Jogo

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O silêncio na sala era ensurdecedor. O som do disparo ainda ecoava na minha mente, mas o Diabo tinha desaparecido como um fantasma, me deixando sozinha no escuro. Meu corpo tremia, não só de medo, mas da sensação perturbadora de que, por mais que eu quisesse escapar, algo nele me prendia. Ele brincava comigo de um jeito que me fazia questionar tudo. E agora, sem as câmeras, a sensação de vulnerabilidade era ainda maior.

Meus pés estavam pesados, como se estivessem colados ao chão, e por um momento, eu considerei simplesmente ficar ali, imóvel. Talvez, se eu não me movesse, o perigo não me encontrasse. Mas a realidade era cruel. O Diabo podia ter sumido, mas eu sabia que ele voltaria. Ele sempre voltava, como uma sombra que me espreitava. Ele estava se divertindo com isso.

Tentei controlar minha respiração. Cada vez que me lembrava de como ele me tocava, cada provocação velada, o medo apertava mais forte, como um laço se fechando ao redor do meu pescoço. Não era apenas o terror de estar sendo caçada, era o jogo psicológico, o jeito como ele parecia me conhecer melhor do que eu mesma. Ele sabia o que dizer, como me olhar, como me fazer questionar minhas próprias emoções.

E então, sem aviso, ouvi o som de passos. Lentos, precisos, como se alguém estivesse andando por prazer, saboreando o suspense que criava. Meu coração disparou novamente, e me afastei da parede, tentando encontrar uma saída.

— Não vai adiantar, Alyssa — a voz dele soou das sombras, carregada com um tom de sadismo quase casual. — Você pode correr o quanto quiser, mas sempre vou te encontrar.

Ele estava perto, muito perto. Virei-me instintivamente, olhando para todos os cantos da sala, mas não consegui vê-lo. Estava brincando comigo de novo, me torturando com a incerteza de quando e onde ele apareceria. Meus pés começaram a se mover, hesitantes, enquanto eu tentava não fazer barulho. Cada movimento parecia ecoar na minha cabeça, como se eu estivesse entregando minha localização para ele.

— Gosta de jogos, não gosta? — sua voz ressoou mais uma vez, agora mais próxima. — Eu também. Mas os meus... são um pouco mais intensos.

Eu me esgueirei pela porta e saí no corredor, mantendo-me próxima das sombras, meus olhos freneticamente procurando por ele. Cada passo que eu dava era como pisar em vidro. Sabia que ele estava me observando, sabia que ele estava se divertindo. O corredor parecia interminável, as luzes piscando, criando sombras distorcidas nas paredes.

De repente, senti um arrepio na espinha. Ele estava atrás de mim, eu tinha certeza. Não precisei olhar para saber. A presença dele era sufocante, como se o ar tivesse sido drenado ao meu redor. Meu corpo congelou no lugar, e antes que eu pudesse reagir, uma mão agarrou meu ombro, me virando com força.

Ele estava ali, seu rosto a poucos centímetros do meu, os olhos brilhando com uma satisfação doentia. O sorriso sádico que ele me lançou fez meu estômago revirar.

— O que você acha que seus amigos estão fazendo agora? — ele perguntou, sua voz quase um sussurro. — Acham que você já está morta? Que conseguiu escapar?

Eu não respondi, o medo me bloqueando, mas ele não parecia esperar uma resposta. O Diabo se aproximou ainda mais, sua respiração quente contra meu rosto. Ele estava me testando, me forçando ao limite, como se quisesse ver até onde eu aguentava antes de quebrar.

— Você tem sorte, sabia? — ele disse com um tom zombeteiro. — Eu poderia acabar com isso agora. Poderia encerrar o jogo, aqui mesmo.

Meus lábios tremeram, mas eu não disse nada. Ele estava perto o suficiente para que eu pudesse sentir a malícia em cada palavra, cada olhar. Ele queria que eu implorasse, que eu me rendesse completamente ao terror que ele estava infligindo.

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