Acordei com o som discreto de algo sendo colocado sobre a mesinha de cabeceira. Abri os olhos devagar, ainda meio confusa pelo sono, e me deparei com Roberto, já fardado, deixando uma sacola ao lado da cama. Ele tinha aquele jeito seguro, como se estivesse sempre em controle de tudo, até mesmo das pequenas coisas. Era impossível não me sentir segura perto dele.
— O que é isso? — perguntei, a voz ainda um pouco rouca de sono, sentindo meu corpo se espreguiçar na cama.
Ele me lançou aquele sorriso de lado, cheio de charme, antes de responder, de forma direta como sempre.
— Remédio pra dor e pílula do dia seguinte.
Senti meu corpo ficar quente de repente, um misto de surpresa e constrangimento me invadindo. Não era vergonha exatamente, mas a ideia de que ele tinha se preocupado com isso... me deixou sem jeito. O silêncio durou por alguns segundos enquanto eu processava.
— Desculpa não ter dito nada, mas... — comecei, tentando justificar, mas a verdade é que nem eu tinha pensado nisso na hora. — Tudo aconteceu tão rápido, tão intenso, que minha mente nem sequer foi por esse caminho e…
— Eu nem te avisei que ia meter, Nina. Fora que a responsabilidade é de nós dois e não só tua — ele afirmou antes que eu pudesse continuar, a expressão firme, mas ao mesmo tempo cuidadosa.
Fiquei parada, encarando ele por um momento, processando o que acabara de ouvir. A surpresa me pegou de jeito, porque, sinceramente, eu meio que esperava que ele fosse jogar a responsabilidade em mim, como muitos caras fazem. Aquela ideia de que é sempre a mulher que tem que se prevenir.
— Mas vamos ver algum contraceptivo pra você usar, tá bom? — Ele se inclinou e deu um beijo suave na minha testa, o gesto terno contrastando com a firmeza das palavras dele. — Depois que senti o paraíso que é comer tua buceta no pelo, vou querer de novo.
Aquela frase me pegou de surpresa, arrancando uma risada leve de mim, mesmo com o rubor já subindo pelo meu rosto. Dei um tapinha no braço dele, como uma forma de disfarçar o nervosismo que aquela intimidade provocava.
— Para com isso, Roberto... — murmurei, sem conseguir segurar o sorriso.
Era impossível ficar séria com ele, especialmente quando ele falava desse jeito.
Ele riu, aquela risada baixa e rouca que sempre me fazia sentir algo a mais, e ajeitou a farda, como se estivesse se preparando para sair. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele continuou, dessa vez com um tom mais leve.
— Quando fui na farmácia, também comprei chocolate e sorvete e deixei na geladeira. O café tá pronto, e qualquer coisa, me liga que venho correndo.
Era incrível como ele tinha essa capacidade de equilibrar a seriedade com o cuidado, o tesão com o carinho. Ele não deixava nada escapar, sempre pensando em tudo. E eu só conseguia observá-lo, sentindo um calor suave se espalhar pelo peito. Ele se importava, de verdade.
— Obrigada, Beto — murmurei, minha voz baixa, mas cheia de gratidão.
Ele sorriu de novo, aquele sorriso que sempre parecia guardar segredos, e então se inclinou para me dar um último beijo rápido nos lábios. Um toque breve, mas que carregava muito mais do que palavras poderiam dizer. Quando ele se afastou, já pronto para sair, me senti estranhamente conectada a ele, como se aquele gesto simples tivesse dito tudo.
— Vou trabalhar — disse ele, a voz mais séria agora, quase um lembrete de que o mundo real ainda estava lá fora, com suas responsabilidades e problemas.
Eu assenti, observando enquanto ele caminhava em direção à porta. Não era fácil vê-lo sair para o trabalho, sabendo que cada missão poderia ser perigosa. Mas eu confiava nele, e, mais do que isso, confiava no que estávamos construindo, mesmo que fosse algo tão cheio de nuances e incertezas.
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Conexão Obscena
Novela JuvenilQuando Marina, a cunhada de Nascimento, vem passar um tempo na casa deles para se preparar para um concurso, ele a vê apenas como uma responsabilidade extra em sua já tumultuada vida. No entanto, a proximidade diária e as conversas inesperadas revel...