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vinte dias para a despedida.

Helena

── Nossa, finalmente deu as caras! — Marina falou enquanto eu me aproximava e eu dei risada.

── Foi mal, galera, vida corrida, muito trabalho, burocracia, tirei essa última semana para atualizar o passaporte e começar a arrumar as malas. — Me justifiquei. ── Como se sente sendo mãe de menina oficialmente?

── Feliz, eu acho. — deu de ombros. ── Tô bem animada. E você? Quanto tempo falta para ir oficialmente embora?

── Vinte dias, aproximadamente. Meio que passou voando. — Desabafei.

── O Gabriel antes de ir para o Rio falou que ce parecia bem mal. — Sophia contou e eu fechei os olhos.

Mal. Eu não estou totalmente bem, eu já falei sobre, eu to feliz com a oportunidade mas triste de perder pessoas. Ele viu isso, sentiu comigo, passamos todo esse tempo grudados. Faz uns dois dias só que nós não estamos tão próximos.

── É, eu não to. Espera, Rio? — Mudei minha entonação sem perceber e encarei minha cunhada.

── É, ele tá no Rio de Janeiro com o Pedro. — Marina continuou e eu entreabri a boca. ── Como assim você não sabia?

── O Gabriel tá fazendo o que no Rio de Janeiro?

── Pedro foi competir e ele acompanhou. Ele não te contou?

── Não!

Eu estava incrédula, claramente desapontada com a mentira dele e não iria esconder isso.

── Eles foram quando?

── Ontem de manhã.

Nós passamos o dia conversando pelo celular e ele não me disse nada, não postou nada. Não que eu deva controlar os passos dele mas eu sou a namorada dele, tenho direito de saber onde ele anda e com quem ele anda, satisfação e respeito, quando é o contrário ele também cobra e surtaria em uma situação assim. Eu peguei meu celular e disquei o número dele enquanto ia para a varanda, tendo mais privacidade.

── Você tá no Rio de Janeiro? — Perguntei após ele atender e ouvi seu suspiro. ── Gabriel!

── Por que você já tá surtando, Helena? — Resmungou e eu arqueei as sobrancelhas, surpresa.

── Por que você tá falando assim comigo?

── Eu tô normal, só quero saber porque você tá brava.

── Você me mentiu! Você tá no Rio de Janeiro e não me disse nada.

── É, mas você não pode me controlar?!

── Controlar? Acha que eu tô tentando te controlar?! Eu sou sua namorada, você me deve respeito, eu só queria saber pela sua boca que você estaria em outro estado e não pela de terceiros, eu não iria te impedir, eu nunca fiz isso. — Falei brava e ouvi seu suspiro do outro lado da linha. ── Gabriel, por que você não me contou?

Silêncio. Ele ficou em silêncio durante alguns segundos e eu estava prestes a jogar meu celular da sacada só de raiva.

── Você iria surtar.

── Quando foi que eu surtei porque você foi viajar, Gabriel?

── Agora.

── Eu tô surtando porque você me mentiu. Você me disse ontem que estava na sua casa!

── Mas eu tô... Na casa que eu tenho no Leblon, você não especificou sua pergunta.

Aquilo me deu mais raiva ainda. Passei as mãos entre o cabelo e respirei fundo enquanto fechava os olhos e sentia o vento bater no meu rosto, vento quente. A raiva me dominou com a ironia dele, não sabe ser adulto e conversar, ele até sabe ele só não quer fazer isso agora.

── Você para de ser um cretino do caralho. — Esbravejei batendo a unha contra a divisória, sem perceber. ── Tá com quem aí?

── Pedro, amor.

── Só o Pedro?

── Só o Pedro!

── Por que eu não acredito em você?

── Porque você não tem confiança em mim. — Rebateu. ── Eu posso fazer mil coisas por você igual eu já fiz, e eu tô falando de demonstração, de amor, de atos, sabe? Eu fiz tudo que estava ao meu alcance e mesmo assim você não foi capaz de acreditar em mim, acha que isso não me incomoda? Você não tá acreditando em mim agora porque você não tem confiança em mim.

Ele inverteu tudo, tudo mesmo, mas muita coisa não deixa de ser verdade.

── Não inverte as coisas.

── Eu não tô invertendo, amor, mas é chato isso e cansa para caralho. Foi mal, desculpa, errei em não ter te avisado mas era porque eu sabia que você iria surtar.

── Eu não iria surtar se você me contasse, eu nunca fiz isso com você. Alguma vez eu te impedir de você fazer algo que gostasse de fazer sozinho?

Silêncio.

── Não!

── Então, Gabriel, meu Deus, deixa de imaturidade. — Falei estressada. ── Ainda quer inverter as posições e tentar me colocar como culpada.

── Eu só me sinto mal com o fato de que você não é capaz de confiar em mim, sendo que eu nunca te dei motivo para desconfiar. — Ele rebateu.

── É difícil para mim! — Me defendi.

── E para mim não? Vou ter que abrir mão de quem eu amo por falta de confiança, eu vim pra cá justamente para espairecer e tentar esquecer essa situação fodida que a gente tá, Helena, eu entendo os seus motivos mas é foda pra mim também.

── Você vai mesmo tocar nesse assunto?

── Você não pode fingir que ele não existe.

Passei a mão no rosto, cansada já dessa discussão.

── Outra hora a gente conversa. — Falei antes de desligar a chamada.

lentes no horizonte, gabriel medina. Onde histórias criam vida. Descubra agora