Capítulo 15 - Emoção repentina 2

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   Naquela noite, o sono parecia uma batalha perdida. Será que era a ansiedade de encontrar Shen? Ou talvez a inquietação por causa da criatura que eu tinha enfrentado? Ignorar esses pensamentos já não estava mais funcionando. O que eu deveria fazer?

Rolei de um lado para o outro na cama, tentando encontrar uma posição que trouxesse algum alívio. Em algum momento, acredito que acabei caindo no sono, pois despertei com o som abrupto do rádio, me arrancando de um sonho que já não conseguia lembrar.

Levantei-me lentamente, ainda meio sonolenta, enquanto minha mãe já estava na cozinha preparando o café da manhã. O aroma do café fresco se misturava com o som suave da música de fundo que saía do rádio.

— As pessoas estão ficando mais tristes a cada dia... — disse o locutor da rádio, sua voz grave preenchendo o ambiente. - A pressão do mundo força isso em nós, tristeza, raiva, egoísmo. Estamos cada vez mais cercados por essas emoções. E aqueles que podem fazer uma mudança escolhem se isolar em falsas ilusões.

Minha mãe assentiu em silêncio, como se estivesse em um diálogo silencioso com a voz do rádio, completamente envolvida pela mensagem.

— Mas está tudo bem... — continuou o locutor, com um tom mais leve. — Se o peso do mundo for demais para você, eu estou aqui para tentar alegrar seu dia, porque, no fim, o anoitecer sempre traz consigo um novo amanhecer.—

— Já vai, Mei? — minha mãe perguntou, virando-se para mim, o olhar ainda distante das reflexões que o locutor provocara.

— Já sim, não quero chegar atrasada.— Respondi, pegando um cacho de uvas e meu lanche.

Enquanto me preparava para sair, minha mãe, com um leve entusiasmo nos olhos, sugeriu:
— Hoje eu vou tentar instalar uma daquelas portinhas de cachorro para o Dai. Quer me ajudar depois da escola?—

Eu hesitei por um momento, vendo sua animação, mas logo lembrei do meu compromisso.
— Não vou poder. Marquei de estudar com as meninas hoje. — Falei, tentando soar casual, mas ao ver a decepção em seu rosto, senti um aperto no peito.

— Ah... tudo bem... - ela murmurou, o tom de empolgação desaparecendo. — Só não chegue tarde...

Dei um último carinho na cabeça de Dai, que estava deitado, observando tudo com aquela calma típica dele.
— Tchau, mãe, até mais tarde. — E saí pela porta, com um suspiro silencioso.

Quando cheguei ao andar de baixo, notei que Dai tinha me seguido.

— Volta pra casa, Dai! — Ordenei, apontando para a entrada do prédio. - Você vai se perder se ficar na rua!

Ele, no entanto, apenas me ignorou, com o olhar determinado de quem não iria voltar. Insisti algumas vezes, mas parecia inútil. Eu teria que ir para a escola com um "segurança" de quatro patas. Não pude evitar um sorriso, apesar da preocupação de ele acabar se perdendo.

— Ah, Liu Mei, você só encontrou esse cachorro ontem... — pensei comigo mesma, tentando racionalizar. Mas, logo rebati a lógica em minha mente. - Cala a boca, lógica! Esse cachorro é meu agora, ponto final.

Assim que cheguei à escola, fui surpreendida por uma voz familiar e um empurrão suave nas costas.

— Dessa vez eu cheguei cedo! — Shen riu, me provocando.

— Oi! Parece que hoje trocamos de papéis, né? — Respondi, retribuindo o sorriso.

— Não sabia que você tinha cachorro. — Ele se aproximou para fazer carinho em Dai.

Mas Dai não parecia tão entusiasmado com a ideia. Ele fixou os olhos em Shen com uma expressão nada amistosa, o que fez Shen hesitar.

— Ele morde? — Shen perguntou, agora cauteloso.

Rastro dos Antigos Terror imensurávelOnde histórias criam vida. Descubra agora