O EXÉRCITO DE FAMINTOS

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Quando Tiffo retornou à vila, ele contou aos companheiros o que se passara na floresta.

— São muitos deles! Muitos mais do que eu imaginava!

Leon e Matilde ficaram aterrorizados com o relato, e assim que o mago terminou de contar tudo, eles reuniram os camponeses no pátio da muralha.

Matilde estava no adarve, olhando para a floresta. Trazia o rifle mágico nas mãos, aguardando sinal de movimento.

Já Tiffo e Leon ficaram no pátio, esperando por avisos da amiga.

Estavam todos prontos para defender o Cristal Vital com unhas e dentes.

Depois de um tempo, o primeiro sinal de perigo apareceu: as folhas das árvores se mexeram, indicando que algo se movimentava por elas. Então surgiu dos bosques uma figura toda vestida numa capa negra, o rosto encoberto pelo capuz; apenas seu nariz longo estava visível, fungando os odores do ambiente.

Matilde colocou a luneta do rifle sobre o homem, mirando bem antes de gritar:

— Identifique-se, ou eu vou disparar em você!

O feiticeiro gargalhou, e os arbustos atrás dele farfalharam mais ainda.

— Eu sou Alfredo! — berrou. — Tudo o que peço é que entreguem o Cristal Vital a meu mestre, e o permitam recuperar seus poderes...

Gritos de horror percorreram a muralha. Tiffo e Leon se entreolharam, aterrorizados.

— Você nunca terá o Cristal Vital! — respondeu Matilde. — Nós estamos aqui para protegê-lo! Caso não se retire, serei forçada a ordenar que meus homens ataquem!

Alfredo abriu um sorriso amarelo por debaixo do capuz, e ficou olhando com ódio para Matilde, até que finalmente exclamou:

— Criaturas! Matem todos eles! — Famintos saíram aos montes de dentro da floresta, e começaram a correr para a muralha.

Eles se pareciam com um enxame de marimbondos, rosnando e colidindo uns com os outros, os corpos de piche negro povoando a vista dos camponeses.

Então, Matilde deu a ordem:

— Fogo, homens!

BANG! BANG! BANG! — Luzes iluminaram o adarve; os rifles cuspiram balas, que choveram sobre os Famintos, fazendo muitos deles terem as cabeças arrancadas, explodindo em múltiplas gotas negras.

Mas os bichos eram tantos que isso não foi o bastante. Mesmo que os camponeses não parassem de atirar, a onda escura continuou seu caminho até a muralha, e os Famintos treparam sobre ela, mais furiosos do que nunca. Suas bocas se abriram em exclamações bestiais, sedentas por sangue.

Matilde apontou sua arma para os mais próximos dela, que tinham escalado bons metros da muralha. Matou mais de dez, não errando nenhum alvo. Os bichos caíram com perfurações letais em seus corpos, perdendo-se na multidão de monstros lá embaixo.

— Vamos precisar descer para o pátio! — disse Matilde aos camponeses. — Ou eles vão subir e nos pegar aqui...

Assim que ela terminou de falar, um homem que estava atirando da muralha foi puxado para baixo por mãozinhas asquerosas e grudentas. Quando Matilde se deu conta, o pobre coitado berrava e se contorcia no meio de vários Famintos, que o morderam até não restar nada a não ser um monte de ossos com sangue.

Todos no parapeito ficaram aterrorizados, e desceram as escadas até o pátio. Matilde os seguiu; ela estava toda suada, levantando sua arma a cada dois segundos para abater um Faminto que pulava sobre o adarve.

Leon e Tiffo, que se encontravam no pátio com seus camponeses, imediatamente correram para ajudá-la.

Tiffo lançou uma bola de fogo em três Famintos que desciam as escadas, os desintegrando, e Leon golpeou com a espada dois deles, cortando suas cabeças.

— Você está bem? — disse Leon, dirigindo-se a Matilde.

A mulher assentiu, engolindo em seco.

— Eles são muitos — disse ela. — Não seremos capazes de aguentar tantos.

— Eu vou ganhar tempo — falou Tiffo, colocando-se na frente dos dois e levantando o cajado. — Recuem com os camponeses para o pátio do Cristal Vital, e não deixem que nada aconteça a ele!

— Não, Tiffo! — disse Leon, puxando o mago pelo ombro. — Você vai morrer aqui; precisa ir com a gente!

— De jeito nenhum! — O mago o encarou. — Esse é o meu trabalho. Andem logo!

Matilde e Leon não tornaram a discutir com ele, pois muitas criaturas das trevas saltaram a muralha naquele instante, descendo os degraus a toda velocidade.

— Corram! — gritou Leon. — Recuem e protejam o Cristal!

Os dois defensores e os camponeses seguiram desembestados pela rua principal, todos muito amedrontados e nervosos.

Apenas Tiffo ficou no pátio, encarando a imensa horda de inimigos que vinham em sua direção.

Munido do cajado, começou a atirar feitiços. Raios de luz, trovões e jatos de fogo... Tiffo usou todos os recursos que tinha para impedi-los. E muitos morreram, sendo completamente obliterados pelas magias, transformando-se em poças negras e gordas. Mas eram tantos que o pobre Tiffo não dava conta. Já estava ofegante, e mais Famintos pularam do adarve e correram para cima dele.

— Droga! Não vai dar pra mim! — O mago então conjurou um escudo azulado de energia ao redor de si, e saiu arfando pela rua principal, vários Famintos em seus calcanhares.

Na praça do Cristal, Leon e Matilde se reuniam com os camponeses; todos ficaram em volta do grande bloco de vidro.

— Olha! — disse Matilde. — O Tiffo está vindo.

— Mas têm um monte de Famintos atrás dele — disse Leon. — Porcaria! Vamos, Tiffo, anda!

— Eu vou ajudá-lo — disse uma voz.

Os dois defensores se viraram, dando de cara com Pedro, que se aproximava deles com uma espada nas mãos.

— Você perdeu o juízo, Pedro? — indagou Matilde, os olhos arregalados de desespero. — Tiffo já ficou para trás, e mesmo sendo um mago, não foi páreo para eles. Deixe-o correr até nós, e enfrentaremos os Famintos juntos.

Mas o que ela falou foi completamente inútil. O jovem já corria na direção do exército de monstros, a espada levantada sobre a cabeça.

— Pelo meu pai! — berrou, e jogou-se sobre as criaturas.

OS DEFENSORES DA FLORESTA MÁGICAOnde histórias criam vida. Descubra agora