o cavaleiro negro- o filho traidor

13 1 0
                                    

Após se despedir de Mei e Jun, Junlan deixou a cidade imperial com o coração repleto de expectativas, ansioso para descobrir o que o mundo além das muralhas lhe reservava. Ele era um jovem corajoso, forte e habilidoso nas artes marciais, mas, acima de tudo, tinha uma fome insaciável por liberdade e novos horizontes. Seu desejo de viver aventuras e se afastar da vida restritiva da corte imperial o guiava por trilhas desconhecidas, sem mapas ou garantias.
~^~
Junlan iniciou sua jornada viajando por aldeias remotas e terras inexploradas. Ao longo do caminho, ele se deparava com histórias e culturas que nunca havia imaginado. Em uma dessas aldeias, encontrou um grupo de mercenários liderado por uma mulher destemida chamada Yanmei, uma guerreira de renome que já havia lutado em batalhas memoráveis contra exércitos poderosos. Fascinado por sua liderança e pelas habilidades de combate de seus homens, Junlan decidiu se juntar ao grupo, em busca de aprimorar suas habilidades e conquistar seu próprio nome no mundo.
                                 ~~~~~
Os mercenários eram contratados para missões diversas, desde proteger caravanas em perigosas travessias até recuperar artefatos roubados de templos ancestrais. Junlan se destacou rapidamente no grupo, não apenas por sua destreza com a espada, mas também por seu senso de justiça, algo que o diferenciava dos mercenários habituais. Ele sempre preferia salvar vidas a tirar uma, uma qualidade que o colocou em situações desafiadoras, mas também trouxe respeito por parte de seus companheiros.

Enquanto enfrentava perigos e desafios, Junlan começava a se questionar sobre sua verdadeira missão. Embora gostasse da adrenalina das batalhas e da camaradagem dos mercenários, algo mais profundo o chamava. Em seus sonhos, ele via uma montanha sagrada, envolta em neblina, onde uma misteriosa voz o convocava. Acreditando que se tratava de um presságio, ele decidiu partir em busca dessa montanha e descobrir o que o destino lhe reservava.

Durante sua jornada, Junlan enfrentou inimigos poderosos, incluindo bandidos, guerreiros nômades e criaturas mitológicas. No entanto, a verdadeira batalha foi interna: o que ele realmente buscava? Era apenas aventura ou algo maior? Uma resposta sobre quem ele deveria ser no mundo?

Ao chegar à montanha sagrada, Junlan descobriu que o caminho não era apenas físico, mas espiritual. No topo, ele encontrou um templo antigo onde um mestre sábio o aguardava. O mestre lhe explicou que, para encontrar seu propósito, ele precisaria primeiro entender o equilíbrio entre a espada e o coração, entre o poder e a compaixão.

Junlan passou meses no templo, treinando seu corpo e sua mente. Ele aprendeu técnicas antigas de combate, mas também meditação e filosofia. Aos poucos, ele começou a compreender que sua jornada não era apenas sobre glória ou poder, mas sobre encontrar um equilíbrio interno e servir um propósito maior, talvez além de si mesmo.

Após esse tempo de reflexão e treinamento, Junlan desceu a montanha com uma nova perspectiva. Ele não era mais o jovem aventureiro em busca de fama, mas um homem que entendia que seu verdadeiro poder estava em proteger os mais fracos, em buscar a justiça e a paz, mesmo que isso significasse caminhar sozinho.

Agora, mais forte e sábio, Junlan seguia em frente, pronto para enfrentar o que quer que o destino colocasse em seu caminho, sabendo que sua jornada estava apenas começando.
Ao longo do tempo, como o caminho da compaixão nem sempre é linear, Junlan foi se afastando dos novos ensinamentos e acabou se envolvendo com mercenários que o contrataram para proteger uma caravana. No entanto logo ele descobriu que os mercenários estavam traficando pessoas.
O sentimento de traição, de ter sido usado para proteger algo tão vil, despertou nele uma fúria que já muito tempo ele tentava reprimir. Sem hesitar, Junlan massacrou os mercenários um por um numa explosão de raiva que ele já não conseguia controlar.
Foi nesse momento que ele percebeu que a paz e compaixão que ele buscava estava cada vez mais distante do que nunca.
Ele começou a se questionar se tentar viver como bom samaritano valia realmente a pena.
Com o tempo ele foi se afastando mais ainda da bondade e começou a aceitar missões cada vez mais sombrias trabalhando como assassino para lordes senhores que desejavam eliminar seus inimigos políticos.
Sei coração antes dividido entre a justiça e compaixão agora estava envolto em gelo.
Ele água sem remorso, eliminando seus alvos sem hesitação, acreditando que o mundo não merecia piedade.
Sua fama de guerreiro impiedoso cresceu mais ainda rapidamente.
Ele se tornou conhecido como um mercenário cruel, disposto a qualquer coisa por poder e sobrevivência.
As pessoas começaram a temê-lo mais ainda, e sua presença causava terror e desespero por onde passava. Para Junlan isso não era um problema, na verdade ele encontrou conforto no isolamento que sua crueldade lhe trazia. Ninguém ousava desafiá-lo, e o poder que ele possuía sobre a vida dos outros parecia lhe preencher, mesmo que apenas momentaneamente.
O homem que um dia sentiu empatia pelos outros por causa de uma mulher, agora obssecado pela ideia de que apenas os fortes sobrevivem novamente.
As batalhas que Junlan enfrentou após sua transformação em um guerreiro cruel e implacável deixaram marcas profundas não apenas em sua alma, mas também em seu corpo. Seu rosto, outrora lembrado pela nobreza e beleza, agora estava repleto de cicatrizes que testemunhavam os muitos confrontos violentos que ele havia travado. Essas cicatrizes, junto com a dureza que crescia em seu coração, fizeram de Junlan uma figura quase irreconhecível.

Em sua nova vida de escuridão, Junlan raramente se aproximava de pessoas que conheciam seu passado. As poucas vezes em que cruzava com alguém que fazia parte de sua vida anterior, a reação era sempre a mesma: ninguém conseguia reconhecê-lo como o Junlan Wang que um dia havia sido o filho orgulhoso do Imperador Tao. Agora, ele era apenas mais uma sombra, um guerreiro deformado pelas batalhas, vagando pelas terras como um fantasma do passado.

No entanto, havia algo ainda mais cruel em sua nova realidade: algumas poucas pessoas que, de fato, tinham olhares afiados e um certo instinto, conseguiam perceber que aquele homem destroçado não era qualquer mercenário, mas sim o outrora nobre Junlan Wang. Mas, ao contrário de reações de respeito ou reverência, o reconhecimento trazia olhares de desprezo ou medo. Para o império, Junlan era um traidor. O filho que abandonara sua família e seus deveres por motivos que poucos compreendiam.

As histórias sobre Junlan Wang, o "filho traidor do Imperador Tao", haviam se espalhado pelo império como fogo em palha. Ele era lembrado como o filho que planejou o roubo do trono contra o próprio pai, para a honra e para a dinastia. Muitos o julgavam por isso, sem conhecer os conflitos internos que o haviam levado a abandonar sua vida anterior. Agora, aqueles que percebiam sua verdadeira identidade não o viam como um herói, mas como uma desgraça. E isso só alimentava ainda mais o frio em seu coração.

Certa vez, ao chegar a uma cidade onde seu nome ainda era falado, Junlan encontrou um grupo de soldados imperiais. Ao olharem para ele, alguns sentiram um pressentimento estranho, mas ninguém ousou confrontá-lo diretamente. Foi apenas um ancião na cidade, alguém que havia servido ao imperador Tao nos tempos antigos, que o reconheceu completamente.

"Junlan Wang," sussurrou o velho, seus olhos arregalados de choque e medo. "Você ainda vive?"

Junlan, encarando o homem, não respondeu de imediato. Havia algo nos olhos do ancião que o perturbava. Não era apenas medo, mas também uma tristeza profunda, como se o homem estivesse lamentando o que Junlan havia se tornado. Naquele momento, por um breve instante, Junlan sentiu uma pontada de nostalgia e culpa. Mas ele rapidamente apagou esses sentimentos.

"Junlan Wang morreu há muito tempo," disse ele, sua voz tão fria quanto o aço de sua espada. "O que resta é apenas um homem que busca sobreviver."

O ancião abaixou a cabeça, como se tivesse visto um fantasma e estivesse de luto por alguém que não poderia ser salvo. Junlan, por sua vez, virou-se e partiu sem olhar para trás.

A cada dia, Junlan se afastava mais da sua antiga identidade. As cicatrizes em seu corpo, a armadura que ele vestia, e a escuridão que carregava em sua alma o protegiam de qualquer tentativa de retorno à pessoa que ele fora. Mesmo que algumas poucas almas pudessem reconhecê-lo, o Junlan Wang que elas conheciam estava morto — e em seu lugar havia apenas um guerreiro cruel, forjado pela dor, traição e batalhas incessantes.

O cavaleiro negro- Chinês Onde histórias criam vida. Descubra agora