PARA ONDE FOI TIFFO?

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Tiffo surgiu no meio de um bosque, cercado por macieiras e goiabeiras.

— Parece que não estou tão enferrujado para isso, afinal — disse ele, contente que o feitiço de teletransporte funcionara. Em seguida, pôs-se a caminhar pelo bosque, procurando com muita atenção por rastros. Nem ele ou seus amigos tinham encontrado alguma coisa no local da morte de Frederico, o pai de Pedro, mas Tiffo estava certo de que os Famintos deviam ter deixado algum registro pela floresta. Pode até ser que alguém tivesse apagado seus traços ao redor da morte de Frederico, mas ali, tão longe da vila, Tiffo certamente veria algo.

E o mago acertou; depois de andar por pouco tempo, deparou-se com grandes marcas na terra, poças de tinta preta. Mas não eram de um preto comum... se pareciam com barro misturado com piche, espessas e com formatos peculiares. Tiffo achou-as parecidas com patas achatadas e largas, o que o deixou ainda mais convencido de que se tratava de Famintos.

O mago andou até observar uma boa quantidade de pegadas, e por fim concluiu que não havia apenas uma dúzia de Famintos. Era um exército com pelo menos cem deles. Quando confirmou que os inimigos estavam numa quantidade tão alarmante, Tiffo teve de parar um pouco de andar, apoiando-se no carvalho mais próximo até que as vertigens passagem.

Foi quando ouviu um berro.

Seus olhos aumentaram de tamanho, ficando parecidos com duas bolas de sinuca.

Outro berro, mas dessa vez ele se atentou bem, percebendo que na verdade eram balidos; uma ovelha gritando de dor!

Apressando-se, correu na direção dos sons terríveis, as perninhas curtas lutando para vencer distância o mais rápido possível.

Por fim chegou à origem das lamúrias, estacando de horror. Viu um cabrito deitado no centro de uma clareira, balindo sem parar, o corpo todo coberto por marcas negras.

— Fique calmo — disse Tiffo, aproximando-se do pobre animal. — Não se preocupe, eu vou ajudá-lo, querido...

Ele parou de falar, encarando as formas escuras que apareceram de repente ao redor da clareira.

O mago levantou seu cajado mágico, sentindo-se acuado e indefeso.

— Céus! — Olhou melhor para as formas escuras, percebendo que elas se mexiam.

Os Famintos pulavam de galho em galho, mostrando os dentes negros e gosmentos, cheios de piche. Eles desceram das árvores e foram para cima de Tiffo, em um grupo de uns trinta indivíduos, todos eles galopando na direção do mago.

Tiffo murmurou um encantamento, e vários raios laranjas saíram do seu orbe cristalino, viajando como uma chuva de meteoros sobre os monstros, que explodiram em gotas de piche assim que a mágica os atingiu.

Mas Tiffo não foi capaz de acertar todos de uma vez. Cerca de dez ainda restavam, grunhindo e avançando sobre a pequena figura de chapéu.

Ele se concentrou, preparando uma magia ainda mais poderosa. Sussurrou encantamentos numa velocidade impossível para bocas humanas, e então, o orbe reluziu em vermelho; uma parede de chamas brotou do cajado, carbonizando os bichos que sobraram.

A clareira ficou silenciosa, agora toda coberta de gosma preta. Tiffo ofegava, e seus braços tremiam um pouco. Fazia tempo que não lutava assim.

Andou lentamente até o cabritinho, mas quando chegou perto do animal, viu que sua respiração já não funcionava.

O mago baixou os olhos de luzes, triste e abatido.

— Descanse em paz, colega...

OS DEFENSORES DA FLORESTA MÁGICAOnde histórias criam vida. Descubra agora