Barulhos estranhos

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Três dias se passaram, e eu não tinha visto Derick na casa. Às vezes, eu ouvia um barulho na cozinha ou no banheiro, mas evitava ir de encontro com ele.

Desde a conversa desconfortável que tivemos, preferi manter distância. As coisas seguiam o mesmo ritmo todos os dias: uma rotina silenciosa e metódica.

Logo no primeiro dia, ele havia deixado uma lista no balcão com as tarefas que eu devia cumprir.

A lista era simples e direta: "Limpar a casa, retirar o lixo e lavar os banheiros." Ela ficou lá durante esses três dias, sem nenhuma alteração, o que significava que eu repetia as mesmas atividades, como se estivesse presa em um ciclo ininterrupto.

Todos os dias, eu varria o chão de madeira, limpava os móveis e tirava o lixo. Subia para o segundo andar, lavava os banheiros, e no final do dia, perto da hora em que ele chegava, eu cozinhava alguma coisa.

Depois de comer, ia direto para o quarto, sem saber se ele notava minha ausência ou se preferia assim. 

No quarto dia, o tédio começou a tomar conta de mim. Eu sei, tinha pedido por paz, por um tempo para mim mesma, mas eu também gostava de pessoas, as vezes.

Quando cheguei à cozinha, a mesma lista de tarefas estava lá, presa por um peso em formato de sino, para que o papel não voasse.

Antes de começar qualquer coisa, senti meu celular vibrar no bolso da calça de moletom.

Pensei que fosse Jenna ou minha mãe, mas, para minha surpresa, não era. O nome que apareceu na tela me fez estremecer: Miller. Sem pensar duas vezes, encerrei a ligação. Não queria ouvir sua voz, muito menos dar a ele qualquer espaço na minha vida agora.

Coloquei o celular de volta no bolso, mas dois minutos depois, ele ligou novamente. Fechei os olhos e desliguei mais uma vez, sem nem hesitar.

Abri o celular e digitei rapidamente uma mensagem: "Miller, por favor, me deixe em paz. Vá viver sua vida, vamos nos perdoar e seguir em frente."

A resposta veio mais rápido do que eu esperava, e o veneno nas palavras me atingiu em cheio:

"Você nunca vai ser amada de verdade, sua vadia."

Um ódio súbito subiu pelo meu corpo, quente, como um incêndio incontrolável. Tudo que eu consegui fazer foi bloquear o número dele imediatamente. Apertei o botão com força, como se isso pudesse apagar não só a mensagem, mas toda a memória que ele ainda insistia em manter viva na minha mente.

Eu percebi que algumas coisas estavam acabando e decidi ir ao mercado mais próximo. Abri o Google e vi que era uma caminhada de uns vinte e cinco minutos. Poderia deixar a preguiça vencer, mas a ideia de caminhar um pouco e conhecer mais da cidade parecia agradável, quase reconfortante.

Durante o trajeto, uma voz familiar chamou minha atenção:

— Ei?

Virei-me e vi Lia, acompanhada por um rapaz. Ele era alto e forte, mas de uma maneira equilibrada, sem exagero. Seus olhos castanhos brilhavam com simpatia, e os cabelos lisos, em tons de marrom bagunçados, lhe davam uma aparência descontraída. Seu rosto jovem exibia um sorriso caloroso.

— Oi! — respondi, acenando.

— Que coincidência!— Lia sorriu, andando em minha direção.— Este é meu irmão, Luka.

Luka estendeu a mão, seu sorriso ainda mais largo de perto.

— Muito prazer garota misteriosa! — disse ele, com um tom amigável.

— Garota misteriosa?— Lia franziu a testa questionando-o

— Você não me disse o nome dela.

— É Annia, prazer!— apertei sua mão, e era impossível não sorrir de volta. O jeito dele realmente irradiava boas energias.

A verdadeira obsessão. 🥀Onde histórias criam vida. Descubra agora