Connecticut,
Nova Inglaterra
A brisa fria da nova cidade parece sussurrar segredos que eu ainda não estou pronta para ouvir. A casa na foto era maior do que a antiga, mas sentia que cada parede carregava um peso que eu não conseguia suportar. A mudança foi a tentativa da minha família de deixar o passado para trás, mas como se faz isso quando o passado ainda vive dentro de você?
A lembrança do boneco queimado ainda estava fresca na minha mente. Eu deveria sentir alívio, mas o vazio que ficou parecia mais opressor. Chucky, com sua risada sarcástica e suas palavras de conforto distorcidas, sempre soube como me entender, mais do que qualquer pessoa. E agora, ele não está mais aqui.
Minha mãe dirige, com os olhos fixos na estrada, enquanto minha irmã mais nova, com apenas quatro anos, brinca com um brinquedo sem saber do peso que eu carrego. A visão dela me fez lembrar de como eu costumava ser—ingênua, despreocupada. Agora, sou apenas uma sombra do que fui, uma garota solitária, marcada por um passado que não consigo esquecer.
"Não se esqueça de levar e buscar sua irmã na creche," disse meu padrasto, quebrando o silêncio. Aquela responsabilidade era mais uma carga que eu não queria. Como eu poderia me preocupar em cuidar dela quando mal conseguir cuidar de mim mesma?
"Claro," respondi, mesmo sabendo que era uma mentira. A verdade é que eu estou aterrorizada. O que vou fazer quando a curiosidade dos vizinhos surgir? Sobre o boneco? Sobre o que ele fez? Ou sobre como, mesmo queimado, ele ainda me assombra?
Assim que chegamos, saí do carro e olhei para a casa. As janelas pareciam me observar, como se soubessem o que eu havia passado. Meu coração acelerou ao pensar que, a partir daquele momento, tudo poderia mudar—ou tudo poderia ficar ainda mais pior.
Eu respirei fundo e me forcei a entrar. A nova casa era um espaço vazio, mas minha mente está cheia de ecos do passado. E enquanto minha família tenta seguir em frente, eu sei que as sombras nunca me deixarão.
A nova casa é impressionante. Com sua fachada elegante e janelas grandes que deixam a luz entrar, parece uma daquelas casas que aparecem em revistas de decoração. O interior tem um ar sofisticado, com paredes em tons neutros e móveis modernos que exalavam conforto. Eu não consigo negar: é linda. Mas, ao mesmo tempo, cada canto parece gritar por normalidade, algo que eu estava tentando encontrar, mas que parece tão distante.
Enquanto ajudo a descarregar as caixas do caminhão, não pude deixar de pensar na distância que havia crescido entre mim, minha mãe e meu padrasto. O passado não era algo que se apaga facilmente. As memórias das noites em que eu acordava assustada, lembrando do boneco e das atrocidades que ocorreram, ainda me assombram. Eu me sinto um pouco isolada, como se essa casa bonita fosse um lembrete constante das coisas que nunca poderiam ser completamente esquecidas.
Por outro lado, havia um alívio em saber que, apesar do escândalo e das consequências que minha ações ao me aliar ao Chucky trouxe, a relação entre minha mãe e meu padrasto parecia intacta. Ele era um executivo de sucesso, e ela sempre trabalhou em marketing, então, mesmo com tudo o que aconteceu, eles conseguiram se manter firmes no trabalho. Isso me dava uma pequena sensação de conforto. Pelo menos, não havia mais tensão entre eles por minha causa, e isso me fazia sentir que, talvez, eu não fosse um peso tão grande assim.
Enquanto observo a casa, uma parte de minha deseja que essa mudança fosse o começo de algo novo. Mas outra parte sabe que as cicatrizes do passado ainda estão lá, escondidas.
[...]
O relógio na parede marcava 19h30 quando o cheiro de comida começou a invadir as minhas narinas. Era um cheiro reconfortante, mas eu me sentia mais como uma estranha do que uma pessoa que morasse aqui. Minha mãe estava de frente pro fogão, tentando criar um ambiente acolhedor, enquanto eu me sentava à mesa, olhando para o prato como se ele pudesse me dar respostas.
"Caroline, você gostou da casa?" minha mãe perguntou, tentando quebrar o gelo.
"É bonita," respondi, evitando o olhar dela. "Luxuosa, na verdade."
"Luxuosa, sim," meu padrasto comentou, com um tom seco. "Só espero que você não se sinta confortável demais aqui. A vida não é só sobre conforto." Ele olhou para mim, quase como se estivesse esperando uma reação.
"E-eu sei," murmurei, sentindo a tensão aumentar. "Não sou uma criança."
"Às vezes, é difícil perceber isso," ele respondeu, a frieza na voz me fazendo sentir um nó no estômago.
Minha mãe tentou intervir. "Olha, mudança é difícil mesmo. Caroline só precisa de um tempo para se ajustar."
"Tempo? Tempo é o que ela teve, e ainda continua presa no passado," ele comentou, cruzando os braços. "O passado não vai simplesmente desaparecer, Caroline."
A cicatriz das memórias pesava sobre mim, e eu queria gritar que não era tão simples. Que estou tentando com todas as minhas forças. Mas as palavras morreram na minha garganta. Em vez disso, apenas olhei para o prato, tentando não deixar as lágrimas escorregarem.
"Por que você não fala sobre a faculdade?" minha mãe sugeriu, mas havia um nervosismo em sua voz que não me passava segurança.
"Não vou para a faculdade," respondi, a frustração transparecendo. "Não estou em condição de... lidar com isso."
"Você precisa se fazer forte," meu padrasto insistiu, sua expressão inabalável. "O mundo não vai esperar por você."
Eu respirei fundo, tentando manter a calma. "Eu sei disso."
Tudo ficou em silêncio novamente, exceto pelo som dos talheres batendo nos pratos. A mesa era bonita, com uma toalha branca e pratos que pareciam mais adequados para um restaurante chique do que para uma refeição em família. Minha mãe tentava quebrar mais uma vez ter um diálogo.
“Então, Caroline, você já pensou em como será sua nova rotina aqui?” ela perguntou, tentando soar animada.
“Não sei… Acho que vou apenas ficar por aqui mesmo,” respondi, olhando para o meu prato. O cheiro da comida era bom, mas minha fome tinha ido embora.
Meu padrasto interrompeu, com a voz dura. “Você só quer chamar atenção, não é? Ficar se escondendo nos cantos, se comportando como se fosse uma garota estranha. Deveria parar com isso e agir como alguém da sua idade.”
O impacto das palavras dele me atingiu como um soco no estômago. “Sério? É assim que você me vê?” perguntei, a incredulidade transparecendo na minha voz.
“Sim, é. Você precisa parar de fazer drama,” ele respondeu, sem hesitar. “A vida não é só sobre você.”
Eu olhei para minha mãe, esperando que ela intervisse, mas ela apenas desviou o olhar, como se estivesse tentando evitar um conflito. “Caroline, talvez seja melhor você… não o responder. Ele só está tentando ajudar,” ela disse, com um tom que soava mais como um pedido do que uma defesa.
“Ajuda? É isso que você chama de ajuda?” retruquei, a frustração crescendo. “Achei que você estaria do meu lado, mas parece que você só quer agradar a ele.”
Ela me lançou um olhar desapontado, e meu coração apertou. Como eu cheguei a esse ponto, onde até minha própria mãe parecia estar do lado dele?
O silêncio se instalou, mais pesado e mais desconfortável, enquanto arrumamos nossos pratos. A comida pode estar boa e podemos até parecer uma família como qualquer outra, mas a verdade era que eu sinto que estou me perdendo em uma casa que deveria ser um novo começo, mas que só parece amplificar a distância entre nós.
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A maldição de Chucky
FanfictionUm dark romance sobre Caroline, que agora tem 18 anos, e Chucky, que reencarna no corpo de um homem de 25 anos.