Capítulo 2: Entre Relatórios e Olhares

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As semanas seguintes à contratação de Nunew passaram em um ritmo frenético. A Z Architects era uma das empresas mais respeitadas do mercado, e a exigência por excelência era constante. Nunew, sempre organizado e dedicado, logo percebeu que seu novo trabalho como assistente pessoal de Zee não seria nada fácil. A rotina era intensa, e Zee, com sua postura rígida e olhar atento, não deixava espaço para erros.

Cada tarefa que Nunew recebia vinha carregada de uma responsabilidade que ele jamais havia experimentado. E, embora sua experiência como assistente fosse sólida, lidar com Zee o colocava em uma constante linha de tensão. A cada dia que passava, ele tentava mostrar sua eficiência, lutando para conquistar a confiança de seu chefe. Zee não era o tipo de homem que distribuía elogios facilmente, mas isso só fazia Nunew querer se destacar ainda mais.

No entanto, havia outra coisa que começava a tomar espaço nos pensamentos de Nunew. Algo que ia além da pressão profissional. A figura de Zee, com sua aura fria e inabalável, começou a invadir os pensamentos do assistente de uma maneira que ele não conseguia mais controlar. Nunew não sabia dizer exatamente quando começou, mas em algum momento durante as longas horas de trabalho, ele passou a prestar atenção em pequenos detalhes sobre Zee. A maneira como ele ajustava a manga do paletó ao final de uma reunião, o modo como seus olhos se estreitavam levemente quando algo o frustrava, e até a cadência precisa de sua voz ao dar instruções. Tudo isso começou a ter um efeito diferente sobre Nunew.

Era como se, a cada dia, ele se sentisse mais atraído pelo homem por trás da fachada rígida. E essa atração, por mais que ele tentasse esconder, começava a transparecer em seus gestos. Quando os dois estavam na mesma sala, Nunew sentia uma tensão invisível pairando no ar. Os olhos de Zee, sempre atentos e analíticos, muitas vezes pareciam segui-lo com uma intensidade que o deixava inquieto. No entanto, Zee nunca deixava transparecer nada além de sua habitual postura séria.

Em um dia particularmente agitado, Zee convocou uma reunião de emergência com um cliente importante. O projeto estava atrasado, e as expectativas do cliente eram altíssimas. Nunew passou a manhã preparando todos os documentos e materiais de apresentação, enquanto Zee se mantinha focado nas negociações estratégicas. A relação deles era, na maior parte do tempo, profissional e eficiente, mas a cada vez que Nunew se aproximava para entregar um relatório ou discutir algum ponto do projeto, ele sentia o coração disparar. Os olhos de Zee o acompanhavam com uma intensidade quase palpável, e cada encontro de olhares deixava Nunew com um frio na barriga.

Durante a reunião, enquanto Zee apresentava as soluções para o cliente, Nunew observava atentamente, anotando cada detalhe. A postura de Zee era impecável, o tom de sua voz soava firme, e sua capacidade de se manter calmo sob pressão era impressionante. Nunew admirava a forma como ele liderava a equipe com uma confiança quase sobrenatural, mesmo diante das demandas exigentes do cliente.

Quando a reunião terminou, Zee chamou Nunew para sua sala.

— Preciso que finalize o relatório sobre o que discutimos hoje. Envie-o para mim antes do fim do expediente — disse Zee, os olhos fixos em Nunew.

Nunew assentiu, mais uma vez sentindo aquela estranha mistura de ansiedade e admiração. Ele pegou os papéis que Zee lhe entregou e saiu da sala com a promessa de que tudo estaria pronto a tempo.

De volta à sua mesa, Nunew se concentrou em finalizar o relatório. As palavras fluíam facilmente, e ele se dedicava ao máximo para garantir que não houvesse erros. Mas, em meio à concentração, seus pensamentos continuavam a divagar para Zee. A imagem do chefe não saía de sua mente. Ele se lembrava de como, durante a reunião, Zee havia olhado diretamente para ele em certos momentos, como se buscasse sua aprovação ou confirmação. Ou talvez fosse apenas sua imaginação? Nunew não tinha certeza, mas não conseguia afastar a sensação de que algo havia mudado entre eles.

Depois de algumas horas de trabalho árduo, Nunew finalmente terminou o relatório. Ele revisou tudo minuciosamente, com medo de que qualquer deslize fosse notado por Zee. Quando estava satisfeito com o resultado, enviou o documento para o e-mail de Zee e se preparou para ir até sua sala. Bateu na porta, como de costume, e esperou pela permissão de entrada.

— Entre — a voz grave de Zee soou do outro lado.

Nunew entrou, carregando uma cópia impressa do relatório, caso Zee quisesse revisar algo imediatamente.

— Aqui está o relatório final, senhor. — Ele entregou o documento nas mãos de Zee, sentindo aquele nervosismo familiar sempre que se aproximava demais de seu chefe.

Zee pegou o relatório e começou a folheá-lo em silêncio. Nunew observava atentamente, tentando decifrar qualquer pista sobre o que Zee estava pensando. Após alguns minutos de revisão, Zee levantou os olhos e fixou o olhar em Nunew.

— Está bom. — As palavras foram simples, mas carregavam um peso maior do que Nunew poderia explicar.

Era raro receber elogios de Zee, mesmo que indiretos como aquele. E, ainda que "bom" não fosse uma palavra extravagante, vinda de Zee, soava quase como um prêmio.

— Obrigado, senhor. — Nunew disse, com uma ligeira inclinação de cabeça.

Zee continuou olhando para ele por um momento a mais do que o necessário, e Nunew sentiu o ar na sala mudar. Havia algo nos olhos de Zee que o fez sentir como se estivesse sendo analisado de uma maneira mais profunda, como se seu chefe estivesse buscando algo além da simples eficiência no trabalho. Era um olhar penetrante, que o fez engolir em seco.

— Você tem trabalhado bem, Nunew. — A voz de Zee soou mais suave desta vez, como se houvesse uma intenção mais pessoal por trás das palavras. — Continue assim, e poderá crescer muito aqui.

Nunew sentiu o coração disparar. Ele não sabia se era o elogio inesperado ou a maneira como Zee dissera aquilo, mas algo dentro dele se agitou. Era raro ver Zee ser tão direto em relação ao desempenho de alguém. Ele não sabia como responder imediatamente, então apenas sorriu timidamente.

— Fico feliz em ouvir isso, senhor. Vou continuar me esforçando.

Zee assentiu, mas o olhar dele não se afastou. Por um breve segundo, o silêncio entre eles pareceu carregar um significado mais profundo. Nunew podia sentir a tensão crescendo, e por um instante, achou que talvez estivesse lendo demais nas entrelinhas. Mas o fato é que a intensidade daquele momento era inegável.

Quando finalmente saiu da sala, Nunew sentiu o rosto quente e o coração acelerado. Ele se amaldiçoou por deixar seus sentimentos começarem a transparecer, mas como poderia evitar? Zee, com sua presença avassaladora, estava começando a afetá-lo de uma maneira que ia além do profissional.

Ao chegar em casa naquela noite, Nunew deitou-se na cama e ficou olhando para o teto. Sua mente não parava de girar em torno dos acontecimentos do dia. Aquele elogio inesperado, o olhar penetrante de Zee, a forma como o ar parecia mudar sempre que estavam sozinhos. Era como se cada dia que passava, a barreira que existia entre eles fosse se tornando mais tênue.

No entanto, Nunew sabia que não podia deixar seus sentimentos tomarem conta. Zee era seu chefe. Um homem de reputação impecável e imponente. Mesmo que houvesse algo ali, algum tipo de reciprocidade sutil, ele não poderia ceder à tentação. Não enquanto houvesse tanto em jogo. Mas quanto mais tentava se convencer disso, mais difícil se tornava ignorar a conexão que estava se formando, mesmo que de forma silenciosa.

Nos dias seguintes, a rotina de trabalho continuou intensa. A relação entre Nunew e Zee parecia se estabilizar em um equilíbrio delicado, onde ambos tentavam manter a postura profissional, mas pequenos momentos e trocas de olhares continuavam a criar faíscas que nenhum dos dois podia negar.

E foi em uma dessas manhãs, quando Nunew trouxe o café de Zee para sua sala, que algo diferente aconteceu. Ele entregou a xícara como sempre fazia, mas desta vez, ao pegar o café, os dedos de Zee roçaram os de Nunew de maneira sutil, mas significativa. O toque, ainda que acidental, foi suficiente para fazer o coração de Nunew disparar. Seus olhos encontraram os de Zee, e por um breve momento, parecia que o mundo ao redor deles havia parado.

— Obrigado — disse Zee, a voz baixa e suave.

Nunew apenas assentiu, incapaz de formar uma resposta coerente. Ele saiu da sala sentindo o calor subir por todo o corpo. Era um toque simples, insignificante para qualquer outra pessoa. Mas para ele, significava muito mais.

Sob o Mesmo Teto: Entre Segredos e DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora