Capítulo 3: Barreiras Desafiadas

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A semana que seguiu após o toque acidental de Zee em seus dedos foi repleta de tensão para Nunew. Ele tentava focar no trabalho, mas o breve contato entre eles continuava em sua mente, repetindo-se como um disco arranhado. Por mais que se esforçasse para ignorar, algo dentro dele havia mudado. O toque foi sutil, quase casual, mas o impacto que teve sobre ele foi imensurável. E, embora Zee continuasse com sua postura séria e profissional, Nunew começou a perceber pequenos sinais de que ele também não estava imune a essa crescente tensão.

A relação entre chefe e assistente estava, oficialmente, começando a se complicar.

Na manhã de uma terça-feira, Nunew chegou ao escritório com a cabeça cheia de pensamentos. Ele sabia que precisava se concentrar em suas responsabilidades, mas a presença de Zee, tão próxima, e ao mesmo tempo tão inatingível, fazia com que sua mente divagasse. Ele respirou fundo antes de entrar na sala de trabalho, determinado a deixar seus sentimentos de lado e manter a profissionalidade.

Porém, mal havia se sentado em sua mesa, o telefone tocou.

— Nunew, venha à minha sala imediatamente. — A voz de Zee era firme, como de costume, mas havia uma certa urgência nela que fez o coração de Nunew acelerar.

Ele levantou-se rapidamente, ajeitando a gravata enquanto caminhava em direção à sala do chefe. Ao entrar, viu Zee de pé, ao lado da mesa, com alguns papéis em mãos. Seu olhar era impassível, mas havia algo de diferente em sua postura — uma tensão nos ombros que Nunew não conseguia ignorar.

— Sente-se — disse Zee, sem preâmbulos.

Nunew obedeceu, sem saber ao certo o que esperar. Zee entregou-lhe um relatório e, por um momento, o silêncio pairou entre os dois.

— Esse é o contrato do novo cliente que estamos negociando. Há algumas cláusulas aqui que precisam ser revisadas e ajustadas. Preciso que você faça isso ainda hoje. — As instruções eram claras, mas o tom de Zee não era tão direto quanto costumava ser. Ele parecia estar medindo suas palavras, como se houvesse algo mais que queria dizer, mas estivesse segurando.

Nunew assentiu, pegando os papéis, e seus dedos roçaram os de Zee novamente ao receber o contrato. O toque foi breve, mas a faísca que gerou foi impossível de ignorar. Por um instante, Nunew sentiu que o tempo havia parado. Os olhos de Zee encontraram os seus, e por um segundo interminável, havia algo diferente neles. Algo mais suave, menos controlado. Aquela frieza habitual deu lugar a uma pequena, quase imperceptível, abertura.

Nunew engoliu em seco, desviando o olhar rapidamente e tentando se concentrar no contrato.

— Entendido, senhor. Farei as alterações e lhe trago o documento assim que estiver pronto. — Ele tentou soar profissional, mas sua voz saiu um pouco mais baixa do que pretendia.

Zee não respondeu imediatamente. Ele apenas assentiu levemente e voltou a sentar-se atrás da mesa, como se estivesse retomando o controle da situação. O silêncio entre eles se prolongou por mais alguns segundos, e Nunew se levantou para sair da sala, sentindo que o ar ao redor estava mais pesado do que o habitual.

De volta à sua mesa, Nunew começou a trabalhar no contrato, mas os pensamentos continuavam a invadir sua mente. "O que foi aquilo?" Ele se perguntava repetidamente. O olhar de Zee, o toque, o silêncio. Tudo parecia apontar para algo que ambos estavam tentando ignorar, mas que se tornava cada vez mais difícil de suprimir. Havia uma tensão crescente, uma barreira que estava prestes a ser desafiada, e Nunew não sabia como lidar com isso.

À medida que o dia avançava, Nunew sentiu a pressão aumentar. Não apenas pelo trabalho, mas pela iminente necessidade de enfrentar os próprios sentimentos. Ele sabia que aquilo não poderia continuar assim por muito tempo. Zee era seu chefe, e qualquer envolvimento pessoal seria complicado, senão desastroso. Ainda assim, algo em seu interior não conseguia parar de desejar mais. Mais daqueles olhares, mais daqueles toques acidentais. Mais de Zee.

Quando o relógio finalmente marcou o fim do expediente, Nunew respirou aliviado. Ele revisou o contrato pela última vez e o levou até a sala de Zee, como havia prometido. Bateu na porta e entrou quando recebeu permissão. Zee estava de pé, olhando pela janela, os braços cruzados. Parecia pensativo, mais relaxado do que de costume.

— Aqui está o contrato com as alterações, senhor. — Nunew entregou o documento, tentando manter a compostura.

Zee pegou os papéis e, em vez de se sentar imediatamente para revisá-los, permaneceu onde estava, observando a vista da cidade por alguns segundos antes de falar.

— Você tem feito um bom trabalho, Nunew. — A voz de Zee estava estranhamente suave, quase informal, como se estivesse falando algo que não fazia parte da rotina habitual.

Nunew ficou surpreso com o elogio repentino. Nos meses que havia trabalhado com Zee, raramente ouvira palavras assim, e quando o fazia, eram sempre curtas e diretas. Mas dessa vez, havia um tom diferente.

— Obrigado, senhor. — Nunew respondeu, a voz ligeiramente tremida.

Zee finalmente se virou para encará-lo, e seus olhos fixaram-se nos de Nunew com uma intensidade que fez o assistente sentir um leve arrepio. Havia algo de diferente naquele olhar. Algo que não era meramente profissional. Era como se Zee estivesse ponderando sobre algo, tentando decidir se avançava ou não.

— Sabe, Nunew... — começou Zee, suas palavras lentas e ponderadas. — Às vezes, vejo que você se esforça mais do que deveria.

Nunew franziu a testa, sem entender ao certo onde aquilo estava indo. Mas, antes que pudesse responder, Zee deu um passo em sua direção, encurtando a distância entre eles de maneira sutil, mas perceptível.

— Não precisa carregar tanto peso nos ombros — continuou Zee, sua voz agora baixa, quase um sussurro. — Eu reconheço o seu valor.

As palavras ecoaram na mente de Nunew como um trovão. Nunca havia imaginado que Zee, o chefe tão reservado e rigoroso, lhe diria algo assim. O elogio, se é que podia ser chamado assim, carregava um subtexto que mexeu profundamente com Nunew. Ele sentiu o coração acelerar, o ar ao seu redor parecia mais pesado, e a proximidade de Zee fez sua pele formigar.

— Eu... apenas quero fazer o meu melhor, senhor — Nunew respondeu, com dificuldade em manter o olhar em Zee, que agora estava tão perto que ele podia sentir o leve aroma amadeirado de seu perfume.

Zee observou-o por mais alguns segundos, seus olhos passeando pelo rosto de Nunew, como se estivesse estudando cada detalhe. A tensão entre eles crescia a cada segundo que passava em silêncio, até que, finalmente, Zee deu um passo para trás, rompendo o momento com um suspiro discreto.

— Muito bem. Pode ir por hoje, Nunew. — A voz de Zee voltou a ser firme, controlada, e ele desviou o olhar, como se estivesse tentando retomar o controle da situação.

Nunew assentiu rapidamente, sentindo um misto de alívio e frustração. Saiu da sala, mas não conseguia parar de pensar no que havia acontecido. Aquela troca de palavras, os olhares, a proximidade. Algo estava mudando entre eles, e por mais que ambos tentassem manter as aparências, era impossível negar que as barreiras estavam começando a se romper.

Nos dias que se seguiram, a dinâmica entre eles continuou a se transformar de maneira sutil. Nunew passou a perceber pequenos gestos de Zee que antes não notava. O chefe, que sempre fora tão distante, agora parecia mais atento, mais presente quando conversavam. Os olhares que trocavam durante as reuniões eram cada vez mais frequentes, e a tensão entre eles se tornava quase palpável. Mas, por mais que algo estivesse crescendo entre eles, ambos ainda se mantinham presos aos seus papéis.

Até que, em uma tarde comum, após uma reunião mais longa que o habitual, Zee o chamou para sua sala novamente. Nunew entrou, como sempre, esperando mais uma série de instruções, mas o que encontrou foi um Zee diferente. O chefe estava sem o habitual terno impecável, com a gravata frouxa e a expressão cansada. Ele gesticulou para que Nunew se sentasse, mas o silêncio entre eles foi diferente dessa vez. Um silêncio carregado de algo que ambos estavam evitando por tempo demais.

Zee olhou para ele, e dessa vez não houve barreiras. O que veio a seguir foi o começo de uma jornada que mudaria tudo entre eles.

Sob o Mesmo Teto: Entre Segredos e DesejosOnde histórias criam vida. Descubra agora