O amanhecer chegou devagar, tingindo o céu de um cinza pálido que parecia refletir a atmosfera dentro do hospital. Faye não havia dormido um segundo. Seus olhos, pesados de tanto chorar, estavam fixos em Yoko, que permanecia imóvel na cama. O silêncio da noite anterior havia dado lugar a um tipo diferente de medo — um que vinha com a espera. A vida de Yoko e das gêmeas estava nas mãos dos médicos, e tudo o que Faye podia fazer era esperar.
A porta do quarto se abriu com um leve rangido, e Faye olhou para cima, esperando ver o médico. Porém, era Wanda. O alívio momentâneo foi substituído por uma mistura de surpresa e confusão.
— Faye... eu vim assim que soube — Wanda disse, sua voz baixa, como se temesse quebrar o frágil equilíbrio do ambiente. Ela se aproximou devagar, colocando a mão no ombro de Faye, que se mantinha rígida.
— Como soube? — Faye perguntou, sua voz rouca de tanto chorar.
— Já está nas redes sociais sobre o acidente e reconheci a Yoko ... — Wanda respondeu, puxando uma cadeira para sentar ao lado de Faye. — Como ela está?
Faye balançou a cabeça, sem forças para responder de imediato. Seus lábios tremeram, e ela engoliu em seco antes de conseguir falar.
— Estável... mas as gêmeas... — Faye mordeu o lábio, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam voltar. — Elas estão em risco, Wanda. Eu... não sei o que fazer.
Wanda respirou fundo, segurando a mão de Faye.
— Você fez tudo o que podia, Faye. Agora, tudo está nas mãos dos médicos e... — ela hesitou, sabendo que as palavras de conforto soariam vazias. — Precisamos ser fortes por Yoko e pelas meninas.
O silêncio voltou a preencher o espaço entre elas, enquanto Faye olhava para Yoko, desejando mais do que tudo que ela acordasse, que sorrisse para ela, como sempre fazia. Mas Yoko parecia tão distante, tão frágil. A imagem dela deitada ali, em um estado tão vulnerável, era insuportável para Faye.
O tempo se arrastava, cada minuto se estendendo como uma eternidade. Faye mal notou o passar das horas até que o médico entrou novamente no quarto. O rosto dele estava sério, e Faye se levantou imediatamente, o coração acelerado.
— Como elas estão? — Faye perguntou, sua voz carregada de esperança e medo.
O médico suspirou antes de falar.
— Yoko está estável, mas... as gêmeas ainda estão em risco. Conseguimos conter o sangramento, mas há chances de complicações futuras. Precisamos manter Yoko em repouso absoluto, e nas próximas 48 horas serão críticas para a saúde das bebês.
Faye sentiu um aperto no peito, como se o peso do mundo estivesse sobre seus ombros.
— E quanto a Yoko? Ela vai acordar? — Faye perguntou, a voz falhando.
— Yoko está reagindo bem. Ela deve despertar em breve, mas será um processo lento. Quando ela acordar, vamos precisar explicar o que está acontecendo, com muito cuidado.
Faye assentiu, mal conseguindo processar as informações. Tudo parecia surreal, como se estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar.
— Posso ficar com ela? — Faye perguntou, a voz vacilante.
— Claro — respondeu o médico. — Mas lembre-se, ela precisa de repouso total. Evite qualquer estresse.
Faye não conseguia evitar o sentimento esmagador de desespero. Ela voltou para o lado de Yoko, pegando a mão dela novamente. O silêncio voltou ao quarto quando o médico saiu, deixando as duas sozinhas novamente.
Wanda se levantou, tentando não parecer um intruso naquele momento tão íntimo.
— Faye, se precisar de alguma coisa... qualquer coisa, me avisa, tá? — Wanda ofereceu, mas Faye não conseguia sequer levantar os olhos. Tudo o que ela queria era que Yoko acordasse, que as gêmeas ficassem seguras.
— Obrigada, Wanda... mas eu só... só quero que elas fiquem bem — Faye sussurrou, sua voz falhando no final.
Wanda deu um pequeno aceno de cabeça e saiu do quarto silenciosamente, deixando Faye sozinha com seus pensamentos e medos.
O tempo parecia se arrastar, e a espera era insuportável. Cada segundo sem Yoko acordar, sem notícias das gêmeas, parecia mais uma tortura.
De repente, a mão de Yoko se mexeu levemente. Faye arregalou os olhos, seu coração disparando. Ela apertou a mão de Yoko de volta, sentindo um pingo de esperança crescer dentro dela.
— Yoko...? — Faye chamou suavemente, quase temendo falar mais alto.
Yoko gemeu baixinho, as pálpebras piscando, tentando se abrir.
— Faye...? — a voz de Yoko saiu fraca, mal audível, mas para Faye, era a melhor coisa que já havia ouvido.
Faye sorriu, uma mistura de lágrimas e alívio tomando conta dela. Ela se inclinou para mais perto de Yoko, segurando o rosto dela com cuidado.
— Estou aqui... — Faye sussurrou, suas lágrimas caindo. — Estou aqui, amor.
Yoko abriu os olhos lentamente, tentando focar em Faye. Seu olhar estava confuso, a dor e o cansaço visíveis em cada linha de seu rosto.
— As meninas...? — Yoko perguntou, a voz trêmula, cheia de preocupação.
Faye engoliu em seco, tentando manter a calma.
— Elas estão lutando, Yoko. Assim como você. Mas elas vão ficar bem, ok? — Faye disse, segurando as lágrimas que queriam voltar. — Precisamos ser fortes por elas.
Yoko assentiu levemente, sua mão segurando a de Faye com mais força.
— Eu... eu tentei... — Yoko começou a falar, mas sua voz falhou, e ela fechou os olhos, como se estivesse se culpando.
— Shhh, não fala nada agora — Faye disse suavemente. — Você vai ficar bem, e nossas meninas também. Eu prometo.
Yoko fechou os olhos novamente, exausta, mas agora, com Faye ao seu lado, ela parecia um pouco mais tranquila.
Faye permaneceu ali, segurando a mão de Yoko, enquanto uma mistura de alívio e medo se debatia dentro dela. As próximas horas seriam cruciais, mas pelo menos, por um momento, Yoko estava ali com ela.
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Entre Cores e Silêncios
FanfictionFaye, uma artista abstrata de poucas palavras, contrata Yoko, uma jovem tímida e desastrada. Com o tempo, Yoko começa a se comportar de maneira estranha, tornando-se mais introspectiva e distante. Faye, intrigada, percebe que há algo perturbador na...