Londres parecia mais fria naquela noite, ou talvez fosse o nervosismo que fazia minha pele arrepiar debaixo do casaco pesado. O táxi deslizava pelas ruas da cidade, o som das rodas nos paralelepípedos criando um ritmo constante que contrastava com a minha mente inquieta. Ao longe, as luzes do hotel já se destacavam, e eu sabia que não havia mais como voltar atrás.
"Por que aceitei isso?" perguntei-me pela milésima vez enquanto olhava para meu reflexo no vidro. A imagem era familiar, mas ao mesmo tempo distante. Os cabelos longos e ondulados emolduravam um rosto cansado, os olhos cor de mel escondiam a ansiedade por trás de uma fachada calma. No entanto, por dentro, eu era uma bagunça.
O convite para o evento beneficente havia vindo diretamente de Dr. Alan Bradford, meu preceptor e chefe na especialização. Ele era um dos cirurgiões mais respeitados no hospital e um mentor exigente. Eu o admirava profundamente, mas participar desse tipo de evento me deixava desconfortável. Não era a minha praia. E definitivamente não fazia parte do que eu imaginava quando pensei em me especializar em Londres, tenho certeza que a residência no Brasil não me levaria a eventos assim.
O táxi parou em frente ao hotel, e eu respirei fundo antes de descer. O vento de Londres parecia soprar mais forte ali, como se quisesse me lembrar de que não pertencíamos àquele mundo. O tapete vermelho estendia-se pela entrada, enquanto uma multidão bem vestida desfilava com naturalidade. As portas de vidro gigantescas refletiam o brilho dos lustres no interior, criando um efeito quase cinematográfico. A Ester de 13 anos estaria muito animada, mas agora, aquilo era apenas uma noite desconfortável.
Dr. Bradford já estava dentro, claro. Ele havia mencionado que queria me apresentar a algumas pessoas importantes no meio médico, e que isso seria uma boa oportunidade para eu "ampliar meus horizontes". Mas o que ele não entendia era que, para mim, eventos como esse eram um pesadelo social. Eu me sentia deslocada, como se tivesse sido inserida em um filme do qual não fazia parte.
Ao entrar, o ar quente do saguão me envolveu, contrastando com o frio lá fora. O segurança me parou, mostrei meu crachá e convite, fazendo ele permitir minha entrada. O ambiente era luxuoso, com detalhes dourados e lustres imensos que brilhavam acima de nossas cabeças. Os convidados pareciam flutuar pelo salão, com risadas educadas e sorrisos perfeitamente ensaiados. Eu forcei um sorriso, tentando não me sentir fora de lugar, retirei meu sobretudo deixando junto com os outros, meu vestido azul marinho era um pouco mais simples comparado o das outras mulheres, o que me gerou certo conforto, não queria ser o centro das atenções.
Foi então que avistei Dr. Bradford. Ele estava conversando com um pequeno grupo de médicos, seu rosto iluminado pela conversa, mas assim que me viu, acenou para que eu me aproximasse.
- Ah, Ester, que bom que chegou, - disse ele em seu sotaque britânico impecável. - Quero que conheça alguns colegas meus. Eles estão interessados em ouvir sobre a nossa equipe de pesquisa em oncologia.
- Claro, Dr. Bradford, - respondi, me forçando a parecer mais confiante do que me sentia.
Eu me juntei ao grupo, e as apresentações começaram. Todos ali eram especialistas, cirurgiões renomados ou investidores importantes. Mantive o sorriso educado, respondendo às perguntas sobre meu trabalho e minha experiência no hospital. No entanto, por mais que tentasse me concentrar, havia algo que me distraía. Ou melhor, alguém.
Do outro lado do salão, uma pequena multidão se formava em torno de uma figura que era impossível de ignorar. Mesmo à distância, eu sabia exatamente quem era. Harry Styles. Ele estava ali, rindo e conversando com um grupo de pessoas que parecia gravitar em torno dele.
"Deve ser um ímã," pensei comigo mesma, desviando o olhar rapidamente, como se isso pudesse impedir meu coração de acelerar. Era ridículo, claro. Ele era só uma celebridade. E eu? Eu estava ali por razões profissionais. Mas havia algo quase hipnotizante na presença dele, algo que me fez sentir como se o tempo tivesse desacelerado por um segundo. Provavelmente era minha imaginação, eu era uma antiga fã do One Direction, claro que ficaria um pouco desconcertada com a presença dele. Algo que nunca imaginei que aconteceria.
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Além das luzes // H.S. Fanfiction
FanfictionEster, uma jovem médica brasileira, está em Londres para se especializar em medicina intensiva. Após o término de um longo relacionamento, ela está desiludida com o amor e focada em sua carreira. Devota e cristã, ela sempre buscou conforto em sua fé...