O ÚNICO REFÚGIO

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Leon abriu os olhos subitamente, vendo as copas das árvores acima. A luz do sol passava pelas folhas, incidindo sobre sua barriga. Virou a cabeça de um lado a outro, ainda deitado e aturdido.

— Vamos, Leon — disse a voz de Tiffo.

O homem se levantou de um salto, encarando o mago, estático.

— Minha cabeça dói — falou, massageando o couro cabeludo. — Onde está Matilde?

— Aqui!

Leon a viu de pé, recostada numa árvore, os olhos vermelhos de tanto chorar.

— Teremos tempo para conversar depois — disse Tiffo, apontando o cajado para uma trilha estreita à frente dele.

— Você conseguiu trazer nossas armas também?! — perguntou Leon, apalpando a cintura e sentindo ali sua espada, dentro da bainha, como se ele nunca a houvesse usado.

Tiffo confirmou a dúvida do amigo, e depois, saiu andando pela trilha.

Eles caminharam por um bom tempo, com as cabeças curvadas e melancólicas. Sentiam uma profunda tristeza em seus corações, após tudo o que acontecera...

Ainda conseguiam se lembrar das imagens horríveis da batalha; dos gritos dos camponeses, do sangue, e daqueles olhos de esmeraldas, brilhantes e cruéis.

Tinham a sensação de serem completamente inúteis, pois haviam falhado em proteger o Cristal Vital e seu povo. Não se achavam defensores de verdade.

Prosseguiram pela floresta até que Leon e Matilde começassem a reclamar que seus pés doíam, e finalmente, após cerca de duas horas, Tiffo parou ao lado do que se parecia uma porta redonda de madeira, que estava encaixada numa colina bem baixa.

— É nosso único refúgio — disse Tiffo, aproximando-se da porta. — Espero que ele nos ajude.

TOC! TOC! — O mago bateu na porta, aguardando, até que ela se abriu. Uma figura alta e esguia apareceu, encarando Tiffo com dois olhos negros.

Matilde fez força para não gritar, arregalando as pálpebras para o sujeito. Era na verdade um homem com aparência de lagartixa.

— Tiffo! — exclamou o homem-lagartixa, com um tom meio ríspido. — O que está fazendo aqui? E quem são esses dois?

— Meu querido Wagner — disse Tiffo. — Se não for muita indelicadeza, gostaria de pedir por hospedagem... Estamos cansados e famintos; mas a história inteira eu terei de contar depois que estiver com a pança cheia.

— Após todos esses anos você aparece! Nenhuma carta, nenhuma notícia! E ainda quer ficar sob o meu teto com esses dois, esses dois...

— Amigos — disse Tiffo. — Eu sei que errei em sumir, meu caro, e peço o seu perdão. Mas se a situação não fosse séria, eu não estaria aqui te implorando.

Wagner ficou calado por um tempo, os braços cruzados, seus olhos de lagartixa percorrendo Leon e Matilde da cabeça aos pés.

— Está bem, está bem — falou por fim, bufando. — Mas por favor, eu quero saber de tudo! Nada de me deixar sem informações, como vocês fez nos últimos anos!

Tiffo abriu os braços numa expressão alegre.

— O meu segundo nome é maritaca!

OS DEFENSORES DA FLORESTA MÁGICAOnde histórias criam vida. Descubra agora