Capítulo único

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A falta avassaladora do namorado deixava um vazio enorme no peito do argentino, Romero já havia consumido sua mente e sanidade por completo. Estava muito ansioso para o ter de volta.

Ao ver qualquer coisa que lhe lembrasse do homem amado, Garro fazia questão de mandar mensagem, agraciando o mais velho com palavras doces e motivadoras, seguidas de inúmeras fotos de situações bobas que aconteciam no seu dia-a-dia.

Ele era respondido com declarações um tanto quanto exageradas do paraguaio, também juntamente de fotos do próprio. Ah, merda! Rodrigo e Ángel se tornaram justamente o que tanto criticavam: um casal meloso.

Do tipo que usa acessórios combinando, do tipo que se trata por apelidos carinhosos, do tipo que demonstra afeto independente da hora e do lugar, do tipo que não consegue ficar sem se falar.

Os gringos juravam que não seriam assim ao entrar em um relacionamento sério. Os amigos de ambos não conseguiam não ironizar a situação cômica.

Como Yuri Alberto por exemplo. Ele constantemente via os dois usando pulseiras iguais, na cor vermelha. O centro-avante deixava o riso alto tomar conta do ambiente e fazia (muita) questão de sacanear com o casal de colegas.

O camisa dez do alvinegro paulista estava a assistir o jogo da amada seleção de seu país. Mas, ao saber que Ángel havia entrado em campo pela Albirroja, trocou de canal no mesmo instante. A partida estava empatada e ele não duvidava da virada.

O coração de Garro palpitava mais forte sempre que a transmissão focava no camisa onze, seu Romero ficava estupidamente lindo com o uniforme da seleção paraguaia.

Mesmo com meses de relacionamento, a intensidade daquela paixão não diminuia. Ao contrário, parecia aumentar a cada dia que se encerrava, a cada pôr e nascer do sol.

Sempre que Romero tocava na bola, por míseros instantes, Garro vibrava baixinho, esperando que ele fizesse alguma jogada promissora. E foi justamente o que ocorreu.

Ángel recebeu na ponta direita e fez o cruzamento, deixando a bola perfeitamente servida ao camisa dezenove, que somente teve o trabalho de cabecear, porém não teve éxito na tentativa. Mas no rebote, o gol não foi desperdiçado pelo camisa nove da Albirroja.

Rodrigo pulou do sofá esbanjando uma mistura de orgulho e felicidade, rindo abobado para a TV, enquanto deixava o grito de alegria que tanto segurou escapar da garganta. Certamente atrapalhou o sono de algum vizinho, por já terem passado das nove da noite (21h).

Mas ele definitivamente não ligava para aquele detalhezinho. Tudo que lhe importava era assistir a atuação de seu homem e o apoiar de longe.

O jogo se encerrou após alguns minutos, mas Garro continuava ali.

Continuava de frente para a grande tela, com os lábios curvados em um meio sorriso adorável. Ele suspirou e se jogou no sofá mais uma vez, acariciando a própria barba devagar, pensando no namorado com um carinho absurdo.

Ele levou a mão ao bolso, procurando pelo celular. Assim que o desbloqueou, começou a digitar no grupo de amigos.

"Mí novio es increíble"

Martínez estava online e o respondeu com prontidão.

"Ay cállate, pendejo. No aguanto más tu comportamiento meloso"

Rodrigo riu baixinho ao lembrar que a partida que Ángel disputou era justamente contra a seleção venezuelana, país do novo volante alvinegro. De certo que José estava amargurado pela recente derrota.

"No te resientas... Sé muy bien por qué estás de mal humor"

"Tu y Ángel, dos pinches maricones"

O meio-campista gargalhou alto ao ler a resposta do colega. Balançou a cabeça de um lado para o outro em negação e abriu a conversa com o namorado. De certo que Romero estava a comemorar a eminente classificação da equipe para a Copa de 2026.

Te extrañe - Garro x RomeroOnde histórias criam vida. Descubra agora