1 - Intro.

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Quinze anos depois


Vou te contar qual é o problema da brincadeira de esconde-esconde.

Em algum momento, você é encontrada.

De fato, é muito bom enquanto você está escondida — a adrenalina, o pulsar forte do coração, a expectativa de que vai conseguir, de que você é a melhor, de que tudo deu tão certo até agora e, por isso, ninguém é páreo para você. Eu era mesmo a melhor em me esconder. Ou, pelo menos, pensava que era.

Quando você é achada, fica tudo sem graça. É frustrante. Todo o seu empenho em buscar o melhor esconderijo... para nada. No final, absolutamente nada. Qual é o próximo passo do escavador depois que ele encontra o ouro? Qual é o próximo passo do ouro? Esse é justamente o ponto esquivo, aquele traço errado que desanda todo um projeto, o x que você rabiscou no local errado de uma equação. Parece que quanto mais você tenta se esconder... ah, é aí que te acham, amichetta.

Sinceramente, diga-me, o que é que eu poderia fazer? O que mais eu poderia ter feito?

Eu deveria ter ficado à mostra quando na verdade eu não queria ser encontrada? Deveria torcer para que a psicologia reversa fizesse efeito? Mesmo? Uma vez a cada vinte anos? Sem comprovação de eficácia? Convenhamos, você não faria isso no meu lugar. Não, não: muito pelo contrário. Tenho certeza de que você perderia noites de sono tentando calcular, ruminando incansavelmente, se perguntando de novo e de novo "mas esse não era o esconderijo perfeito?", e depois "por que esse não era o esconderijo perfeito?", e em seguida "esse deveria ter sido o esconderijo perfeito!". E eu me esforcei tanto.

Vou te contar um pouco sobre o meu esconderijo. Mas é secreto, hein?

Minha humilde residência fica no segundo andar de um prédio antigo residencial em uma pacata e pitoresca rua chamada Via Libertà, em Santa Fiora. É uma vila situada na província de Grosseto, em Toscana, na Itália.

Específico, né? Bem, é aqui que vivo desde os meus doze anos. Graças a ele. Graças a esse homem com o qual tenho brincado de esconde-esconde desde então, unilateralmente.

Eu já decorei cada rachadura no asfalto e sou amiga até dos prestadores de serviços públicos que vêm a cada quatro anos refazer a pintura das faixas de pedestres e vagas de estacionamento. Reguei e vi plantas e flores nascendo e morrendo inúmeras vezes na minha residência e nas vizinhas. Sei o nome da irmã ou tia ou prima ou filha ou filho ou neta ou neto de cada uma das senhoras com quem converso toda semana, quase todos os dias, moradoras da mesma rua que eu — ou moradoras da libertà, como costumamos falar —, e até fazemos caminhadas matinais juntas. Sempre nós três: eu, Amélia e Lorie. Sei até mesmo o que elas costumam comer em seus respectivos cafés da manhã.

As únicas amizades que tenho e que não estão nos arredores da terceira idade, moram distante — especificamente lá no centro da comuna, onde fica o meu bar e onde eu os conheci —, e estes jamais vieram me visitar. "Tanto verde cansa", disse Penny sobre as vegetações de todo o caminho até o meu bairro. É um lugar bem escondido entre as árvores, como eu sempre quis. E, aliás, Penny nem é uma amiga, e sim uma funcionária.

Fiz questão de me certificar um milhão de vezes antes de tirar o bar do nome da minha mãe e pôr no nome da dona Lorie, que não tem qualquer parentesco comigo. Mesmo se ele pesquisar por Cecilia de La Torre na internet, não encontrará qualquer bem material que indique em qual espaço no mundo eu estou. Não existe qualquer comprovante de que eu estou viva online. Nunca criei contas em redes sociais — não sei como elas funcionam, o meu celular só faz ligações e envia torpedos. Até Amélia tem um celular melhor que o meu, e eu nem sou pobre.

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⏰ Última atualização: Oct 19 ⏰

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hiding || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora