Anya: "O Seu Primeiro Dia de Trabalho"

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Estou muito animada; hoje começo no emprego novo. Desde ontem à noite, o nervosismo me acompanha. Meu pai está orgulhoso de mim; diz que não podia ter encontrado emprego melhor, pois estarei no meio dos meus compatriotas. Ele comenta que o sobrenome dos acionistas da empresa é de uma família importante na Rússia. Lógico, passei o final de semana todo estudando sobre a empresa, quem são os executivos e quais são suas prioridades.

Tinha em mente a necessidade de descobrir o máximo possível sobre eles. Os russos dessa empresa, onde consegui encontrar alguma informação, mostraram ser extremamente patriotas, desconfiados, metódicos e austeros. Não encontrei praticamente nada da vida pessoal deles.

Depois de muito pesquisar, encontrei uma notinha sobre a morte da esposa do presidente Aleksei Petrov; não havia nenhuma informação relevante, nem uma foto dela para homenageá-la, simplesmente nada, apenas a nota de falecimento, sem informações adicionais Fiquei ciente, devido aos meus anos de prática em buscar atualizações sobre a Rússia para mim e meu otets*(pai), que foi difícil achar qualquer coisinha deles, inclusive fotos.
 
Com esse mínimo conhecimento, espero me situar na maneria deles de comandar a empresa. Assim o meu trabalho poderá ser mais adequado e eu posso permanecer no emprego por mais tempo, pois pelo visto não parava ninguém no cargo que ocuparei.

Estou um pouco preocupada, receosa. Para falar a verdade, sempre tive o povo russo como bons anfitriões – receptivos, alegres e camaradas – principalmente porque meu otets exaltava as qualidades da cultura eslava e as simpatias de seu povo. Tudo isso parece ser o oposto desses executivos: kholodnyy kak lyod* (frios como o gelo), reservados, ameaçadores e implacáveis.

Conversei com o meu pai, sobre essas características e meus receios, expressando toda a minha preocupação.

-Anya, minha malishka*(pequenina), esses russos são assim apenas para amedrontar os seus oponentes. Não percebe que a empresa é considerada a melhor no exterior? No Brasil já é um fenômeno de empreendimento? Eles mostram sua competência por meios selvagens? - O meu Otets me abraçava apertado, doando a sua positividade e ânimo por ter a dochka*(filhinha) amedrontada. -Homens russos quando exibem essas características, ao adquirir confiança na pessoa, fazem dela parte de seu núcleo pessoal - praticamente familiar.

-Será que serei capaz de conquistar um pouquinho da confiança deles para continuar no emprego? - Faço beicinho, pedindo para ser mimada por ele; entendendo a minha necessidade, prepara seu famoso chocolate quente.

-Dochka, você ainda é a minha malishka, minha angelocka*(anjinha), necessitada de um agrado para dormir bem. - Eu o abraço, beijo sua testa e vou dormir, amanhã será um grande dia para mim.

Se disser que dormi bem, é uma grande mentira, mas para o meu otets cometerei esse pecado. Ele não precisava ficar nervoso e preocupado, para ele sou a heroína das secretárias da empresa russa onde me apresentarei hoje, para o início da minha jornada trabalhista.

Acordo antes mesmo do celular despertar, uns cinquenta minutos antes. A ansiedade e o nervosismo estão fazendo hora extra em meu corpo e mente. Nunca me senti tão vulnerável por causa de um emprego. Já trabalhei em outras empresas, nenhuma que mereça atenção, pois foram todas minúsculas e medíocres, mas era o que eu tinha para me sustentar nas minhas despesas pessoais e ajudar um pouquinho em casa, até então.

Como o sono me abandonou, comecei o meu dia tomando um banho morno e demorado, aproveitando para colocar os pensamentos em ordem. Preciso espantar as minhas inseguranças e medos, por estar em uma empresa russa, trazendo com certeza muitas emoções, além de ocupar o cargo de secretária executiva sênior, sem ter precisado lutar por essa posição.

Vesti a minha melhor roupa: uma saia risca de giz, camisa branca de seda e sapatos de salto alto. Penteei o meu cabelo longo em um coque, deixando perfeito o meu visual para o cargo. Usei o perfume que ganhei do otets, uma fragrância floral importada da Rússia. Sim, meu pai sempre que podia me presenteava com produtos russos para me sentir no país que ele tanto sente falta.

Quando cheguei à cozinha, lá estava ele, preparando o café da manhã. A mesa posta com blinis fresquinhos, geleias de frutas, mel e creme azedo. Ele estava terminando de coar o café - gosto brasileiro que adotamos com muito apreço. O aroma na cozinha recordou-me a infância.

Aleksei: Amor & Mistério Onde histórias criam vida. Descubra agora