É Problema Meu

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O ambiente ao meu redor parecia mais escuro, mais frio. O som dos meus pés descalços batendo contra o piso de madeira ecoava pela casa enquanto eu corria. A perseguição já tinha se tornado uma dança estranha entre nós dois, o Diabo e eu. Ele me deixava correr, sempre sabendo que não haveria escapatória, que, no fim, eu acabaria voltando para suas garras. Mas agora, algo estava diferente. Algo estava mudando no ar.

Eu podia sentir isso. Ele podia sentir isso.

Enquanto subia mais um lance de escadas, ouvi um barulho diferente, passos mais rápidos, mais pesados, se aproximando de mim com uma intensidade que o Diabo não tinha. Meu coração disparou ainda mais, e o pavor se instalou no fundo do meu estômago. Não era mais o jogo dele.

E então eu vi. Dois vultos se destacaram no fim do corredor à frente. Javier e Juan. Os homens mascarados de terno que antes haviam tentado capturar Nataly e Nina. Seus movimentos eram frios, calculados, quase mecânicos enquanto avançavam na minha direção. O terror congelou minha espinha. Eu sabia que eles não estavam ali para brincar como o Diabo fazia. Eles estavam ali para matar.

Sem tempo para pensar, virei para a direita, entrando em uma porta semiaberta e me trancando lá dentro. O quarto era pequeno, com móveis antigos cobertos de poeira, e a única janela estava bloqueada por tábuas de madeira grossas. O medo me sufocava, meus pulmões lutando para manter o ar enquanto eu encostava o ouvido na porta, tentando ouvir seus passos.

E então veio a batida, forte e rápida, na madeira da porta.

— Vamos lá, querida — uma voz sádica veio do outro lado. Era Javier, um dos gêmeos. — Não precisa se esconder, vamos acabar com isso logo.

Eu recuei, meus pés tropeçando no carpete gasto. Meu corpo inteiro tremia. Eles não estavam ali para brincar, para torturar. Eles estavam ali para me matar.

— Sai da frente! — A voz de Juan soou mais firme, e eu ouvi o impacto de algo pesado contra a porta. Eles estavam tentando arrombá-la. A madeira rangeu sob a pressão, e eu sabia que era apenas uma questão de tempo antes que eles conseguissem.

Meu corpo parecia congelado pelo medo. Era como se o ar estivesse mais espesso, impossível de respirar. O desespero crescia dentro de mim, me sufocando, enquanto os batimentos frenéticos do meu coração ecoavam nos meus ouvidos. Não havia saída. Não havia ninguém para me ajudar.

O Diabo.

Ele estava sempre por perto. Ele estava jogando comigo, sim, mas sempre no controle. Sempre sabendo o limite. Eu não tinha certeza do porquê, mas uma parte de mim acreditava que ele não me deixaria morrer. Não assim. Não por mãos alheias.

Mas ele estava longe agora, e eu estava sozinha.

A porta finalmente cedeu com um estalo alto, e os dois gêmeos entraram no quarto. Suas máscaras brancas eram perturbadoramente imóveis, sem expressão, enquanto eles avançavam. Javier tinha uma faca longa na mão, seus dedos envoltos em luvas brancas, e Juan trazia uma corda.

O pânico atingiu meu corpo como um choque elétrico. Minhas costas colaram na parede, e eu mal conseguia respirar.

— Vai ser rápido, não se preocupe — Javier zombou, sua voz fria e cheia de prazer sádico.

Juan riu baixinho, aproximando-se ainda mais. Seus movimentos eram calculados, como se quisessem saborear cada segundo de terror que crescia dentro de mim.

E foi então que, do nada, um som pesado ecoou pelo quarto. Um impacto seco, brutal. O corpo de Juan foi jogado contra a parede com tanta força que o ar pareceu vibrar. O Diabo estava lá.

Ele apareceu como uma sombra no meio da penumbra, seus olhos escuros brilhando com fúria. Javier deu um passo para trás, surpreso, mas antes que pudesse reagir, o Diabo o agarrou pelo colarinho do terno e o jogou para longe, como se ele não pesasse nada.

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