Capítulo 9: A Mula da sua Mãe

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—Eu não consigo me mexer! EU NÃO CONSIGO ME MEXER!— Axel começa a gritar ainda no chão, todos estavam exceto Kayke e Katrina.

—Tem como você calar a boca por cinco segundos?— Isadora resmunga estressada. —Até quando ficaremos assim?

— Até o efeito passar, é um dos principais golpes do Sérgio.— Katrina responde ainda mantendo o foco na janela, onde o espírito supostamente estava.

—Sérgio?— Escuto a voz do Thierry e procuro ele com os olhos, seu cabelo estava todo em seu rosto e eu solto uma risada sem querer.

—É o nome do homem que morreu, mas agora chamamos de Niger Spiritus.— Ela responde e chega perto de nós, Kayke joga um pó esquisito e sinto meus músculos relaxarem aos poucos. —Vocês precisam tomar mais cuidado, eu avisei que ele ficava nas florestas.

—Você não disse onde ele estava, achei que por ser uma lenda do Pará, ele ficava por lá mesmo.— Comento me levantando do chão, meu corpo estava dolorido e parecia que um caminhão tinha passado por cima de mim.

—É claro que não, se nós estamos aqui, ele também está.— Katrina revira os olhos impaciente com a nossa presença. —O que estão fazendo aqui novamente?

—Vamos caçar o Saci Pererê e você vai vir junto.— Kayke diz firme e Katrina olha torto para o xamã. —Nem adianta olhar assim, você trouxe então você vai participar. Não precisamos matar, só arrumar um jeito de prende-los até resolver como iremos acabar com o Niger.

—Eu sou obrigada mesmo a fazer isso?— Ela pergunta e seus olhos demonstravam o quão insatisfeita ela estava com essa decisão, mas Kayke não precisa que iria ceder. —Arg. Está bem, mas só porque eu tenho um pouco de consideração por você.

—Muito obrigada viu.— Kayke sorri com os dentes realmente satisfeito. —Se levantem, vamos pegar o saci Pererê agora.

Saímos quando estava finalmente seguro, o vento soprava estranho, Katrina guiava a gente com uma cara emburrada. Thierry e Axel se mantinham mais atrás conversando baixinho, Isadora estava do meu lado e Kayke tentava puxar assunto com a furacão, cada um de nós segurava uma peneira numa mão e uma garrafa na outra, prontos para a missão que parecia mais lenda do que realidade: capturar o Saci Pererê.

—Ele está por aqui, tenho certeza.— Murmurei mais para mim mesma do que para os outros.

O silêncio era palpável, até o momento em que ouvimos um assobio cortante vindo de dentro da mata. Aquele som... Todos sabíamos, era do Saci, trocamos olhares nervosos, mas a adrenalina era o que nos movia. Axel deu o primeiro passo para dentro da mata, com Thierry e Kayke logo atrás, eu segurava firme minha peneira sentindo o suor escorrer pela palma da mão. Não podíamos errar, era tudo ou nada, Katrina mantinha os olhos atentos aos arredores para caso Niger voltar, enquanto Isadora se preparava para cercar qualquer movimento que viesse de trás.

De repente, uma rajada de vento passou por nós e eu jurava que era Katrina se sentindo ameaçada, levantando folhas e espalhando poeira. Era o saci que estava brincando conosco, movendo-se rápido, quase invisível.

—Ali!— gritou Isadora, apontando para um ponto em meio à folhagem densa. Corremos todos na direção, eu à frente, a peneira pronta para o ataque.

O som do assobio veio novamente, desta vez mais perto, eu podia sentir o coração disparar no peito. Num instante, um vulto negro saltou de um arbusto, o gorro vermelho inconfundível, sem pensar duas vezes atirei a peneira com toda a força, mas ele era rápido demais. Ele desviou, girando no ar, o seu riso zombeteiro ecoando pela mata.

—Que droga!— Resmunguei com raiva, estava sendo mais difícil do que pensei.

Kayke num movimento ágil tentou pegar o Saci enquanto ele ziguezagueava entre nós, mas a criatura continuava a escapar por entre os buracos da peneira. Estávamos todos correndo, girando, atirando as peneiras, e a cada falha, o Saci parecia mais decidido a nos enganar. Era ridículo quem aparecesse por ali e visse, eu já estava começando a perder a paciência.

As Sombras da Mata- OS VITURINOS [LIVRO 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora