Mariposas

Likes y cicatrices

Enquanto estava na entrada da fábrica da Aston Martin, Charlie Whitlam não conseguia se livrar da estranha sensação que sentia — era quase como se fosse seu primeiro dia ali. Ela flexionou os dedos, as mãos enfiadas nos bolsos do casaco preto, tentando se aquecer na brisa de janeiro que passava pelo vestíbulo do prédio. Mordendo o lábio nervosamente, ela tentava dizer a si mesma que não havia motivo para estar tão nervosa — já fazia três anos que estava na equipe, era apenas mais um dia no escritório.

Mas ela estava, principalmente por causa do homem ao seu lado, que digitava algo rapidamente no celular antes de colocá-lo no bolso do casaco verde.

— Eles tão vindo — disse Jimmy, enquanto pegava a câmera pendurada no pescoço — Você lembra o que precisa fazer, certo?

— Cumprimentar o Fernando e caminhar pelo corredor ao lado dele, certo? — Charlie respondeu de forma apática, com os olhos grudados na porta de entrada da fábrica.

— Bem, sim, mas tenta parecer natural. As pessoas vão perceber se ficar muito ensaiado, sabe?

— Eu vou cumprimentar ele do jeito que sempre faço.

— Beijando ele na boca? — Jimmy disse, fazendo-a rir.

Depois das duas semanas que passou em Oviedo com Fernando, Charlie voltou para a fábrica apenas para descobrir que o relacionamento deles tinha se tornado o assunto principal do local de trabalho. Artigos em tabloides e blogs de notícias relacionados à Fórmula 1 sobre ela e Fernando, assim como a foto que ele postou dela no Instagram, estavam nas telas de quase todos os computadores e smartphones no Technology Center

Quando voltou ao trabalho após o feriado de Natal, ela notou que seus colegas a tratavam de forma marcadamente diferente, especialmente quando falavam com ela individualmente, quase como se estivessem tentando evitar perguntar sobre o relacionamento dela com Fernando.

Era irritante, para dizer o mínimo.

— O que foi, você realmente acha que eu beijaria um piloto na boca?

— Você já faz isso, não faz? — Jimmy retrucou, erguendo uma sobrancelha.

— Quero dizer, claro, mas não em um vídeo de RP.

— Não seria tão estranho assim. Todos nós já sabíamos.

Charlie lançou um olhar fulminante para o diretor de arte da equipe.

— O que você quer dizer com 'todos nós já sabíamos'?

O homem sorriu.

— Ok, pelo menos o departamento de marketing sabia.

— Como vocês sabiam?

— Porque vimos todas as fotos que tirei de vocês dois no ano passado. Na verdade, guardei algumas ótimas pra um TikTok...

— Você não vai transformar meu relacionamento em material pro TikTok, ou o que quer que seja — Charlie disse, secamente — Eu tô aqui pra vencer corridas, não pra ser assunto duma história de romance esportivo... Eu não sou uma idiota apaixonada.

— Desculpe, só vejo o que a câmera vê, Charlie — ele disse, fazendo com que ela o fuzilasse com os olhos — E não adianta me olhar assim, é verdade! Vocês dois parecem dois idiotas apaixonados...

Charlie apertou a mandíbula e voltou sua atenção para a porta, sentindo-se um pouco desconfortável. Não era como se ela não estivesse apaixonada por Fernando — muito pelo contrário — mas a maneira como seus colegas de trabalho a viam agora a incomodava. Era como se a pessoa que ela era — a profissional, a engenheira — antes de seu relacionamento com Fernando se tornar público tivesse sido apagada, restando apenas a "namorada de Fernando Alonso".