vaga-lumes

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Amaury estava sentado na grama de seu quintal olhando para as estrelas. Era madrugada de um domingo. Não conseguia dormir. Naquele dia ele faria dez anos de casado com o amor da sua vida.

Bem, dez anos de casado e dezesseis anos de namoro. Sim, pedira Diego em casamento no dia do aniversário de namoro deles. Sabia que "16" era o número da sorte deles.

Segurava um violão de Diego, que o ensinou a tocar, e dedilhou algumas notas. Elas não formavam algo de seu agrado. Logo, sabia que não agradariam o ruivo nesse dia, mesmo que ele sempre dissesse que tudo o que Amaury fazia era bom.

De repente, lembrou-se de uma música escrita por Diego e que nunca foi lançada, mas existia uma gravação de estúdio dessa música.

Dedilhou os primeiros acordes e iniciou a música.

"Moving Slow
Let me know
If you see what I see"

Lembrou do sorriso de Diego ao mostrar a música ainda não finalizada para seu marido. Lembrava da voz angelical dele, do brilho no olhar, da mão tatuada passeando pelo violão.

Lembrou das mãos tatuadas passeando por seu corpo. O arrepiando com as pontas dos dedos, os círculos feitos em seu peito antes de dormirem, marcando seu corpo enquanto era observado com devoção.

Amaury era devoto de Diego. Faria tudo por ele. Moveria montanhas. Seu corpo era capaz de passar de todos os limites possíveis se fosse por Diego e seus olhos cor-de-mel.

"Hold me close
While we glow
I felt funny for awhile
I felt funny for awhile"

Queria ter conseguido segurá-lo próximo. Sentia falta dos braços em volta de seu corpo sempre que chegava do trabalho estressado.

"It tingles
Glow worms light the way
We decay so slow
I wanna lay to close
One more time"

O cheiro de shampoo e baunilha que saía de seu corpo sempre o preenchia quando deitavam juntos. Amaury rodeava sua cintura com os braços e colocava seu rosto entre seu pescoço e clavícula, deixando beijos ali antes de dormirem.

Acordavam abraçados e trocavam beijos e carícias matinais, além de risadas e compartilhamento dos sonhos.

Alguns minutos depois, um corpinho pequeno e branquinho, com cachinos escuros entrava no quarto e subia na cama, deitando entre o casal e falando "Bom dia, papai! Bom dia, papaizinho!". Era assim que Bella os chamava. Amaury era seu "papai" e Diego seu "papaizinho", pela diferença de altura entre os dois.

Amaury sorria sempre que lembrava dessas manhãs. Quando lembrava do sorriso de Diego quando viram a menina pela primeira vez no orfanato como um bebê. Quando lembrava de sua pulguinha falando animada do dia que teve depois da escola. Quando Diego cantava suas composições para eles.

Quando Diego cantou "glow worms" pela primeira vez.

Essa música foi escrita em uma noite de insônia do ruivo - muito comum em sua vida - que lembrou de um diálogo com seu marido no início de seu namoro.

Amaury havia preparado um jantar especial para eles, era um piquenique à luz de velas.

Ele leu um poema autoral, que metaforizava a luz de Diego como a luz dos vaga-lumes. Amaury era um grande poeta, definitivamente.

Ao final da leitura, Diego o abraçou e o beijou. Naquele momento, sabia que eram para sempre. Começou a chamar Amaury de "meu vaga-lume", que retribuía o apelido. Eram, definitivamente, vaga-lumes.

Ao fim dos acordes, Amaury notou rastros de lágrimas correndo por seus olhos. Secou-os e olhou para o céu, vendo a estrela mais brilhante e sorrindo para ela, mandando um beijo demorado e doce.

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⏰ Last updated: Oct 23 ⏰

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glow worms | DimauryWhere stories live. Discover now