O começo

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Um ótimo dia para eu continuar deitada na cama e ignorar todas as minhas responsabilidades. Eu amo meu trabalho e amo morar na praia, só que eu definitivamente odeio o calor do verão, minha pele é branca de mais para o sol então eu não fico bronzeada eu fico é queimada.
Hoje é um daqueles dias que eu me recuso a levantar cedo e ir para academia, meu quarto está escuro eu finamente comprei uma cortina escura o suficiente já a cama eu continuo evitando comprar, durmo com os dois colchões no chão, foi uma opção minha eu achei desnecessário comprar uma. Tenho um guarda roupa aonde minhas roupas e livros ficam guardados, minhas malas ficam em um quanto do quarto. Em algum momento eu achei divertido colar meus desenhos em cima da escrivaninha, era uma época bonita quando eu achava que sabia desenhar, os que eu guardei foram os mais bonitos e eu nem os considero como tal. A parede que fica atras dos colchões eu dei uma inovada diferente, eu tinha um livro da década de oitenta de todas as bandas da época, então eu recortei e colei cada um deles na parede de Guns a acdc, eu abandonei meu lado roqueira a um bom tempo, mas ainda gostava de algumas bandas.  E esse era o lugar que eu passava a maior parte do tempo trancada do meu quarto fugindo da minha colega de apartamento.
Não me julguem, eu não sou a pessoa mais sociável do mundo, eu sou quando tenho animo e quero fazer as coisas. O problema é que ela sempre quer conversar, sempre quer sair e fazer alguma coisas. Na maioria das vezes eu me obrigo a sair da cama e ir, vou em festas ou em baladas só por ela ficar me incomodando, eu acabo cedendo o que é uma grande porcaria, poucas vezes eu realmente me divirto ou eu encho a cara até meu cérebro desligar de vez e o desconforto sumir de vez.
O pior é que esse é um dia desses, um que eu acordo com ressaca por ter bebido de mais no dia de ontem e para piorar eu preciso levantar dessa cama e ir trabalhar. Na maioria das vezes eu trabalho no horário noturno, mas a temporada está chegando o que faz com que o camelódromo esteja cheio, e decidiram que era melhor eu trabalhar no período da manhã já que eu tinha entrado para a equipe a pouco tempo.
Rolo pra fora da cama, me arrastando até o banheiro que dividimos, toda vez que eu entro nesse banheiro preciso trancar a porta do quarto dela e do meu. Já que o banheiro tem duas portas uma pra cada quarto, é um banheiro normal não tem muito o que descrever, box de vidro e um espelho na pia que é razoavelmente grande, minhas coisas ficam de um lado e a dela de outro lado. Impossível ir trabalhar sem me enfiar de baixo da agua gelada, droga minha cabeça arde, porcaria de ressaca. É exatamente o que faço a agua gelada passa pelo meu corpo me acordando, meu estômago embrulha e eu continuo ali. Lavo meu cabelo e meu corpo enquanto ele odeia a sensação da agua gelada. Quem foi que me mandou beber até esquecer a porra do meu nome justo quando no outro dia eu preciso trabalhar. Quando saio do chuveiro me secando paro em frente ao espelho, minhas tatuagens no colo do peito e na clavícula são novas, eu Ainda preciso cuidar da cicatrização, uma arranha no peito, um símbolo pagão e a frase mais cliche já vista "love your self firts". Eu sou uma grande hipocrita quanto o significado das minhas tatuagens, eu não signo nenhum deles, acho que já entendi que as vinte tatuagens no meu corpo podem até ter significado, mas no fim do dia são só desenhos na pele de uma artista.
Meu rosto está acabado a cara da ressaca é nítida em minha olheiras, meus olhos castanhos refletem todo o cansaço, meu cabelo é castanho escuro com as pontas e a mecha da frente rosa. Tudo que eu poder mudar em mim eu faço, tudo que eu posso fazer para esconder a pessoa que eu sou por trás de uma mascara de merda eu faço. Mas eu realmente gosto do meu cabelo rosa, gosto das ondas que meu cabelo tem e do comprimento longo. Eu trabalho em uma loja de cosméticos, vendo produtos de maquiagem, perfumaria e todas as essas coisas que envolvem vaidade. E como agora são oito e quarenta e cinco o que significa que estou atrasada, decido fazer maquiagem com os produtos na própria loja. Eu geralmente faço em casa, até por que sair com o rosto nesse estado acabado não é algo que eu goste muito. Saio do banheiro pegando o primeiro shorts jeans que vejo e a camisa do uniforme, coloco meu all star e saio de casa. Moro a cinco quadras do trabalho então consigo chegar lá antes das nove.
E é exatamente o que acontece, chego as oito e cinquenta e cinco, o Gabriel já tinha aberto a loja essa hora o camelo está vazio apenas quem trabalhava estava lá. Encontro Denise na calçada do camelo fumando seu cigarro e me junto a ela acendendo o meu. Hoje o dia promete me estressar tudo pela idiotice de encher a cara ontem.
- Fumar para aguentar o dia de hoje? - digo tragando o cigarro.
-  É só pelo vicio mesmo, você sabe disso. - Denise  sempre foi um anjo na minha vida
Ela é vó de uma menina e um menino, seus cabelos são claros e com luzes, por mais velha que ela seja não aparenta a idade que tem. Des de que me mudei e comecei a trabalhar aqui eu acabei criando um vinculo com ela eu até brinco que ela é minha vó.
- Sabe deixa eu justificar motivo do por que estou matando meu pulmão. - digo rindo
A loja de Denise fica na frente da minha, as duas são de esquina, uma virada para a outra ela vende bebidas de todos os tipos e importadas. A gente precisa lembrar que eu estou falando do Camelódromo de Balneário Camboriú ou seja muita coisa sem nota fiscal. A fiscalização bate as vezes aqui, e quando acontece algumas bancas tem um bom problema para lidar. Nunca tivemos esse problema, mas sempre precavemos.
Vejo Vitor chegando para abrir a loja na qual ele trabalha, que fica ao lado da de Denise. Eles vendem coisas eletrônicas, ou que sigam esse pensamento como capinhas de celular, películas e tals. Ele não está sozinho dessa vez, Vitor é alto  e magro sua pele preta tem um bom contraste com a luz do sol e com a cor de seu olhos negros, seu cabelo hoje está cheio de trancinhas. Não sei quem é o garoto ao lado dele e eu tenho uma visão péssima. Mas seus cabelos são raspados e sua pele tem um tom bronzeado e coberta por tatuagens, não consigo ver a cor dos seus olhos por trás do óculos de grau, eu dou um leve sorriso por que a armação é a mesma do Harry Potter. Diferente do Vitor que usa uma bermuda clara e uma camiseta preta, ele está completamente de preto, tanto a calça canto a camiseta.
Termino meu cigarro e entro na banca aonde trabalho, Gabriel está arrumando a loja, é dever dele passar pano e o meu é rir da cara dele. Gabriel é meio que irmão do dono da banca e ele trabalha mais no estoque do que na loja vendendo, mas sempre abre a loja e fica aqui comigo a manhã inteira. Ele tem dezoito anos enquanto eu tenho vinte e um.
-Sua cara está pessima, perdeu a batalha foi? - Diz em tom de deboche
- Infelizmente fui era uma guerra de armas e eu estava com uma espada. Amanda como sempre. - Digo pegando a base e a esponjinha, tem um espelho no meio da bancada de maquiagem. - E como sempre eu bebi mais do que deveria.
- Já pensou em dizer que não quer sair?
- Como se ela desse ouvidos, é sair com ela ou ficar a semana inteira ouvindo como foi maravilhoso e como eu deveria ir. Me alcança o pincel de contorno?
Gabi me entrega o pincel rindo da minha cara, ele sabe como é insuportável minha relação com ela, não que Amanda seja insuportável, ela não é, nós só somos completamente diferentes. Ela é bagunceira e não lava uma louça, juro ela deixa pratos jogados pela casa e embalagem de comida. Eu tenho que limpar tudo por ter mania de limpeza, ela ama conversar e falar da vida dela, sua voz nunca é em um tom baixo. Eu vou poupar vocês de qualquer dialogo que podemos ter, a única coisa que temos em comum são os livros, ambas amamos livros e bem ambas são atrizes. Amanda faz faculdade de produção audiovisual que é o que eu vou começar no próximo ano, porem ela odeia e mais falta as aulas do que vai. Mais uma diferença a mãe dela paga tudo que ela tem e eu preciso trabalhar para continuar aqui.
Termino minha maquiagem tendo certeza que seja impossível notar que eu dormi no máximos três horas e que enchi a cara. Meu estômago grita por comida ou café, bem vindos a mais um vicio cafeina, talvez a dor de cabeça passe se eu tomar café ou provavelmente meu estômago jogue tudo para fora de uma vez e bem não tem nada no meu estômago a pelo menos vinte e quatro horas.
- Vou pegar café, quer um?
- E seu estômago aguenta? Da ultima vez eu jurava que você ia vomitar no balde. - ele diz e eu faço uma careta em resposta. - Sim e com leite por favor.
As vezes eu pago o café, as vezes ele, tem uma barraquinha de café aqui o copo é dois reais, eu e o Gabi normalmente não comemos antes de vir trabalhar então o café ajuda a fazer o dia ir para frente. Antes de seguir o caminho para pegar o café passo na banca do Vitor ver se ele quer café.
- Vai pagar? - Ele diz quando pergunto.
- Só dessa vez não se acostuma. - Digo rindo, meus olhos passam de raspão no outro garoto que está arrumando alguma coisa.
Ainda não consigo ver a cor de seus olhos, ele não me olha. E eu sou tímida de mais para falar com ele. Ta bom eu não sou, mas eu não vou mandar um "Beatriz prazer" então só ignoro.
- O que aconteceu com o Tiago? O Aladim finalmente deu um basta e demitiu ele? - digo para Vitor e sinto minha cabeça arder
- Não, ele ficou responsável pela banca do outro corredor.
- Que infelicidade. - resmungo
- Vai gospir no prato que comeu? - ele diz rindo e o garoto ao lado dele me encara e eu mesmo assim não vejo a cor de seus olhos.
- Quantas vezes forem necessárias, prefiro conversar com o capeta ao lembrar disso. Café puro ou com leite?
- Com leite por favor.
- Vocês e o leite no café coisa horrível. - Digo rindo e saindo.
Traço meu caminho até a banca de café que fica perto dos banheiros, mas decido passar na padaria pegar um pão de queijo, minha comida favorita. Sei que o Gabi vai querer um então pego dois. Como caralhos eu vou carregar três cafés e dois pão de queijo. É não pensei nisso, assim como não pensei que café puro vai foder meu estômago. Eu tenho gastrite e eu bebi para um caralho ontem. Então opto por pegar uma jarra de café com leite. Compensava mais pegar a jarra cada copo custa dois reias e a térmica oito, Dani está trabalhando então eu pego a térmica e mais alguns copos para ficar de sobra se mais alguém quiser. Traço o caminho para minha banca de volta, o camelódromo não é nada mais nada menos do que um monte de bancas com tudo que é tipo de coisa sendo vendidas. Paro na banca do Vitor primeiro.
- Peguei uma térmica, tinha mais lógica, então se quiser mais é só pedir. - encho o copo dele e deixo em cima da bancada aonde ele está sentado anotando alguma coisa.
- Achei que café com leite era horrível. - ele diz tomando um gole.
- E é, mas meu estômago vai cometer suicídio se eu tomar café puro. Alcool e café juntos é uma bomba
- Sextou pra você ontem então?
- Para minha infelicidade, sim.
-Alguém já te ensinou a dizer " não to afim."
- Eu sei falar não, mas tenta dizer não pra pessoa que paga sua bebida. E que não aceita um não como resposta.
- Pelo menos ela paga a bebida.
- Eu seria grata se não pagasse e me deixasse fingir que o mundo não existe pelo menos uma sexta feira.- Digo com deboche e minha cabeça arde de novo. - Tem remédio de dor de cabeça ai?
- Pior que acabou com o Tiago de ressaca ontem.
- Já disse que odeio o Tiago? - Digo me retirando da loja.
- Todos os dias. - Vitor diz rindo e eu volto para minha banca.
Gabriel já terminou de limpar e organizar a loja, os clientes geralmente começam a aparecee perto das dez e ainda é nove e meia então, ficamos conversando sobre coisas da vida. Gabi foi o primeiro a me apresentar a cidade, saimos uma vez eu ele a namorada dele e um amigo. O desgraçado me jogou para o amigo dele e bem eu até sai com ele uma vez, mas ele era bom de mais para minha pessoa, era o tipo de cara que você namora e trata bem. E bem eu fujo de relacionamento e de homens com o coração bom, porque eu provavelmente vou quebrar eles. Prefiro os caras que não prestam aqueles que vão me fazer ama-los e me destruir. Por algum motivo isso me aparece divertido e seria estranho, mas o garoto novo da banca do Aladim me parece um deles. Seria idiota traçar uma linha e conseguir o que quero?
Mesmo que no momento eu só queira saber a cor dos olhos dele?

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