Prólogo

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5 de dezembro de 2002.

Akaashi olhava animado para a pequena caixa que havia em sua mão. Ela estava embrulhada em papel de presente de Natal, apesar de ser seu aniversário de 7 anos. Saber que o mesmo era próximo do feriado que ele mais amava o deixava orgulhoso de si mesmo. Pelo menos até certo momento.

Ao ouvir o barulho da porta sendo aberta, ele, mais que depressa, tentou esconder o presente em qualquer canto da sala, mas a voz de seu pai atrás de si o assustou, fazendo a pequena caixa cair no chão.

– Um presente, Keiji? – o mais velho perguntou com deboche.

– P-pai... Não é o que você está pensando! Eu não queria aceitar, e-eu juro! – a essa altura, lágrimas já desciam pelo rosto do garoto.

O pai de Keiji andou até ele e, com raiva, pisou na caixa que estava no chão, quebrando o que quer que estivesse lá dentro.

– Como você ousa comemorar este dia?! – berrou. – Você não merece! Você matou a sua mãe; foi por sua culpa que ela não está mais aqui! Eu te odeio... – essa última parte foi como uma facada no peito do pequeno garoto. Seu pai se abaixou até ficar na altura dele e o olhou nos fundos de seus olhos esverdeados. – Eu te odeio, Keiji, você foi a pior coisa que já me aconteceu.

...

– Keiji... Keiji... Keiji!! – Akaashi finalmente foi tirado de seus devaneios ao ouvir o som do alarme tocando, indicando o final da sessão com seu psiquiatra.

O moreno levantou o olhar na direção do médico à sua frente, encarando-o com a mesma apatia de sempre.

Semi Eita, um dos vários psiquiatras que tentavam ajudar Akaashi, suspirou fortemente, fechando seu caderno, vendo que, mais uma vez, a sessão havia sido frustrada, pois, assim como nas outras vezes, o moreno não disse uma palavra sequer.

– Olha, Keiji, eu não sei mais o que fazer... Já estamos há dois meses na mesma forma, e eu sequer tive a oportunidade de ouvir sua voz. Desse jeito, não vai ter como te ajudar. – sua voz era calma, ou pelo menos ele estava tentando parecer assim. Semi não era de desistir de um paciente, mas ele já estava completamente sem saída.

O moreno continuou quieto, apenas olhando para o homem à sua frente. Depois, abaixou seu olhar para o relógio e se levantou, indo em direção à saída da sala e voltando para seu quarto.

Semi suspirou pela milésima vez, coçando a nuca, mais frustrado do que nunca.

– Realmente não dá para ajudar alguém que não quer ajuda... – murmurou consigo mesmo.

[...]

Já haviam se passado duas semanas, e Akaashi continuava acordando em um quarto com paredes brancas, tão brancas que pareciam refletir sua própria ausência. O cheiro de desinfetante se misturava ao ar estagnado, criando uma atmosfera opressiva que o envolvia como um manto.

Depois de sua última sessão, Keiji não foi mais chamado para ir de encontro a Semi, já que este disse que não ficaria mais responsável pelo rapaz.

Não era como se não quisesse falar; ele até queria, mas as palavras simplesmente ficavam presas na sua garganta, fazendo-o ter ânsia de vômito toda vez que tentava pronunciar qualquer palavra referente aos seus traumas.

Ora, Akaashi sabia que deveria falar, por mais que pensasse que fosse um caso sem solução. Mas ele achava os médicos impacientes com seu silêncio e estranhava o julgamento deles ao olharem para seus pulsos com cicatrizes grossas. Eles não deveriam julgar, e sim acolher.

Era isso. Akaashi não se sentia acolhido o suficiente para falar.

Sua mente, vez ou outra, o colocava como vilão da história, alegando que ele não tinha o direito de se livrar de seus demônios.

– Ei, ei, ei! – a porta do quarto se abriu, atraindo a atenção de Akaashi para a mesma. Um rapaz, não muito mais velho que ele, com os cabelos platinados e pretos, entrou na sala. Havia um grande e encantador sorriso em seu rosto.

Ele observou com curiosidade, se perguntando se era só mais um dos vários pacientes que passavam por seu quarto aleatoriamente. O rapaz tinha uma presença vibrante, um brilho nos olhos que contrastava com a monotonia do ambiente. Ele não se apresentou da maneira usual. Não havia um aperto de mão firme ou uma introdução protocolar; em vez disso, ele se acomodou em uma cadeira ao lado de Akaashi, sua postura relaxada desafiando a rigidez do espaço.

– Oi, sou o Bokuto. Posso ficar aqui com você por um tempo? – A voz dele era quente, como um sol tímido atravessando nuvens pesadas. Akaashi virou a cabeça lentamente, seus olhos encontrando o olhar do novo psiquiatra. Uma parte dele desejava responder, mas a outra se encolheu, temendo a fragilidade que isso poderia trazer.

Bokuto não parecia se importar. Ele simplesmente ficou ali, quieto, respeitando o silêncio que cercava Akaashi. Os minutos passaram e, para a surpresa de Akaashi, a presença dele não era opressiva. Era quase reconfortante, como um farol em meio à escuridão.

– Eu entendo que você não queira falar. Não precisa fazer isso agora, – continuou Bokuto depois de um tempo, olhando diretamente para ele, como se estivesse tentando ver além do véu de indiferença. – Leve o tempo que for necessário; eu não vou embora. Se você quiser, eu estou aqui. Podemos simplesmente... ficar juntos.

Ficar juntos... Foi a primeira vez em meses que alguém propôs ficar com Akaashi sem ser por obrigação ao trabalho. Ele sentia sinceridade em Bokuto apenas olhando em seus olhos.

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⏰ Última atualização: Oct 22 ⏰

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