A fofoca é boa

40 7 21
                                    

Xiao

Xiao fechou o armário com um estrondo, o som ecoando pelos corredores vazios naquela manhã. Segurava nas mãos um caderno de desenho, seus dedos pressionados com força a capa surrada, como se pudesse destroçar a raiva que pesava em sua mente. Ele guardou com cuidado dentro da bolsa, pensando a sério em escapar às aulas para desenhar em um canto sozinho. Não tinha forças para escutar sobre as matérias que vão cair na prova, muito menos encontrar seu clube idiota para resolver os ajustes do festival. Tudo estava perto demais e ele não tinha cabeça para nenhuma delas.  

Ele estava sozinho com seus pensamentos e isso o tornava mais triste, pois não queria pensar naquela pessoa. Mas os corredores, mesmo desprovidos de vozes, obviamente murmuram ao seu redor. O peso dos olhares invisíveis pressionava suas costas, como almas julgando sua imagem. Xiao suspirou, evitando a sensação de que todos sabiam sobre seu relacionamento.

Seu nome já tinha ganhado asas, soprando pelos cantos como uma sugestão venenosa. E ele sabia o motivo. Hu Tao não perdeu tempo em difamá-lo nas redes sociais, era claro que quando entrou na escola, foi subjugado no mesmo instante como “o cara imbecil que traiu a garota dos sonhos.” Deuses, ele só queria ficar sozinho. 

Xiao deixou de lado a memória de quando chegou, apressando seus passos para sair da visão dos outros. Infelizmente, acabou passando por um grupinho de garotas sussurrando alto.

"Cafajeste", a palavra parecia ecoar pelos azulejos brancos, ricocheteando nas paredes e voltando para ele como uma faca afiada.

Sim, ele sabe. Mas isso não era da conta de ninguém.

Ele sentiu o estômago revirar no mesmo instante. Não era um santo. Ele sabia o que tinha feito. Trair. Uma palavra simples que carregava um peso insuportável. Xiao não pediu a ninguém para lhe dizer o que já sabia – ele merecia as críticas, o desprezo, as risadas de longe. Mas, ao mesmo tempo, um grito silencioso em sua mente implorava por misericórdia. 

Seus pensamentos corriam para o nome que ele tanto queria proteger, aquele que não deveria ser arrastado para a lama junto com ele. Aether... ele era inocente. Xiao sabia que seu erro não deveria respingar nele, mas Hu Tao não se importaria com isso. E ela sabia exatamente onde atacar quando tivesse a chance. Era uma questão de tempo até que o nome do fotógrafo se espalhasse entre os grupos, e isso era assustador só de imaginar. 

Ele apoiou a mão fria na testa, os olhos se fechando enquanto tentava apagar o ruído ao seu redor. O mundo parecia pequeno demais, sufocante pra um caralho. A vergonha o envolvia como uma névoa densa, cada piada, cada olhar que ele imaginava sentir parecia aumentar o peso sobre seu ombro. 

Ele deu passos de fuga, abafados, mas nítidos o suficiente para fazer seu coração acelerar. Com um último suspiro, endireitou-se e olhou para o lado, esperando ver mais um rosto pronto para infernizar seu dia.

Para sua surpresa, ninguém apareceu. Apenas o vazio do corredor, como se estivesse sendo caçado por fantasmas na espreita.

Xiao encolheu os ombros, protegendo seus braços do arrepio que surgiu, lamentando não levar seu casaco quando claramente precisava. Seu corpo se movia automaticamente na brisa matinal, mas sua mente estava distante, desejando dar meia volta e quem sabe ficar em casa o resto do dia fingindo doença.

Estava prestes a realizar esse desejo, quando o mundo pareceu estancar no tempo. Aether piscava em sua frente, um sorriso sem graça iluminando a feição envergonhada. Seus olhos, de um brilho que Xiao conhecia tão bem, eram como um lembrete cruel de tudo o que havia perdido. Ele parou bruscamente, o ar fugindo dos pulmões por um segundo, incapaz de se mover.

Aether é Loira Padrão, a Thread - {Xiaoether}Onde histórias criam vida. Descubra agora