prólogo

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ANGELINA POV

Enquanto batia a massa do bolo com agilidade, apertando a bacia contra o peito, virei-me para Rachel, despejando a mistura na forma. Sentia o peso de seu olhar, como se ela me analisasse com um cuidado quase clínico, nem precisei olhá-la diretamente para perceber.

— Pensando em algo, Rachel? — perguntei, enquanto limpava os últimos resquícios da bacia.

— Vai deixar para mim? — Sua ousadia me surpreendeu, arrancando uma risada involuntária.

— Claro, pode deixar. — Respondi entre risos, entregando a bacia suja de massa de bolo de chocolate para ela, que a recebeu com um sorriso satisfeito. — Mas agora, a sério: o que está acontecendo na sua cabecinha complexa e aborrecente?

— Odeio quando me chama assim.

— Ah, para com isso, você ama.

— Você é impossível, Angelina. — O tom da sua alfinetada me fez revirar os olhos, mas não pude deixar de me render.

— Quer saber? A louça é sua! — exclamei, saindo da cozinha enquanto escutava seu descontentamento. Ri ao me jogar no sofá.

Aproveitei o tempo livre para relaxar, zapeando os canais enquanto o som da torneira preenchia o ar — provavelmente Rachel havia se rendido às minhas ordens.

Não demorou muito para que ela aparecesse atrás de mim, me pegando de surpresa.

— Cacete, Rachel!

— Olha a péssima babá que você é, me fazendo de empregada. — Ela se sentou ao meu lado, com um olhar divertido.

— Eu sou sua cuidadora, meu bem, não sua empregada!

Rachel revirou os olhos, cruzando os braços, mas eu, com um sorriso travesso, me deitei em seu colo, desarmando a raiva que se manifestava em seu rosto. Colocamos um filme para assistir: Meu Primeiro Amor. Não estava no clima para chorar, mas esse filme sempre me cativava em cada sessão da tarde.

Durante o filme, permaneci em silêncio, algo raro entre nós. Então, Rachel pausou a tela e me encarou. Arqueei as sobrancelhas, perguntando-me o que a havia levado a interromper.

— Você se apaixonou quando criança? — Sua pergunta ecoou na minha mente, trazendo à tona lembranças que eu preferiria esquecer.

— Você se apaixonou quando criança? — Sua pergunta ecoou na minha mente, trazendo à tona lembranças que eu preferiria esquecer

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FLASHBACK ON

Era verão, e mais uma vez me encontrava em uma cidade nova. Meus pais mudavam de casa e de cidade com uma frequência que beirava o insuportável; parecia que trocavam de roupas mais vezes do que eu conseguia contar. Aquele ritmo incansável me fazia sentir como uma folha ao vento, incapaz de me apegar a qualquer lugar ou pessoa. A solidão tornara-se minha companhia constante, pois o medo de deixar amigos para trás era mais forte que o desejo de me conectar. Mas Gotham era diferente. Aqui, eu sentia que havia encontrado o lugar definitivo, o lar que tanto buscava.

Nos últimos dois anos, fiz novos amigos, passei por duas séries na mesma escola, decorei meu quarto e pintei as paredes com as cores que refletiam meu eu interior. A sensação de estar em casa era real, mas ela só fazia sentido porque eu havia conhecido ele.

Dick Grayson. Tínhamos apenas 10 e 12 anos quando nossas vidas se entrelaçaram. Vivíamos um na casa do outro, inseparáveis como duas metades de um todo. Dividíamos não apenas nossas alegrias, mas também nossas dores, raivas e tristezas. Eu sempre estava ao seu lado, mas a ideia de um dia não estar mais o aterrorizava. Infelizmente, essa decisão não cabia a mim.

Certa tarde, encontrei-me na mansão de Bruce, o pai adotivo de Grayson. Conhecia cada detalhe sobre Dick; ele confiava em mim como ninguém mais. Portanto, não fiquei surpresa quando ele entrou em seu quarto, batendo a porta e soltando um palavrão em direção a Bruce. Eu estava sentada na cama dele, folheando suas HQs, quando ele entrou, tomado pela raiva.

— Ei, ei, o que aconteceu? — perguntei, levantando-me para ficar ao seu lado e colocando as mãos em seus ombros. Ele se afastou, frustrado.

— O Bruce, como sempre! — Ele respirava fundo, andando de um lado para o outro, como se tentasse dissipar a tempestade dentro dele.

— Brigaram de novo? — Minha preocupação transparecia em cada palavra.

— Sim. — Ele se jogou na cama, cobrindo o rosto com as mãos.

— Por quê? — Sentei-me ao seu lado, mantendo uma distância respeitosa, mas disposta a me aproximar.

— Existem coisas que você não entende, Lina. — Ele não olhava para mim, e eu podia ver a dor estampada em seu rosto.

— Eu não entendo, mas quero tentar ajudar você. — Acalmei minha voz, e com o tempo, percebi que ele começava a relaxar também. — Dick, você não precisa ser… — Seu olhar finalmente se elevou para mim, uma mistura de desespero e vulnerabilidade. — O cara mau.

Os olhos de Grayson estavam marejados, e eu sentia sua dor como se fosse a minha. O peso que ele carregava no peito era palpável, e a urgência de aliviar seu sofrimento me fez abraçá-lo. Por um momento, ele hesitou, mas logo se entregou ao abraço, como se, naquele gesto, eu estivesse tirando parte daquela dor dele, como uma transfusão de alívio. Eu realmente estava, literalmente.

Passamos a tarde juntos, brincando e nos divertindo, como se o mundo ao nosso redor pudesse esperar. Ao voltar para casa, porém, a realidade me atingiu como um soco no estômago. Meus pais estavam encaixotando nossos móveis e guardando minhas roupas em malas. A cena era assustadora, um pesadelo do qual eu desejava despertar.

— Meu amor, calma! Está tudo bem agora. Encontramos o novo lugar! — Meu pai tentava me acalmar, acariciando minhas costas com ternura.

— Essas mudanças vão acabar, finalmente vamos para o lugar certo! — Minha mãe completou, seu olhar sério e rosto fechado, típico de anjos.

— Aqui é o meu lugar certo! Com o Grayson! — Minha voz se elevou, uma explosão de emoção que eu não conseguia conter.

— Não! — Ela respondeu com rispidez, se aproximando de mim. — Seu lugar é ao lado da filha de Trigon, zelando por sua alma para que não se corrompa. Você só existe para isso. Cumpra sua missão, Angelina.

Dick nunca deixou minha mente. Seu rosto, seu sorriso, apareciam nos momentos mais inesperados, desde a simplicidade de bater a massa de um bolo até a distração de assistir a um filme na TV. Era como se ele estivesse sempre presente, uma sombra suave em minha rotina, mas havia responsabilidades maiores que não podiam ser ignoradas. O destino do mundo estava em minhas mãos, e eu não podia me dar ao luxo de virar as costas para a missão que me fora confiada desde que cheguei a esta terra.

FLASHBACK OFF

— Angelina! Me responde caramba! — Rachel exclamou com o tom de voz elevado.

— Hum oque?! — Disse um pouco perdida.

— Eu já te perguntei três vezes!

— Pergunta denovo ué.

— Aff. — Ela rolou os olhos para trás. — Você se apaixonou quando criança? — Ela pergunta curiosa, eu sorrio arrancando o controleda TV de suas mãos e despausando o filme.

— Sim, Rachel.

Assombrado Por Angelina - Dick Grayson [TITANS FANFIC]Onde histórias criam vida. Descubra agora