Sentir

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Acordei com um sobressalto, o coração batendo descompassado. Por um segundo, torci para que tudo não passasse de um longo pesadelo de Halloween, mas a visão do quarto ao meu redor me fez encarar a dura realidade. Estava presa, ainda dentro daquele inferno.

Olhei ao redor, tentando avaliar o ambiente. Não sabia quanto tempo havia dormido, mas o corpo todo doía, cada músculo gritando com o menor movimento. Levantei-me devagar, tentando evitar o som dos rangidos do piso de madeira velha, e caminhei silenciosamente até a porta. A maçaneta estava fria sob meus dedos, mas quando tentei girá-la, percebi que estava trancada. A chave, claro, não estava à vista.

Suspirei, frustrada, e me voltei para o quarto. Era um espaço opressor. A cama de solteiro estava coberta por um lençol mofado, a luz do teto piscava de maneira irregular, lançando sombras inquietantes sobre o armário de madeira lascada e a cômoda velha. A atmosfera era sufocante, como se o próprio ar estivesse impregnado pela loucura daquele lugar.

Com o coração acelerado, decidi vasculhar as gavetas da cômoda. Precisava encontrar alguma pista, algo que me ajudasse a sair dali. A primeira gaveta estava cheia de papéis amarelados pelo tempo, e no meio deles, algo chamou minha atenção: fotos. Fotos antigas.

Segurei a primeira delas e meus olhos se arregalaram. Eram fotos dos assassinos. Mas não como eu os conhecia. Não com as máscaras, tatuagens e cicatrizes. Eles eram jovens, normais, antes de serem engolidos pela escuridão que agora habitava suas almas. No verso de cada foto, havia um nome.

A primeira mostrava uma mulher sorridente em um casamento, ao lado de um homem que parecia ser seu marido. Eu a reconheci. Era a mesma mulher que havia matado Thomas. Meu estômago revirou de raiva e desgosto. Amassei a foto com força, sentindo o papel ceder sob meus dedos. No verso, o nome estava gravado: Valéria.

Coloquei a foto de volta e peguei a próxima. Era daquela garota perturbada que agia como uma criança. Na foto, ela era realmente uma criança, segurando um ursinho de pelúcia e sentada em frente a um orfanato. No verso, o nome dela: Clara.

Continuei olhando as fotos, o desconforto crescendo em mim. A próxima mostrava os gêmeos das máscaras. Estavam em um circo, segurando marionetes ao lado de dois adultos que deviam ser seus pais. No verso, os nomes: Javier e Juan.

A seguinte foto me fez estremecer. Era o homem gigante que havia me batido. Ele estava em um ringue de MMA, segurando um cinturão de campeão. De repente, me lembrei de uma notícia dele. Um lutador chamado Raúl, cuja carreira foi destruída depois de matar seu oponente durante uma luta. Como ele havia parado ali?

Meus dedos tremiam ao pegar a penúltima foto. Era do homem que nos ajudou na estrada, aquele que se vestia como padre. Ele estava sendo batizado, já adolescente, em uma igreja. No verso, estranhamente, não havia nome.

A última foto me fez prender a respiração. Era Diabo, mas ele não se parecia com o homem que conheci. Na foto, ele era apenas uma criança. Sem tatuagens, sem piercings, sem chifres implantados. Apenas um garoto com um olhar frio, quase vazio, mas igualmente intenso ao que ele tinha agora. Virei a foto com curiosidade, esperando encontrar o nome dele. Mas no verso não havia um nome, e sim uma mensagem: "Sob o piso."

Ele mesmo deixou o recado para mim?

Meu coração acelerou. Olhei ao redor, tentando entender o que aquela mensagem queria dizer. A câmera no canto do quarto estava quebrada, provavelmente destruída por Diabo como ele havia feito antes. Isso me deu uma pequena sensação de segurança, ao menos ninguém me observava.

Levantei-me e comecei a caminhar pelo quarto, com atenção em cada pedaço do chão de madeira. Foi então que um deles rangeu mais do que o resto. Eu me abaixei, deslizando os dedos pela borda da tábua solta, e a puxei com cuidado. Debaixo do piso, meus olhos se arregalaram ao encontrar um maço de chaves.

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⏰ Última atualização: Nov 06 ⏰

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