CAPÍTULO QUARENTA E UM

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POUCO MAIS DE UMA SEMANA DEPOIS

CAUÃ

Eu sabia que ia dar merda assim que pisei na sala. Além das paredes brancas, os computados e os funcionários, só havia eu e o advogado na pequena sala de audiência. A mesa do juiz e as duas cadeiras a minha esquerda estavam completamente vazias. Sentado ao lado do advogado, dava pra sentir a minha frustração e impaciência enquanto eu batia com o sapato caro contra o pé da mesa. Rodrigo, o desgraçado, continuava a tentar adiar todas as ações que movíamos contra ele. E parecia que aquela teria o mesmo destino das outras.

— Precisa manter a calma. — Segurei com força o terno apertado e encarei o advogado que me conhecia há anos.

— Estou calmo. Está me vendo atirando em alguém? — Ele pareceu engasgar e voltou a encarar a mesa do juiz.

Eu o odiava, odiava estar ali, odiava ter que deixar a minha família e me prestar ao papel de idiota que o Rodrigo me fazia passar pela segunda vez.

Ouvi a porta atrás de mim se abrir ao mesmo tempo que a porta do juiz, a minha direita, também se abriu. Nos levantamos imediatamente. Pelo canto de olho vi a movimentação a minha esquerda e desviei os olhos quando o barulho da cadeira me deu certeza sobre alguém a afastando. Vi o advogado de defesa do Rodrigo se arrumando e colocando a pasta preta sobre a mesa. Esperei, com esperança, que o Rodrigo também aparecesse, mas trinquei os dentes quando tudo que vi foram os olhos negros do seu advogado na minha direção. Desejei atirar contra sua cabeça e contra o sorrisinho de merda que me dava.

— Sentem-se. — Fizemos o que o juiz exigiu e fechei os punhos aguardando.

Ouvia os papéis sendo revirados na mesa do engomadinho quando virei o rosto na direção da defesa. Dr. Santiago, como ele mesmo se chamava, tava lá, todo sorriso, tendo certeza que já tinha ganho. O cara nem se dava ao trabalho de esconder o desprezo que sentia por estar ali. Desviei os olhos e olhei pra frente. O juiz, com aquela postura de quem não quer ser incomodado, bateu o martelo de leve e começou a sessão.

— Eu, Luiz Fernando Henzel, liderarei os julgamentos dessa sessão. — Ele olhou pra cima. Primeiro para mim e o meu advogado, logo depois para a defesa. — Estamos aqui para a audiência de acusação contra Rodrigo de Souza Brandão, acusado de associação ao tráfico de drogas e tráfico internacional de armas pelo presente, Cauã Brandão. Observando que o réu não compareceu, gostaria de ouvir as razões do advogado de defesa.

Eu já sabia o que vinha a seguir. E não deu outra. Santiago se levantou com toda a calma do mundo, como se isso fosse só mais um dia no escritório.

— Excelência, meu cliente, Rodrigo Brandão, se encontra impossibilitado de comparecer a esta audiência por motivos de saúde, conforme atestado médico anexado aos autos.

Eu ri alto e senti a mão do advogado me segurar. Minha vontade era de realmente avançar nos dois palhaços na sala, mas a minha posição atual, e a da Manuella, dependia daquele julgamento.

— Por essa razão, venho solicitar o adiamento desta sessão. — Encarei o Juiz.

Puta que pariu. Se eu tivesse alguma dúvida, ela sumiu na hora. Rodrigo tava enrolando, e aquele juiz estava mastigando cada palavra do Santiago como se fossem uma maldita sobremesa. Encarei o meu advogado.

— Isso é uma tremenda jogada, e o merdinha tá metido nessa até a tampa! — Sussurrei, tentando manter a voz baixa, mas a raiva transbordava.

O advogado ao meu lado levantou, mas eu sabia bem aonde aquilo ia dar.

— Excelência, a ausência do réu é altamente suspeita. Sabemos que o réu tem recursos para adiar indefinidamente este processo, evitando enfrentar a justiça. Pedimos que a audiência continue com o julgamento à revelia.

O Crime Perfeito - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora