𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄 𝐆𝐈𝐑𝐋𝐒

Gabriela Guimarães.

Era um fato interessante como a forma que apenas um olhar poderia incendiar um lugar inteiro dependendo da intenção que ele transmitia. Um exemplo disso, era o olhar fulminante de ciúmes que Gabriela mantinha no rosto desde o momento em que você correu com um sorriso de orelha a orelha para abraçar uma colega do time rival da Turquia.

Gabriela nunca se importou com suas amizades com outros times, até porque ela mesma também tinha várias. Tanto você quanto ela jogavam em formações de outros países. Inicialmente, ela entrou para a equipe da Turquia – lugar onde vocês se conheceram. Durante o tempo em que ela permaneceu no time, a relação entre você e ela se tornava confusa e intrigante ao mesmo tempo. Gabi passava a maior parte dos treinos enchendo o seu saco e implicando com você nos momentos que podia. Ela era uma pessoa muito grudenta e energética, você havia percebido isso com todas as brincadeiras e, principalmente, pelos toques repentinos em seus braços, os abraços demorados e as comemorações depois que você marcava um ponto.

Você não era burra, sabia que, com todas essas ações, Gabriela tinha intenções com você que passavam muito além da amizade. Certas provocações que ela também fazia quando era apenas vocês duas dentro do quarto dela ou do seu, a proximidade com que ela ficava para fazer alguma parte de seus corpos se tocarem. Era inegável a tensão persistente entre vocês duas e, sinceramente, você costumava adorar todos os segundos perto dela. No entanto, as coisas mudaram quando Gabriela mudou para o Conegliano, na Itália, e você permaneceu no Vakif. Por mais que a amizade ainda permanecesse com as mensagens e ligações nas horas vagas, e a lembrança de todas as flores que ela mandava para o seu endereço, a relação não era mais a mesma de antes. O sentimentos e as intenções continuavam ali, em ambas partes, mas tanto você quanto ela sabiam que não daria mais certo tentar alguma coisa. 

Quando a VNL de 2024 chegou, o reencontrou finalmente aconteceu e a mera lembrança de você pulando nos braços de Gabriela fazia um sorriso enorme se abrir em seu rosto. Por ser a líbero da equipe brasileira, sua altura era bem menor em relação a ela, portanto não foi nada difícil quando Gabriela segurou em suas coxas enquanto sentia você abraçar o pescoço dela com força. A cacheada deixou beijos por suas bochechas, apertando sua cintura com os braços no momento em que você retornou ao chão. O sorriso no rosto dela era impagável e, se não fosse por todas as inúmeras circunstâncias daquela situação, você teria beijado ela sem nem pensar duas vezes.

Agora, voltando ao presente, após um jogo intenso contra a Turquia – no qual o Brasil saiu vencedor –, Gabriela perfurava com os próprios olhos a interação extremamente próxima e íntima entre você e Hande Baladin. A forma como você saiu bruscamente do lado da cacheada com um sorriso enorme no rosto, praticamente correndo para abraçar sua colega de time e o jeito que os braços de Hande permaneceram em sua cintura mesmo depois do abraço ser desfeito – gesto no qual durou tempo demais na visão de Gabriela.

— Daqui a pouco a mulher vai pegar fogo se você não parar de olhar pra ela. — Carol chegou ao lado de Gabi, as mãos juntas atrás do próprio corpo e um sorriso engraçado pela cena que se prosseguia um pouco à frente das duas. — Por que vocês permanecem atiçando esse fogo no rabo e não admitem logo que tem tesão uma na outra?

Um tapa estalado foi acertado no ombro da mais baixa, fazendo com que ela reclamasse da dor e passasse a mão no lugar para aliviar — Cala a boca, Carolina. — Gabriela revirou os olhos.

— E eu estou errada, por acaso? É nítido a proximidade de vocês! Seria muito mais fácil se simplesmente acabassem com essa enrolação toda. — Carol olhou de relance para a interação que ainda acontecia, notando que agora as mãos da turca pareciam bem à vontade em sua cintura. — Pelo menos você não teria que lidar com isso e, principalmente, não precisaria matar ninguém com os olhos.