse sido arrancada, o maior amor de um motoboy é a sua moto e eu sou uma pessoa que batalhou muito para comprá-la principalmente depois que saí da casa dos meus pais para ter meu próprio apartamento além de conseguir comprar aquela moto com tanto suor, lágrimas e sangue. Agora, após dois anos com ela acabei me esquecendo que sofri um acidente na volta do trabalho alguns dias atrás e minha lanterna traseira estava quebrada, por conta da correria do trabalho e ter que pagar o aluguel, acabei me esquecendo deste detalhe e em uma noite após ser parado em uma blitz, acabei me recordando dos acontecimentos e sem dar muitas desculpas aos policiais deixei que minha moto fosse levada sem muita recusa aceitando meus erros cometidos e por conta do trabalho corrido, acabei esquecendo e paguei com meu desatento observando minha moto ser levada pela polícia até o pátio. Me sentei no meio-fio ao redor de varias outras motos perguntando-me como voltaria para casa, até gostaria de ligar para meu pai, mas ele não queria olhar para o rosto do filho gay que ele tanto despreza, então apenas me restou chamar um Uber, mas acabei percebendo que estava com pouca bateria.

- Que merda. - Protestei alto me levantando tendo a certeza que teria que ir andando por quase três quilômetros até meu apartamento.

- Quer uma carona?

Foi então que uma voz abafada pelo capacete me chamou a atenção virando-me para minha direita me deparei com outro motoboy com o capacete preto, ele terminava de colocar suas luvas e a viseira estava levantada podendo assim notar seus olhos azuis claros e com uma preocupação eminente.

- Não quero te incomodar. - Na verdade, seria bom uma carona principalmente nesse horário da noite, mas por ser uma ajuda de um desconhecido, tinha medo de ser sequestrado ou algo pior.

- Não é incomodo, você acabou de ter a moto levada ao pátio e eu apenas quero ajudar. - Ele explicou de maneira simples, alguma coisa dentro de mim se mexeu, mas não dei importância achando que podia ser apenas fome. - Se não quiser que eu te leve até a sua casa, me fala algum ponto de referência e eu levo-te até o lugar.

Ele estava sendo apenas gentil, não havia motivos para negar aquela ajuda, e aquela pessoa desconhecida estava me esticando a mão, provavelmente seria a única vez, então era melhor eu aproveitar enquanto tinha tempo.

- Muito obrigado.

Ele com certeza sorriu pois seus olhos se enrugaram nos cantos, até mesmo brilharam, eu sorri de volta ao notar esses detalhes. Por fim, eu lhe dei o endereço de uma praça que ficava cinco minutos do meu apartamento e subir na garupa da moto, ele subiu em seguida tirando o pedal do chão andando ainda com os pés para trás para poder sair do acostamento da blitz da polícia, minhas mãos estavam na parte de trás, eu não tinha o costume de pegar carona em outras motos, por isso que não me recordei de ao menos me segurar no meu colega, olhei para trás para ver se não estava vindo nenhum veículo por conta do instinto de motoboy e acabei não percebendo que ele havia pedido para que eu me segurasse nele, então em um susto a moto brecou para frente de forma agressiva fazendo com que meu corpo fosse para frente junto e por reflexo o abracei por trás podendo ouvir uma risada por trás de seu capacete.

- Eu disse para se segurar, está no mundo da lua por um acaso? - Ele disse rindo, mas também podia sentir preocupação.

Eu somente me ajeitei sem soltar o “abraço”, então ele deu a partida na moto indo rumo ao endereço da praça.

Durante o trajeto, eu pude finalmente perceber alguns detalhes tanto do motoboy quanto da moto, ela era preta de um modelo Honda Hornet com detalhes vermelhos, enquanto a minha também Honda era a CB 250 Twister vermelha e preta. Nossas roupas eram similares às de motocross, bem justas aos nossos corpos, mas de um material de couro confortáveis. Além de que ele era um excelente piloto, era provável de estar na estrada a mais tempo do que eu, meus dedos estavam um pouco inquietos às vezes eu tamborilava-os nas laterais de sua barriga tendo certeza que por conta da adrenalina, ele não sentiria. Em um momento, paramos no sinal vermelho e seus pés foram ao chão para equilibrar a moto, eu me afastei um pouco segurando-me em sua cintura com uma mão e a outra estava em minha coxa, durante a espera pude perceber que a mão dele tocou minha mão em sua cintura, e com um medo se instalando em meu ser achando que ele estava desconfortável, retirei a mão rapidamente colocando-a na minha outra coxa, porém quando ele tentou se virar para trás, no mesmo segundo o sinal verde acendeu fazendo com que ele voltasse a pilotar com as duas mãos e eu tive que abraçá-lo mais uma vez, me perguntando se ele iria me dizer alguma coisa ou que faria algo, mas deixei essas dúvidas no fundo de minha mente. Após trinta minutos, ele chegou até a praça parando perto do meio-fio esperando que eu descesse da moto.

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⏰ Última atualização: Oct 18 ⏰

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