Quebrando Muros

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Os dias que seguiram foram um misto de descobertas silenciosas e momentos de diversão espontânea. Brasil, com seu jeito expansivo, continuava a arrastar Rússia para atividades que normalmente ele evitava. Passeios pela cidade, festas, futebol, tudo era uma oportunidade para mostrar a Rússia que a vida não precisava ser uma sucessão de controles e contenção. E Rússia, por sua vez, encontrava uma estranha paz nessas experiências, mesmo quando achava que aquilo estava muito fora de sua zona de conforto.

Naquela noite, porém, as coisas pareciam diferentes. O céu estava encoberto, pesado, como se uma tempestade estivesse a caminho. Brasil e Rússia haviam passado o dia inteiro juntos, como vinha sendo de costume, mas o silêncio entre eles agora era diferente. Não era mais desconfortável, mas carregava um peso, como se algo estivesse prestes a ser dito, algo que ambos ainda não tinham coragem de abordar.

Eles estavam sentados no terraço do prédio de Brasil, uma visão ampla da cidade brilhando à distância. As luzes pulsavam como o coração da cidade, uma energia vibrante que Brasil conhecia tão bem. Ele sempre adorara aquela visão, mas hoje, ao seu lado, estava Rússia, e o contraste entre os dois fazia com que a cena parecesse mais complexa do que nunca.

"Você sente falta de casa?" Brasil perguntou de repente, rompendo o silêncio que havia se instalado entre eles.

Rússia estava com os braços cruzados, olhando para o horizonte, mas sem realmente ver. "Às vezes", respondeu ele, sem muita emoção. "Mas eu estou acostumado a não pertencer a lugar nenhum por muito tempo."

Brasil virou-se para ele, tentando captar mais do que apenas as palavras. "Como assim?"

Rússia suspirou, seu olhar ainda perdido na vastidão da cidade. "Eu não sou como você, Brasil. Você tem raízes em tudo que faz, em cada lugar que vai. Eu sou... mais isolado. Prefiro manter distância porque é mais fácil assim."

Brasil não respondeu imediatamente. Ele sabia que, de certa forma, isso era verdade. Ele era o tipo de pessoa que se jogava em tudo, que criava laços com facilidade. Mas sabia também que isso não era sempre uma escolha consciente, e às vezes era exaustivo. Ele entendeu o que Rússia estava dizendo, mas ainda assim, algo nele não aceitava que essa distância fosse o único caminho.

"Eu entendo querer se proteger," Brasil começou, cuidadosamente escolhendo as palavras, "mas às vezes, você acaba se isolando de coisas que poderiam ser boas."

Rússia permaneceu em silêncio por um momento, como se ponderasse as palavras de Brasil. Finalmente, ele se virou e o olhou nos olhos. "E o que acontece quando você se aproxima demais de algo que não deveria? Quando se deixa vulnerável demais?"

Brasil sorriu de um jeito suave, mas com uma determinação que Rússia estava começando a conhecer bem. "Aí você aprende a lidar com isso. Aprende que nem sempre precisa ser tão forte, que às vezes pode confiar em alguém. E que, às vezes, não é fraqueza baixar a guarda."

Rússia olhou para Brasil por um longo momento, suas expressões uma mistura de resistência e curiosidade. Ele queria acreditar nisso, queria confiar na leveza que Brasil trazia consigo, mas havia anos de distância emocional construídos ao redor de seu coração. Ainda assim, algo em Brasil o puxava para fora desse isolamento, quebrando os muros que ele havia erguido tão cuidadosamente.

Sem dizer nada, Brasil pegou uma garrafa de cerveja que estava ao seu lado e entregou a Rússia. "A vida é curta, cara. Vamos fazer um brinde, vai." Ele ergueu sua própria garrafa, um sorriso encorajador nos lábios.

Rússia hesitou, mas então, lentamente, ergueu a garrafa também. "A quê?"

Brasil pensou por um momento e então respondeu, com seu sorriso característico: "A deixar a vida nos surpreender."

Rússia soltou um leve suspiro, mas o toque das garrafas ecoou suavemente no ar noturno. O som foi seguido por um silêncio confortável, o tipo que Brasil sempre buscava quando estava perto de Rússia, e que agora parecia cada vez mais comum entre os dois.

Quando a primeira gota de chuva caiu, Brasil olhou para o céu. "Ah, não..." Ele começou a rir. "Acho que a tempestade finalmente chegou."

A chuva veio, primeiro suave, depois mais pesada, caindo como uma cortina sobre a cidade. Rússia ficou ali, parado, sem se mover, mas Brasil, como sempre, reagiu de forma diferente. Ele se levantou, de braços abertos, como se acolhesse o aguaceiro, rindo alto, a água escorrendo por seu rosto.

"Vem, Rússia!" Brasil gritou, tentando puxá-lo para o centro da chuva.

Rússia observou aquela cena por um segundo, sentindo algo dentro de si se mexer, como se a barreira que ele sempre mantivera firme começasse a ceder. E então, sem pensar demais, ele se levantou e deu alguns passos para frente, até estar ao lado de Brasil, com a chuva caindo sobre eles.

"Você é maluco," disse ele, com um leve sorriso no canto dos lábios.

Brasil, ainda rindo, olhou para ele, o rosto iluminado pelo brilho das luzes da cidade refletidas nas gotas de chuva. "Talvez eu seja. Mas pelo menos estou aproveitando."

Rússia balançou a cabeça, mas pela primeira vez, ele não se conteve. Deixou-se rir, um som baixo, quase imperceptível, mas que Brasil captou instantaneamente. Naquele momento, o gelo entre eles havia finalmente começado a derreter, como as primeiras gotas de chuva sobre o solo seco.

Enquanto a tempestade continuava, Brasil e Rússia ficaram ali, juntos, em silêncio. As barreiras invisíveis que os separavam estavam desmoronando, e pela primeira vez, ambos se permitiam sentir o que realmente estava por vir.


Notas: olá peoples good life? I'm bilíngue ksksks enfim to na aula de inglês aqui beijos😽

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