Acordei com um estranho silêncio no meu apartamento, era possível ouvir os pássaros cantando baixinho lá fora, o que era no mínimo estranho, levando em consideração que eu estava acostumada a acordar com o barulho estrondoso do meu despertador.
Abri os olhos com um pouco de relutância e olhei no relógio que ficava sob a mesinha ao lado da minha cama, os grandes números no aparelho me fizeram arregalar os olhos, já eram seis e quarenta e sete da manhã, o que significava que eu já deveria ter saído de casa há pelo menos meia hora se eu quisesse chegar a tempo no trabalho.
— Porcaria de despertador! — Eu disse para mim mesma com irritação em minha voz enquanto eu saia da cama apressadamente, tropeçando uma vez ou duas.
Vesti a primeira roupa que encontrei pela frente, corri pra escovar os dentes e peguei uns dois biscoitos pra ir comendo no caminho, já que eu com certeza me atrasaria mais ainda se parasse pra tomar café. Por fim, peguei minha bolsa e meu celular e saí do apartamento, o elevador até o térreo parecia estar demorando mais que o normal hoje, até que percebi um pequeno aviso na porta escrito "Sem Serviço".
— Ah, que ótimo! — Reclamei em ironia, me apressando para descer as escadas até o estacionamento.
Ao terminar de descer as escadas, corri em direção ao meu carro, o destrancando e saindo do prédio em uma velocidade um pouco mais alta do que eu normalmente dirigia. Assim que virei na avenida que seguia em direção ao centro, fiquei presa em um engarrafamento que não parecia ter fim, suspirei estressada e peguei meu celular, aproveitando para ligar para o meu chefe.
Busquei seu contato em minha agenda, logo escutando o telefone chamar. — Alô? — Eu escutei sua voz levemente aguda do outro lado da linha.
— Bruno? Oi! Deixa eu te falar.. vou me atrasar hoje, meu alarme não tocou e ainda por cima estou presa na droga de um engarrafamento. — Me expliquei sentindo minha voz com um leve tom de lamentação.
— Ai menina... — Ele deu um suspiro baixinho. — Olha, eu vou te dar uma colher de chá, pode chegar atrasada, mas seria bom se você pegasse uma horinha extra hoje.
— Tá bem, sem problemas. Obrigada Bruno. — Disse dando um sorriso fraco.
— Não precisa me agradecer, mas que fiquei bem claro que é só porque você é minha advogada favorita do escritório hein. — Ele deu uma risada nasal. — Só não conta pra ninguém, tá? — Ele falou em tom de brincadeira, fazendo com que eu risse dessa vez.
— Pode deixar, Bruninho. — Disse ainda em meio a minha risada. — Te vejo mais tarde então, tchau. — Me despedi, desligando o telefone.
Eu sintonizei em uma rádio qualquer enquanto comia um dos biscoitos que eu havia trazido, o trânsito estava começando a andar. — Graças a Deus. — Pensei comigo mesma.
Comecei a acompanhar o ritmo dos outros carros, até que escutei um estrondo vindo do carro da frente, em seguida ele parou repentinamente.
— Que droga aconteceu agora? — Eu me inclinei mais pra frente, logo percebendo que o carro havia batido no veículo da frente. — Caramba.. — Sussurrei pra mim mesma e sai do carro para ver se a batida havia sido muito feia.
Fui pra perto do veículo colidido na traseira do outro, um homem de cabelos ondulados e roupas sociais saiu furioso de dentro do carro com a traseira amassada enquanto disparava xingamentos que eu nem sabia que existiam.
Ouvi a porta do carro que havia causado a batida se abrir também, e ao ver quem saiu de la, eu pude sentir meu coração disparar e meu corpo se paralisar, era um homem alto e moreno com um bigode levemente falhado e usando um boné e roupas casuais quase que desleixadas, que por sinal era um homem que eu conhecia muito bem, era Jonathan. Ou melhor dizendo, meu ex namorado.