Quando as Barreiras Caem

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Era tarde da noite quando Brasil e Rússia chegaram à pequena casa onde estavam hospedados. O ar estava carregado de um silêncio confortável, mas também de uma tensão não resolvida, como se algo estivesse prestes a se revelar. O lugar era simples, acolhedor, um refúgio temporário em meio ao caos de suas rotinas e responsabilidades.

Brasil, mais inquieto do que o normal, jogou-se no sofá da sala, enquanto Rússia se acomodava de maneira mais contida na cadeira ao lado. O ambiente era iluminado apenas pela luz fraca do abajur, criando sombras suaves nas paredes. Por um momento, nenhum dos dois disse nada, apenas respiravam o mesmo ar, como se estivessem tentando sintonizar seus pensamentos.

"Então, o que você vai fazer amanhã?" perguntou Brasil, quebrando o silêncio, mas ainda evitando o verdadeiro assunto que pairava entre eles.

"Não sei," respondeu Rússia, lacônico como sempre, mas havia algo de diferente em seu tom. Ele estava mais relaxado, quase como se tivesse se permitido baixar a guarda por completo.

Brasil se virou, apoiando a cabeça no braço do sofá, olhando diretamente para ele. "Você realmente nunca relaxa, né?" disse ele, com um sorriso de canto. "Eu achava que o difícil seria fazer você sair da sua zona de conforto, mas parece que a parte mais complicada é te fazer ficar."

Rússia suspirou, os olhos voltando-se para o chão. "É mais fácil manter o controle assim... mas acho que você já percebeu isso."

"Sim, mas também percebi que não precisa ser sempre assim," disse Brasil, agora em um tom mais sério. Ele se sentou, inclinando-se para a frente, os cotovelos apoiados nos joelhos. "Você pode ter seus momentos de controle, mas também pode... se soltar, de vez em quando."

Rússia levantou o olhar, encontrando os olhos de Brasil. Por um momento, o silêncio entre eles voltou, mas dessa vez, era denso, carregado de emoções não ditas.

"Por que você faz isso?" Rússia finalmente perguntou, sua voz saindo mais baixa do que ele esperava.

"Faço o quê?" Brasil parecia genuinamente confuso.

"Por que você insiste tanto em me entender? Por que não me deixa no meu canto, como todo mundo faz?" A pergunta estava cheia de uma angústia que Rússia raramente deixava transparecer.

Brasil respirou fundo, sentindo o peso daquelas palavras. Ele nunca pensara muito nisso, apenas seguira seu instinto. Mas, agora que Rússia o forçava a confrontar a questão, ele percebeu que talvez houvesse mais ali do que ele estava disposto a admitir.

"Talvez porque eu veja algo em você que ninguém mais vê," respondeu Brasil, com uma honestidade desconcertante. "Talvez porque eu goste de desafios, e você, meu caro, é o maior de todos."

Rússia estreitou os olhos, tentando decifrar o que Brasil realmente queria dizer com isso. "Desafios?"

Brasil riu suavemente, mas não de forma debochada. "Você sabe do que eu estou falando. Você se fecha para o mundo como se estivesse em constante batalha. Mas, de algum jeito, eu consigo ver além disso. E, honestamente, eu não consigo ignorar."

Rússia ficou em silêncio, suas mãos apertadas no colo. As palavras de Brasil ressoavam dentro dele, quebrando pedaços de uma muralha que ele levara anos para construir. Ele não sabia como responder. Por um lado, queria se afastar, voltar para sua zona de segurança, onde tudo era previsível. Por outro, havia algo em Brasil que o fazia querer ficar. Algo nele que o fazia sentir-se visto de uma maneira que ninguém mais tinha sido capaz.

Brasil se levantou, caminhando até Rússia e parando ao lado dele. "Eu não quero te forçar a nada, Rússia. Mas eu acho que você precisa ouvir isso: não há problema em deixar alguém entrar. Não é fraqueza."

Rússia levantou o olhar, e naquele momento, ele sabia que Brasil estava certo. Ele sempre vira a vulnerabilidade como uma fraqueza, mas com Brasil, parecia... diferente. Parecia que, talvez, confiar em alguém pudesse ser uma forma de força.

"E se eu não souber como fazer isso?" Rússia admitiu, sua voz quase um sussurro.

Brasil sorriu de forma suave, abaixando-se para ficar na mesma altura que ele. "Eu vou estar aqui para te ajudar. A gente pode descobrir isso juntos, lembra?"

Os dois ficaram ali, imóveis por alguns instantes, o ar ao redor deles carregado de uma conexão que ia além de palavras. Era como se, finalmente, os muros tivessem caído por completo. Rússia, que sempre mantivera uma postura de controle, agora se permitia sentir o que sempre temera.

Brasil, por outro lado, sabia que este era um momento delicado. Ele estendeu a mão, tocando levemente o ombro de Rússia, um gesto simples, mas cheio de significado. Rússia não recuou. Pela primeira vez, ele deixou o toque permanecer, permitindo-se sentir a proximidade sem as defesas habituais.

"Obrigado," Rússia murmurou, quase imperceptivelmente.

Brasil apenas sorriu, sem necessidade de resposta. Ele sabia que esse pequeno passo significava muito para Rússia, e isso era o suficiente.

Notas: olá povinho!!! Desculpa por não ter postado ontem aqui no RS teve temporal daí fiquei sem luz, sem água e sem internet, desculpa mesmo vous postar dois hoje para me redimir😞

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