cap 1.

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Something bad is 'bout to happen to me
I don't know what, but I feel it coming

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JÚPITER

Bem, eu tenho sorte de estar vivo.

Sério. Não tô brincando.

Quando se nasce um jovem preto no Brasil sua expectativa de vida é de 68 anos. Quando se nasce abençoado, ou amaldiçoado, com o dom da magia sendo um jovem preto no Brasil, sua expectativa cai bastante. Tipo, muito mesmo.

A taxa de natalidade dos bruxos nessa dimensão tem caído bastante, sabia? Desde a Inquisição e de Salém, obviamente. Mas de uns tempos pra cá, parece que o mundo da magia encontrou seu desequilíbrio total.

Hoje em dia, qualquer bruxa ou ser mistico tem sua história de como foi atacado ainda no berço por alguma entidade psicótica - quando eu tinha 4 anos, tive o prazer de conhecer a Pisadeira, pra minha sorte meu pai ainda não havia vendido o calibre 12 com suas balas encantadas - ou então alguma tentativa de sequestro. E o pior: purificadores.

É assim que chamamos humanos comuns com síndrome de inquisidores. Deixa eu explicar: os humanos comuns não conseguem perceber a magia, graças ao Véu, uma membrana encantada que encobre todo planeta Terra. Mas alguns nascem com a visão mais aguçada, isso não é magia, é puro acaso. Os purificadores são os que podem ver tudo que o Véu esconde, mas preferem nos caçar.

São raros. Tão escondidos quanto nós, feiticeiros. Ainda não tive o prazer de encontrar um.

Hoje é uma sexta-feira 13, o dia do meu aniversário. Muito conveniente pra um bruxo, não é? E sim, eu sou mais azarado que o normal. Mamãe já tentou quebrar a maldição, mas sem sucesso até agora.

–– Esse é um aniversário mais especial que os outros – disse minha mãe, enquanto fazia café – você sabe, não é?

–– Achei que o mais especial era o de 16 anos – digo – tipo, porque a magia desperta totalmente com essa idade e tal.

–– O de 17 é melhor – afirmou ela, reflexiva – Júpiter, seus dons despertaram e você sobreviveu pra contar a história.

Eu sobrevivi.

Não tô brincando quando eu digo que a coisa tá feia.
Todo aniversário, Cecília tem a mesma conversa comigo. A respeito da sobrevivência, de lutar pela própria vida. Todo aniversário, desde que meu pai morreu.

Ele sim era um feiticeiro formidável. Ainda não descobrimos o quê ou quem matou ele, e sinceramente, acho melhor assim.

–– Júpiter, filho... – seu tom ficou vacilante – eu não vou conseguir fazer nada pra você, eu tô de plantão hoje e...

–– Tudo bem, eu entendo – interrompo, a rotina agitada da minha mãe não era novidade.

Ela desliga o fogão e começa a coar o café. O cheiro exala pela cozinha toda.

–– Tenho tempo pra um almoço  – sugeriu ela – eu faço aquele arroz de forno que você tanto gosta.

Salivei só de ouvir falar. Minhas memórias afetivas com minha mãe são basicamente comida.

Depois de tomar café, escovei meus dentes e me arrumei de forma básica. Escovei os dentes e avisei que iria na cartomante.

A sorte de quem nasce na sexta-feira 13 é imprevisível. Preciso me garantir, sabe-se lá qual sacanagem o destino reservou dessa vez.

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⏰ Última atualização: Oct 25 ⏰

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