- Dez, vinte, trinta, quarenta, cinquenta. - sussurrava Steven Adler para si mesmo, enquanto contava novamente o dinheiro para entregar ao traficante - Está tudo aqui como você exigiu, agora dê-me a encomenda.
O rapaz a sua frente sorriu de maneira medonha ao pôr as mãos nas cédulas monetárias, e então entregou-lhe uma caixa fortemente lacrada
- Muito obrigado, amigo! - uma doce expressão surgiu no rosto do baterista - Até a próxima!
Era uma noite calma nas ruas daquela cidade, que geralmente era muito agitada. Grilos cantarolavam naquela parede de madeira carcomida pelos cupins, localizada no ambiente fétido e insalubre de um beco isolado.
- Espere! - interveio o traficante - Eu sei que você é a minha maior fonte de renda, mas eu sou obrigado a lhe alertar: o consumo exagerado de heroína, uma hora ou outra vai acabar te matando! Você, um baterista de uma banda famosa... tem uma vida inteira e boa pela frente! Não desperdice-a de tal forma!
Adler deu de ombros
- Enfim, a hipocrisia. - suspirou - Um traficante me dizendo para não usar drogas...
- Digo-te a verdade, Steven, se é a morte que buscas, uma hora ou outra vai a encontrar, e creio que as drogas são o pior local para esse encontro, pois elas te farão sofrer e delirar em dinastasia. Se é o outro lado que buscas, garanto-vos que existem métodos muito mais rápidos e indolores do que esse.
Ele o ignorou, afinal já ouvira muitos desses discursos. Mal sabia ele que uma possível tragédia estava muito mais próxima de acontecer do que ele pensava porque, a pouquíssimos metros dali, uma metralhadora carregada preparava-se para fazer mais uma vítima. Basta a contração do músculo de um dedo para o lobo frontal de Steven servir de abrigo para uma munição.
Com as pupilas dilatadas, os olhos do atirador analisavam minuciosamente o rapaz, para que o tiro fosse certeiro. Seu polegar estava a milímetros do gatilho quando sua visão turvou-se misteriosamente e suas pernas perderam as forças.
O assassino se foi, sem tomar consciência daquela pedra de dezessete quilos que, por algum motivo, acabara de cair do céu bem em sua cabeça.
- O que foi isso? - exclamaram os dois, mas a nuvem de poeira levantada à sua frente já respondia por si só: algo normal que não era.
De repente, de lugares que a pouco tempo atrás nem sabia-se que haviam passagens, saíram quatro homens trajados de preto, empunhando armas e apontando-as para os dois rapazes. Foi nesse momento que a cabeça onde haviam os pensamentos desconexos de Steven percebeu que, se morresse naquele momento, não seria de overdose ou coisa parecida.
- Companheiro - disse ele ao traficante - Por favor, me diga que estes são seus amigos.
- Baterista, sinto em lhe informar, mas acho que esse é o fim da linha para nós.
Os dois estavam de costas um para o outro, olhando para todas as direções possíveis, procurando uma contingente saída, enquanto os atiradores, imóveis, analisavam cada centímetro de suas vítimas, conferindo se havia algum meio deles se defenderem ou escaparem. Steven tentou murmurar algumas inaudíveis palavras, essas que logo foram interrompidas por um grande grito vindo de algum lugar.
- Breaking Rocks! - foi o que a voz, muito conhecida por Steven, gritou, momentos antes do muro de concreto que cercava o beco, desabar ao chão e se reduzir a míseros pedaços de cimento. Essa queda teve como resultado a aparição de dois homens por trás dos destroços.
- E esses? - perguntou o traficante, já entrando em desespero, porém levemente contente de o muro ter caído em cima de um dos atiradores - São seus amigos?
Steven estava de costas ao muro, logo não podia ver quem eram as figuras, mas mesmo assim, ele sabia quem eram.
- Sim, esses são. - disse, com uma adorável expressão de calma
Antes que pudesse haver qualquer tipo de apresentação, uma saraivada de balas voou em direção a eles.
- Civil War! - essa foi a vez de Steven lançar suas cartas ao jogo
Automaticamente, os homens que antes apontavam suas metralhadoras para Steven e seus amigos, agora trocavam tiros entre si, até não sobrar sequer um em pé.
Perplexo, o traficante comentava consigo mesmo:
- Minha mente prega-me peças
A sanidade, de minha mente se foi
A mente alterada por substâncias ilegais
Me faz ter o juízo igual o dos animais
Antes que Steven pudesse comentar "Que estrofe interessante! Quer compor uma música conosco?", ele foi surpreendido por dois calorosos abraços.
- Menino do céu, você sumiu do nada e já é uma hora da manhã! Quer nos matar de preocupação?
- Izzy! Duff! - ele retribuiu os abraços, com um largo sorriso no rosto - Quem bom que vocês estão aqui!
Eles continuaram abraçados por longos segundos, até Izzy se cansar daquele contato físico todo e se separar, substituindo aquilo por um tapa no braço do baterista.
- Não suma mais dessa maneira, seu incompetente! Se não fosse por Duff e eu, você estaria morto agora!
- Não seja tão rude com ele, não vê que está tremendo!
- Com todo respeito, senhor baixista - interveio o traficante, que até então estava sendo ignorado - Ele treme devido a alta quantidade de drogas que usara hoje.
- Acalmem-se, meus amigos. Agora está tudo bem! Que tal voltarmos para a casa?
- Droga! - Izzy levou a mão à testa, claramente decepcionado - Axl vai matar vocês dois!
- Por que os dois? - perguntou Duff
- Porque ambos vocês usaram seus poderes! Desde aquele acontecimento específico que vocês sabem muito bem qual é, ele nos proibiu terminantemente de usá-los!
Uma brisa fria passou por ali, juntamente com um silêncio cortante carregado de culpa, medo e interrogações. Até que uma voz quebrou, ou no mínimo aliviou a tensão.
- Desculpe pela pergunta - interveio novamente o traficante - Mas aqueles negócios de Breaking Rocks e Civil War eram habilidade paranormais ou coisa do tipo?
- Droga! - disse Izzy novamente - E ainda por cima alguém os viu!
Com passos lentos e um olhar tentando manter a calma, Duff se aproximou do vendedor de entorpecentes e entregou-lhe uma nota de vinte dólares que havia roubado da carteira de Slash.
- Dou-te isso para você prometer que não contará a ninguém, combinado?
- Duff, Steven! Vamos embora logo antes que vocês façam mais alguma merda, porque de verdade mesmo, odeio servir de babá de viciados em Vodka e heroína.
Quando estavam prestes a deixar o local, um cheiro de sangue surgiu no ar, e só então eles se lembraram de que haviam cinco cadáveres fortemente armados estirados no chão, perto de seus pés. Ignorá-los era o que os músicos mais queriam fazer, mas infelizmente isso não era uma possibilidade naquele momento.
- Dust n' bones! - murmurou Izzy, sem acreditar na idiotice que estava sendo praticamente obrigado a fazer.
Ao pronunciadas as palavras, uma leve camada de poeira surgiu de todos os cantos daquele lugar, seja de esgotos ou frestas de paredes mal acabadas. Ela se acumulou em cima dos cadáveres, formando assim uma espécie de pequenos montes, que podiam ser facilmente confundidos com a areia que algum pedreiro usaria para alguma obra. Os três sabiam que a solução não adiantaria muita coisa, mas pelo menos adiaria o problema para outro dia, afinal, "abrir boletins de ocorrência" não estava na lista de compromissos do Guns n' Roses.
- Agora você também usou seus poderes, Izzy!
O moreno apenas sorriu e disse:
- Só não conte para o Axl, ok? Agora vamos voltar para o prédio, isso se ele ainda estiver inteiro e de pé, com Axl e Slash sozinhos lá dentro.
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A última nota do império
FanficEm um cenário onde cada músico dedicado ao rock possuí um poder paranormal, estes se veem em um contexto caótico de sequestros e constantes ameaças que desafiam a sua existência. Uma história mergulhada em ação e conflitos e melodias que retrata ess...