As semanas passaram desde aquela confissão inesperada entre Yoko e Faye. O relacionamento entre elas se tornava cada vez mais profundo, mesmo com a distância de milhares de quilômetros. As videochamadas noturnas, que antes eram apenas uma forma de matar a saudade, agora eram momentos carregados de intimidade, onde ambas compartilhavam seus pensamentos, sonhos e até alguns momentos silenciosos, em que apenas se olhavam através da tela, sentindo a proximidade que as palavras não conseguiam expressar.
Faye, por sua vez, estava mais ansiosa do que nunca para voltar para casa. Ela continuava brilhando em Nova York, onde sua exposição de arte estava sendo um sucesso estrondoso. Todos os dias, Faye recebia elogios de críticos, compradores e artistas renomados que admiravam seu trabalho. Mas, apesar do êxito profissional, a ausência de Yoko e da bebê crescia dentro dela, deixando um vazio que nenhuma conquista poderia preencher.
Numa tarde, enquanto preparava os detalhes finais para o fechamento da exposição, Faye recebeu uma ligação inesperada. Era da clínica onde Yoko havia feito a última consulta de pré-natal. Preocupada, ela atendeu imediatamente.
"Alô? Faye?" — a voz do médico parecia tranquila, mas Faye sentiu seu estômago se revirar ao ouvir aquele tom formal.
"Sim, sou eu. Está tudo bem com Yoko? E a bebê?"
"Está tudo sob controle, mas queríamos informá-la de que Yoko teve um pequeno aumento na pressão arterial. Nada alarmante, mas é importante que ela fique de repouso e evite qualquer tipo de estresse ou esforço físico nas próximas semanas."
Faye sentiu o coração apertar. Mesmo sendo algo "sob controle", saber que Yoko e a bebê estavam em uma situação delicada a deixou preocupada. Ela agradeceu ao médico pela informação e desligou o telefone, sentindo o peso daquela notícia. Yoko não havia mencionado nada durante suas últimas conversas, provavelmente para não preocupá-la. Mas agora, mais do que nunca, Faye sabia que precisava estar lá.
Sem perder tempo, Faye entrou em contato com sua equipe e antecipou seu retorno para casa. Ela ainda tinha compromissos em Nova York, mas sabia que sua prioridade agora era estar ao lado de Yoko, especialmente com o avanço da gravidez.
Quando Faye finalmente chegou em casa, exausta depois de uma longa viagem, encontrou Yoko sentada no sofá, com as pernas elevadas e uma expressão visivelmente cansada, mas com um sorriso de pura felicidade ao vê-la.
"Você voltou!" — Yoko disse com uma alegria infantil, quase como se não acreditasse que Faye estava realmente ali, na sua frente.
Faye se aproximou, ajoelhando-se ao lado dela, e, sem dizer uma palavra, a envolveu em um abraço apertado. O cheiro de Yoko, a sensação de tê-la em seus braços, era tudo o que Faye precisava para se sentir em casa de novo.
"Eu senti tanto a sua falta, Amor..."
"Eu também senti, Vida. Mais do que posso descrever."
Elas permaneceram assim por alguns minutos, apenas curtindo a presença uma da outra, até que Faye se afastou um pouco, segurando as mãos de Yoko e olhando-a diretamente nos olhos.
"Por que você não me contou sobre a pressão alta?"
Yoko baixou os olhos, parecendo ligeiramente culpada.
"Eu não queria te preocupar. Já estava difícil pra você, com tanto trabalho em Nova York... Eu pensei que poderia lidar com isso."
"Yoko, você não precisa lidar com nada sozinha. Eu estou aqui por você. Sempre estarei."
Yoko sorriu, apertando as mãos de Faye.
"Agora que você voltou, tudo parece mais fácil."
"E eu vou ficar até o final. Prometo." — Faye respondeu com convicção.
Depois daquele momento de seriedade, Faye percebeu que Yoko estava tentando esconder algo. Aquele brilho tímido em seus olhos a denunciava.
"O que foi?" — Faye perguntou, estreitando os olhos com um sorriso suspeito.
Yoko riu, balançando a cabeça, como se estivesse lutando contra a própria vontade de falar.
"Nada..."
"Nada? Amor, você é péssima em esconder coisas de mim. Desembucha."
Yoko mordeu o lábio, desviando o olhar.
"Eu tive outro sonho estranho com você."
Faye ergueu uma sobrancelha, se inclinando para mais perto, o tom provocativo de sua voz aumentando a curiosidade.
"Ah é? E o que aconteceu nesse outro sonho?"
Yoko hesitou, suas bochechas corando de leve. Era evidente que ela estava desconfortável em compartilhar o sonho.
"Eu... prefiro não contar."
"Agora você tem que contar!" — Faye insistiu, tentando esconder um sorriso enquanto olhava para Yoko, que parecia cada vez mais envergonhada.
Yoko suspirou, sabendo que Faye não desistiria tão facilmente. Ela cruzou os braços e finalmente revelou:
"No sonho... você estava me beijando. E... e me deitou na cama, eu já estava sem roupa você beijou meu pescoço e... bom, eu não vou contar mais do que isso."
Faye ficou em silêncio por um momento, processando a confissão. Ela olhou para Yoko com uma expressão misto de surpresa e, talvez, algo mais. Yoko, por outro lado, estava praticamente escondendo o rosto com as mãos, tentando se proteger da vergonha.
"Amor — Faye começou, com um sorriso travesso no rosto — "Você sabia que eu também venho pensando nisso?"
"Pensando no quê?" — Yoko perguntou, ainda envergonhada.
Faye se aproximou lentamente, segurando o rosto de Yoko com uma mão firme e carinhosa.
"No gosto do seu beijo."
Antes que Yoko pudesse responder, Faye a beijou suavemente, um beijo carregado de carinho e desejo. Yoko ficou paralisada por um momento, mas logo retribuiu o beijo com toda a intensidade que guardava desde que Faye havia partido para Nova York.
Quando finalmente se separaram, Yoko estava com o coração disparado, sua respiração irregular e o rosto completamente corado.
"Eu acho... que eu preciso realizar meu sonho." — Yoko sussurrou, com um sorriso nervoso.
Faye riu, beijando sua testa antes de se levantar do sofá.
"Vamos com calma, pequena. Primeiro, vamos cuidar dessa bebê aqui." — Faye disse, acariciando a barriga de Yoko.
Yoko bufou, fazendo uma careta exagerada.
"Essa menina está me impedindo de fazer muitas coisas."
"É por uma boa causa.
"Espero que elas não sejam tão desastradas quanto eu." — Yoko murmurou, enquanto Faye se inclinava para frente, selando a conversa com mais um beijo suave.
A noite terminou com as duas deitadas no sofá, abraçadas, compartilhando sonhos e promessas. Faye sentia, agora mais do que nunca, que o futuro delas estava se moldando de forma inesperada, mas perfeitamente alinhada ao que sempre quis. Ela sabia que, com Yoko ao seu lado, não havia lugar para o qual ela não estivesse disposta a ir.
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Entre Cores e Silêncios
FanfictionFaye, uma artista abstrata de poucas palavras, contrata Yoko, uma jovem tímida e desastrada. Com o tempo, Yoko começa a se comportar de maneira estranha, tornando-se mais introspectiva e distante. Faye, intrigada, percebe que há algo perturbador na...