ELENA GARCIA
Ao fundo, ouço uma música calma, boa de se ouvir. Estou em um barzinho à beira-mar com meus amigos. Estamos reunidos para comemorar o aniversário do Beto, o dono do bar, meu amigo de infância. Na realidade, somos um grupo de cinco amigos; em todos os aniversários, nos reunimos sempre aqui.
— Ele ainda não chegou? — Mari pergunta, sentando ao meu lado na mesa. Estamos sozinhas.
— Não, amiga, eu não entendo. Ele sumiu faz um mês, não liga nem envia uma mensagem. Agora não vem no aniversário? tá muito estranho — ela concorda, bebendo um pouco de um drink vermelho.
—É foda, vocês sempre juntos e ele muda assim com você—Concordo, voltando a olhar o celular, esperando pelo menos uma explicação.
Sou apaixonada pelo Pedro, meu melhor amigo desde pequenos. Estamos juntos desde sempre, convivo com ele praticamente todos os dias. Esse sentimento foi crescendo ao longo dos anos, mas ele nunca me disse ou criou nada que indicasse que ele também sente algo por mim. Nos últimos dias, ele mudou para o centro da cidade, está estudando Advocacia e é estagiário em um grande escritório. Com trabalho e estudo, ele mudou comigo.
— Ele deve estar ocupado estudando e trabalhando, não é fácil — tento justificar a ausência dele.
— Pode ser. Aproveita, boba, que agora está sem segurança particular. Ele não merece você. Arruma um bom, olha aquele ali — aponto para um moreno na mesa do lado.
Sorrio negando, ela ri e corre para dançar com o Felipe, nosso psicólogo do grupo.
O tempo passa e já estamos todos reunidos na mesa. Beto é moreno, estilo largado de praia, cabelo curto estilo militar. Mariana é uma negra linda, com cabelos cacheados e um corpo de dar inveja, baixa, estilo Mion. Felipe, nosso Ken humano, príncipe Harry, é loiro, ama academia e está sempre bem arrumado.
Eu sou Elena Garcia, moro com meus pais e trabalho com eles em um restaurante. É dos meus pais que vem esse amor pela gastronomia, pela comida brasileira em especial. Sou formada, mas preferi trabalhar com eles e não em outros restaurantes. Confesso que odeio o ritmo dos restaurantes, os gritos. No dos meus pais, é calmo, então optei por trabalhar com eles até hoje.
Estamos em um clima animado, ouvindo as tantas piadas bestas do Beto e suas aventuras com as turistas. Ele é do tipo que pega, mas não se apega.
— Não acredito! — Mari diz, olhando em direção à entrada do bar. Como estou de costas, não sei do que se trata.
Não resisto e acabo olhando na mesma direção. Chegando de mãos dadas estão Pedro e Suzy, a garota que simplesmente fez da minha vida um inferno na época da escola. Em todos os anos, ela estava no meu pé, infernizando minha vida com piadas e brincadeiras sobre minha aparência. Eu não tinha paz com ela, loira de farmácia, unhas grandes, bunda daquela que os homens adoram e seus peitos siliconados, uma típica perua requintada.
— Não é possível, logo ela! — Lipe diz, incrédulo.
— Até entendo, a mulher é uma gostosa — Beto fala com o olhar no casal que se aproxima da mesa.— Acho que vou vomitar — Mari sussurra só para eu ouvir. Ainda não consigo processar tudo que vejo.
Eles cumprimentam todos. Ela tem um sorriso de deboche nos lábios.
— Oi, Lena — ele diz, beijando meu rosto. Apenas sussurro um "oi" forçado.
Pedro 24 anos
—Pessoal, essa é Suzy, vocês já conhecem. Estamos namorando – ele anuncia. Meu peito aperta, ela sorri diretamente para mim.
— Eu e o Pê fomos amor de almas, ele é o meu amor — puxa ele para um beijo, desvio o olhar.
—Estou com medo do Pedro sumir novamente e aparecer casado e pai –Beto diz, rindo em seguida.
-—Não seria uma má ideia, né, amorzinho? – Vagaranha diz, beijando ele novamente.
-—Ainda é cedo – ele diz, seu olhar cruza com o meu, desvio.
— E você, Elena, o que acha? -–ela pergunta diretamente para mim.
—Não acho nada, se ele tá feliz – falo, sem prolongar muito.
-—Ah, não, você está chateada pelas bobagens da época da escola. Aquilo era coisa de criança – diz com um meio sorriso falso nos lábios.
—Não acho, coisa de criança. Todas as vezes que voltava da escola chorando por causa de suas piadas maldosas sobre meu cabelo, minha roupa ou qualquer outra coisa, tudo era motivo de rir de mim – falo, nervosa, relembrando tudo que passei na mão dela.
— Lena, isso é passado, ela mudou – Pedro justifica, fico em silêncio.
—Que clima pesado, vou buscar bebida – Beto diz, saindo.
—Vou no banheiro – saio da mesa, querendo respirar um pouco. Aquela mulher é uma cobra, ninguém vê.
Já no banheiro, faço xixi, lavo as minhas mãos e tento respirar um pouco para voltar para a mesa. Ouço a porta abrir.
—Elena, sempre assim, medrosa– Viro e encontro Suzy já dentro do banheiro.
Estou de saída. Tento passar por ela, mas ela é mais rápida e fecha a porta.
—Sabe, foi fácil conquistar o Pedro. Ele é como os outros homens, não pode ver um par de peitos e uma bunda bonita –diz, sarcástica, e sorri.
—Você me dá nojo – falo, nervosa.
—Você me dá pena – ri.
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O milionário Recluso
Roman d'amourQuando dois mundos se encontram... Ele vive em uma completa solidão, cheio de traumas; sozinho, vive aprisionado em seus pensamentos, no seu passado de dor e sofrimento. Ela, apesar de ser muito amada e rodeada de amigos e família, se sente sozi...