A sala estava silenciosa, exceto pelo som suave da chuva batendo contra a janela. Dona Márcia estava ocupada decorando a casa para o Natal, minha época favorita de festividades. É um dos poucos momentos do ano em que meus tios não estão viajando a trabalho, então nesta data, todos nos reunimos na casa de tio Carlos para celebrarmos o Natal, e claro, comer muito. E minha parte favorita, trocar presentes.
Enquanto isso, separo algumas coisas que vou precisar levar para o passeio da escola. Vamos visitar um museu histórico de porta-aviões naval, estou super animado, aeronaves são muito maneiras.
- Ezra, posso pegar sua mochila emprestada? – Grito para meu irmão do seu quarto.
A escola havia nos passado uma lista de materiais que deveríamos levar para a excursão, incluindo produtos para higiene pessoal, já que no passeio anterior que realizamos, houve sérios problemas com mau hálito, causado propositalmente pela ingestão de comidas com alho e cebola. Minha turma realmente sabia como atormentar os professores, coitados.
Como Ezra está demorando para me responder, decido pegar sua mochila e tirar suas coisas que estão dentro, porque se não vou acabar me atrasando para a visita e Dona Márcia não tolera atrasos, então além de perder o passeio, vou ter que escutar minha mãe gritando sobre o quanto sou irresponsável pelo resto do dia.
Começo a guardar minhas coisas na mochila, mas noto que esqueci de tirar um estojo que estava em um dos bolsos. Pego-o para jogar na cama de Ezra, entretanto escuto um som baixo que não pertence a lápis ou canetas. O que meu irmão poderia guardar nele?
A curiosidade me vence. Puxo o zíper até o final, vendo claramente o que há no interior do estojo.
A surpresa me domina, juntamente do choque.
Com certeza estou vendo errado, meus olhos devem estar com defeito, essa é a única explicação plausível.
Afinal, não existem motivos para Ezra ter um estojo com vários pacotinhos de drogas.
Meu irmão não usa drogas. Ou usa?
Ouço passos pesados subindo a escada, Ezra pula os degraus em uma velocidade impressionante, até parece o Flash. Seu grito me alcançou antes que eu pudesse reagir.
- NÃO MEXE NA MOCHILA!
Ooou, tarde demais.
Viro de frente para meu irmão e esparramo todo o conteúdo do estojo em cima da cama. Seus olhos se arregalam automaticamente.
Ele vem para cima de mim e agarra fortemente meus braços, me chacoalhando para frente e para trás.
- QUE PORRA VOCÊ FEZ? EU MANDEI VOCÊ NÃO MEXER NAS MINHAS COISAS – esbraveja.
Encaro Ezra furiosamente. Como ele pode fazer isso consigo mesmo?
- Desde quando você está se drogando?
- Isso não é da sua conta, moleque.
Ele me solta e começa a guardar rapidamente as drogas no estojo.
- Ezra, você sabe que não é certo fazer isso.
- Certo é o cacete - nunca vi meu irmão tão puto assim. - Quem você pensa que é para falar assim comigo? – Retruca indignado.
- Sou seu irmão e quero ver você bem, não se transformando em um viciado de merda – falo mais alto do que deveria.
- Fala baixo, porra – me repreende. – Ou a mãe vai escutar.
- Ela não sabe, não é? – Acusei. Dona Márcia vai virar uma fera quando descobrir o que seu querido filho está aprontando.
- Se você contar para a mãe, ela vai ficar chateada – ele não disse isso.
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Asas da Fortaleza
RomanceSó porque você mora em uma casa grande e tem uma família rica, não significa que tudo seja perfeito, às vezes aquilo que você mais deseja talvez esteja a milhares de quilômetros de distância e o que mais teme, convive com você. Mas e se o seu maior...